Para os economistas ouvidos pelo Jornal Económico, as medidas anunciadas pelo Governo podem não ser suficientes para permitir que o embate na economia provocado pela pandemia de Covid-19 seja o mais suave possível.
As condições das linhas de crédito concedidas às empresas são encaradas com reticências pelos economistas ouvidos pelo Jornal Económico, que sugerem outras alternativas, como o financiamento a custo zero ou a garantia das remunerações pelo Estado no valor do subsídio de desemprego, mantendo-se os postos de trabalho.
Esta quinta-feira, o Governo apresentou um pacote de medidas para apoiar a economia, que incluem a moratória de seis meses no crédito a famílias e empresas e a simplificação do lay-off.
No entanto, a injeção de liquidez na economia através das linhas de crédito para as empresas de três mil milhões de euros, com taxas de juro entre 1% e 1,5% consoante os tetos máximos, levanta críticas.
Ao diário económico, Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, disse que “não interessa muito às empresas que já estão a faturar pouco, endividarem-se para terem que pagar mais juros com uma atividade que não sabem qual vai ser”. João Duque, antigo presidente do ISEG, corrobora: “as empresas não se vão endividar para pagar custos sem benefícios”.
Filipe Garcia considera que o caminho a seguir é o de um financiamento a custo zero, com garantias dos Estados a determinados conjuntos de financiamento. Aliás, esta proposta foi defendida pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, num artigo de opinião publicado esta semana no Financial Times.
Para o economista, se os países do centro – como a Alemanha e a Holanda – resistem à emissão de obrigações conjuntas, esta solução poderia ser “uma medida de compromisso”. “Teria efeitos diretos e indiretos. Os efeitos diretos seriam dotar as empresas rapidamente de liquidez, mas os indiretos seriam garantir não haver uma espécie de corrida à liquidez.”.
Para João Duque, a medida para libertar liquidez imediata deveria passar por o Estado suportar encargos com remunerações.
“Acho que a solução viável seria colocar nas empresas que ficam sem qualquer rendimento, mais ou menos o correspondente ao subsídio de desemprego. Ficam com os trabalhadores, o Estado paga-lhes o subsídio de desemprego e mantêm-se os postos de trabalho”, defendeu.