A falta de trabalhadores qualificados está a dificultar a vida a vários setores importantes na economia portuguesa e as associações pedem mais apoios ao Governo.
Em entrevista à Renascença, Daniel Serra, da PRO.VAR — Promover e Inovar a Restauração Nacional — traça um cenário “crítico” no sector devido à falta de cozinheiros e às dificuldades de encontrar mão de obra.
Os empresários têm colmatado as falhas nos ajudantes nas cozinhas recorrendo à contratação em países asiáticos, mas o problema é maior para encontrar cozinheiros e empregados de mesa, que têm uma “atividade mais exigente” e precisam de uma formação específica.
Há já restaurantes a fechar por não terem cozinheiros e empresários que “estão a optar por alterar contratos de trabalho colocando esses trabalhadores na quota das empresas para os motivar”.
Esta falta de profissionais põe ainda em risco a cozinha tradicional portuguesa porque os empresários preferem apostar em restaurantes com comida de outros países ou de fast-food. Daniel Serra apela ainda a que se use a bazuca europeia para se apostar na formação de cozinheiros.
Construção e agricultura sem trabalhadores
Mas os problemas da falta de mão de obra não se limitam à restauração. Na construção, faltam 80 mil trabalhadores, de acordo com os números da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI).
“Não compreendemos que sendo hoje divulgado pelo INE que existem neste momento inscritos no Instituto de Emprego cerca de 356 mil trabalhadores, dos quais 30 mil são oriundos do nosso setor, possa existir esta situação em que há pessoas a querer trabalhar e as empresas continuem com problemas de falta de trabalhadores”, sublinha Reis Campos, presidente da CPCI.
O Governo deve por isso aproveitar esta “oportunidade para o desenvolvimento da formação nesta atividade, potenciando a captação de jovens, promovendo a reconversão de alguns desempregados que são oriundos de outros setores e, por outro lado, é preciso ir buscar trabalhadores a outros países”.
Na agricultura, também há dificuldades de recrutamento, principalmente nas colheitas de produtos hortícolas e de frutas. Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), refere que no ano passado “houve perda de colheitas parcial de alguns produtos que ficaram nas árvores, ou que caíram para o chão e que deixaram de ter qualidade para serem levados para o mercado por falta de mão de obra para colherem esses mesmos produtos”.
A crise na Ucrânia também está a dificultar o recrutamento no leste da Europa, pelo que o sector está a apostar em imigrantes da Índia, do Nepal, do Bangladesh, ouvindo-se apelos a que haja uma maior “agilização do processo de legalização desses trabalhadores”.
Turismo no Algarve em dificuldades
No sector do turismo, especialmente no Algarve, há também dificuldades no recrutamento que se agravam ainda mais com a perspetiva de retoma que se antecipa com o levantamento de restrições pela Europa fora.
Mesmo assim, João Fernandes, presidente da Associação de Turismo do Algarve, lembra que “ainda há cerca de 25 mil desempregados” no setor. “Há uma necessidade de ajustamento entre a procura e oferta de emprego, mas aquilo que nós sabemos é que num futuro próximo, dadas as perspetivas de uma retoma forte nos próximos meses, que o stock de recursos humanos não é suficiente para suprir as necessidades”, comenta.
Um dos problemas mais imediatos é no golfe, onde a maior procura começa em março e prolonga-se até maio. “As expectativas é que tenhamos uma procura semelhante àquela que tivemos em 2019, que foi o ano recorde de números de voltas de golfe no Algarve”, remata.