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Espanha destaca o “milagre económico de Portugal” (e avança três razões)

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António Cotrim / EPA

Portugal volta a surpreender os economistas, diz-se em Espanha, onde o El Economista destaca “o novo milagre económico” do nosso país que “destrói as previsões dos organismos internacionais”.

A “Comissão Europeia elevou as previsões de Portugal enquanto rebaixou as do resto” dos Estados-membro, começa por notar o jornal, frisando que a entidade aumentou em três décimas as suas estimativas para a economia portuguesa, neste ano, para os 5,8%.

O FMI é menos optimista, prevendo um crescimento de 4,5%. Mas o Banco da América já reconhece que Portugal vai ter um crescimento económico de 6,5% este ano, frisa o jornal espanhol.

Mas o que explica, afinal, esta recuperação económica milagrosa? O El Economista avança três factores-chave: “o boom do turismo, a escassa relação com a Rússia e a estabilidade” política.

Portugal beneficia de um cenário de “estabilidade e políticas de longo prazo” há vários anos, aponta o diário, notando que este cenário está a ajudar o país a “converter-se num dos alunos favorecidos da Europa”.

A recuperação da crise da dívida de 2012-2013 foi “o primeiro milagre” que até valeu a Portugal a “bajulação do FMI”, vinca o jornal, salientando que o país volta, agora, a ser “um exemplo pela sua resistência e capacidade de se recuperar das grandes recessões lentamente, mas seguramente”.

A economia portuguesa “recuperou os níveis de PIB prévios” aos da pandemia enquanto que a Alemanha, por exemplo, ainda não o conseguiu e “Espanha não o fará até 2023”, salienta ainda o jornal.

“Sorte” e “economia que vem indo muito bem há anos”

O El Economista refere-se a um “primeiro trimestre de 2022 brilhante”, apontando que Portugal foi “o único país que recebeu uma melhoria das suas previsões económicas depois da eclosão da guerra na Ucrânia”. E vai ser a economia que “mais crescerá em toda a União Europeia em 2022”, de acordo com as previsões da CE, recorda o jornal.

Portugal tem “a sorte” de ser “um dos países que tem menos vínculos comerciais directos com a Rússia e a Ucrânia dentro da União Europeia”, salienta o jornal, citando o economista Massimo Bassetti a realçar que o país só enfrenta “riscos indirectos” devido aos “preços das matérias-primas, à ruptura das cadeiras de suprimento globais e ao enfraquecimento da procura global”.

Mas antes da guerra, “Portugal já se vinha destacando”. Em 2021, “em termos homólogos, a economia portuguesa cresceu 11,9%, claramente acima dos 5,9% do trimestre anterior”, nota ainda o jornal.

Esse “grande salto” deveu-se, sobretudo, “a uma contribuição positiva mais elevada da procura interna, especialmente através do consumo privado, e da procura externa, que reflecte uma crescimento mais forte das exportações de bens e serviços do que das importações”, diz ao El Economista a economista Teresa Gil Pinheiro do CaixaBank Research.

“A recuperação do turismo foi um factor importante no impulso das exportações”, acrescenta a economista que destaca ainda a queda na taxa de desemprego que, em Fevereiro deste ano, chegou aos 5,6%, “um mínimo de 20 anos”, como refere o El Economista.

“Esta queda explica-se, em grande medida, por quatro sectores de actividade: alojamento e restauração, actividades imobiliárias, administrativas e serviços de apoio, comércio e construção“, nota Teresa Gil Pinheiro.

No caso de áreas como “a construção e o comércio”, o problema já não é o desemprego, mas “a escassez de mão de obra”, afiança ainda Gil Pinheiro.

El Economista conclui que o mercado laboral português beneficia de “uma economia que vem indo muito bem há anos”. “O milagre começou a gerar-se nos anos posteriores à crise da dívida soberana”, sustenta.

