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Especialistas aconselham Governo a não avançar no desconfinamento

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Mário Cruz / Lusa

Manuel Carmo Gomes, o epidemiologista que deixou de participar nas reuniões no Infarmed, aconselhou o Governo a não avançar para a terceira fase de desconfinamento. E não é o único a defender a suspensão.

De acordo com o Observador, a recomendação do especialista foi transmitida às ministras da Saúde e da Presidência e está relacionada com o crescimento do R(t) – que já está acima de 1 – e do aumento da incidência.

“Das duas, uma: ou seguimos o caminho da prudência e o caminho que mostra que aprendemos as lições do passado ou prosseguimos dogmaticamente o calendário do desconfinamento como se estivesse tudo normal”, disse Manuel Carmo Gomes, em declarações ao jornal i.

Em fevereiro, o epidemiologista, que tem sido um dos mais críticos da atuação do Governo, deixou de participar nas reuniões no Infarmed por motivos profissionais, rejeitando que a saída estivesse relacionada com o seu desacordo com o Executivo.

Raquel Duarte, pneumologista e autora do projeto de desconfinamento pedido pelo Governo, também defendeu, em declarações ao Diário de Notícias, que “seria prudente esperar mais uma semana para ter a fotografia total da realidade no país, já com o impacto do desconfinamento na Páscoa e com a reabertura de alguns setores no dia 5 de abril, para se tomar depois uma decisão sobre o que fazer”.

Apesar de a situação estar controlada, o R(t) encontra-se acima de 1 e a incidência aumenta todas as semanas, pelo que Portugal vive agora em “alerta”.

“Defendemos que mais do que datar ou que definir datas, o importante é olhar para os dados e avaliá-los para se tomar decisões”, referiu Raquel Duarte.

Óscar Felgueiras, que trabalhou ao lado de Raquel Duarte no plano de desconfinamento, concorda com a pneumologista.

Também em declarações ao jornal i, o matemático invocou o princípio da prudência para defender que se aguarde, pelo menos, uma semana para avaliar se se avança ou não para a terceira fase de abertura.

Esta terça-feira, ao DN, Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências (FCL) da Universidade de Lisboa, defendeu que o valor do R(t) continua a aumentar a um ritmo “significativo e preocupante” e que “as cautelas têm de ser tomadas agora”.

O especialista considerou que, neste momento, devem ser ponderados três cenários: “se se suspende a terceira fase do desconfinamento por uma ou duas semanas, se se abre todas as atividades ou não, e até se se deve regredir nalgumas áreas que abriram.”

Liliana Malainho, ZAP //

7 Comments

    • Seria interessante saber se estes ” especialistas ” manteriam a mesma opinião se lhes retirassem, digamos, 50% do seu salário para serem solidários com aqueles que não podem trabalhar e não podem ganhar a vida. Tenho a sensação que de um momento para o outro todos seriam a favor do desconfinamento, e o mais depressa possivel.
      País de hipócritas.
      Como escrevia o Alberto : ” Pimenta no c* dos outros é refresco”.

  1. Há muita coisa em risco, incluindo a saúde. Tem sido uma situação difícil para todos e como é óbvio, mais para uns do que para outros. Mas há a necessidade de sofrermos um mal (neste caso, menor) para um bem maior, todos juntos, como povo unido. Eu concordo que devíamos esperar pelo menos mais uma semana e sermos pacientes, ver os resultados do “confinamento” da Páscoa, entre outros, do que depois termos de voltar dois ou três passos atrás, com a pressa de não querer meter o salário em risco. Pois então aí estará o salário, a saúde e sabe-se lá mais o quê.

    • Temos muitos dados e estatísticas. Não podemos olhar só para o Rt, as UCI continuam a contrariar o Rt e estão estáveis ao invés de acompanhar a tendência de subida como o ano passado.
      Os óbitos também não estão a acompanhar o Rt.

      A leitura óbvia é que a vacina está a fazer o seu trabalho e que a classe etária acima dos 70 que agora tem a primeira dose já administrada, está protegida.
      Agora há que seguir a vacinação a toda a força, mas os que se estão a contagiar estão claramente com risco inferior.

      O objetivo do confinamento era proteger o SNS e não acabar com o vírus (isso seria estupidez), se o SNS não apresenta um risco, aliás está melhor que à 2 semanas e que a semana passada com menos camas ocupadas, o confinamento deixa de fazer sentido, parar o desconfinamento só pelo o Rt é puramente política.

      Não podemos olhar só para o Rt…

      Camas ocupadas na UCI
      Hoje – 116
      Ontem – 118
      Dia 8 – 122
      Dia 1 – 129

      • Você sabe muito bem que a DGS divulga dados mais baixos todos os dias, para o Governo poder abrir tudo e mais alguma coisa. Mas, na verdade, não estamos assim tão bem e, caso não saiba, o AUMENTO DA TRANSMISSIBILIDADE não vai estagnar no valor atual, pelo que esta euforia desmedida por causa do desconfinamento tem de ser controlada, para evitarmos uma quarta vaga, que está quase aí.

      • A senhora é perita em virologia e pandemias? Duvido muito!
        Mas deve ser perita em layoffs, sem duvida!

      • Sim, os únicos números que são correctos são os que lhe interessa, quando não servem para a narrativa, a DGS não os reporta correctamente.

        Com toda a sinceridade, estou-me a borrifar para os Aumento da transmissibilidade, esse nunca foi o problema.
        O importante é o numero de camas ocupadas em UCI e o numero de óbitos, afinal estamos a tentar salvar vidas e o SNS, não a criar condições para que se possa estar a receber subsídios para ficar em casa.

        Até ao fevereiro a transmissibilidade andava de mãos dadas com as UCI e os óbitos, com a vacinação aos lares e idosos essa relação mudou.

        Hoje por exemplo, tivemos 2 óbitos e menos 7 camas ocupadas na UCI que esta agora com 109 camas. enquanto este numero esteja em contraponto com o Rt, eu estou-me nas tintas para o Rt, alias deveria ate aumentar para que mais rapidamente possa criar a tal imunidade de grupo, sempre e quando consigamos ter o SNS sobre controlo.

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