Porém, o diário também refere que este “milagre do emprego” pode estar relacionado com “a saída massiva de portugueses em idade de trabalhar para outros países europeus”, fruto da emigração de pessoas jovens e qualificadas.

“Milagre” começou com austeridade de Passos Coelho

Olhando para o passando recente, o El Economista recorda as políticas de austeridade do Governo de Passos Coelho, no âmbito da Troika, notando que este executivo “pôs em marcha uma desvalorização interna (contenção de salários e distribuição de benefícios) muito dolorosa no curto prazo, mas que permitiu que a economia ganhasse competitividade e crescesse sem gerar desequilíbrios”.

Assim, as “reformas” começaram depois da crise da dívida soberana e foram “consolidadas” pelo Governo de António Costa que ainda “anunciou várias medidas que estimularam a procura interna como a subidas das pensões e do salário mínimo“, nota-se no jornal espanhol.

Mas a recente subida da inflação, motivada pelas circunstâncias internacionais, veio desequilibrar a economia, sendo “complicado encontrar uma solução doméstica” para o problema, acrescenta-se no artigo.

“Melhores contas públicas” do que Espanha

Outro factor que está a beneficiar Portugal é a gestão “mais eficiente” da pandemia de covid-19, em comparação com outros países. Este dado “permitiu que o PIB e o emprego se ressentissem algo menos do que em outros países do Sul da Europa”, como Espanha, nota o El Economista.

A par disto, o país conseguiu atrair investimento com uma fiscalidade que beneficia trabalhadores qualificados e com elevadas remunerações, bem como pensionistas estrangeiros. Há ainda um “mercado imobiliário aquecido” e “o boom do turismo de qualidade que parece manter-se vivo” como factores que ajudam a economia portuguesa, segundo o jornal espanhol.

Mas o El Economista também olha para a “grande criação de empresas”, citando dados do Eurostat que referem que esta disparou 36% no primeiro trimestre de 2022, colocando Portugal na liderança do ranking europeu neste capítulo. É mais um sinal de saúde da economia, segundo o diário.

“Efectivamente a economia portuguesa crescerá mais do que a espanhola e, além disso, apresentará melhores contas públicas” constata Bassetti.

No nosso país, a queda da dívida pública deve continuar. Em 2021, situou-se nos 127,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e as previsões do Governo são que, em 2023, desça para os níveis pré-pandemia, na ordem dos 116,6%.

“No caso de Espanha, prevê-se que a dívida continue a subir e que alcance os 140% em algum momento das próximas décadas”, destaca o El Economista na comparação com Portugal.

O défice público de Espanha está acima dos 5% enquanto Portugal fechou 2021 com um défice de 2,8% do PIB. As estimativas do Governo de Costa para este ano são que se fique pelos 1,9%.

ZAP //

9 Comments

  1. Mas não salienta o aumento de impostos e a degradacao dos servicos como o SNS que é a paixão do PS como foi a educação no tempo de Guterres. Mas fala sim de Portugal se estar a transformar numa colónia de idosos europeus e de fruto de especulação imobiliária e de os jovens sairem de porrtugal. Já dizia Marcelo, Portugal será um país governado por político corruptos um país de velhos e de serventes as mesas a espera dos dólares dos turistas… Só se enganou na moeda.

  2. É, é, claro… para os políticos, que roubam descaradamente, está tudo bem. É assim que se opera um milagre! Lindo! 😉

  3. Aqui está a prova que António Costa se aproveitou do grande trabalho que fez Passos Coelho. Aquando das primeiras eleições disse mal do trabalho de Passos Coelho, mas, após as eleições, manteve a mesma situação e dizia o PS que a culpa era de Passos Coelho e agora está a receber, indevidamente, os louros.

  4. A emigração durante a TROIKA e a AUSTERIDADE foi um pesadelo do qual só saímos com o António Costa. Tenho uma teoria, António Costa é o maior sortudo do mundo e funciona como um talismã para Portugal, dá-nos sorte.

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