Austrália vai investir quase 7 mil milhões em “caixões submarinos”

Defence Images / Flickr

A Austrália vai investir o equivalente a 6,8 mil milhões de euros para tornar um dos seus estaleiros navais capaz de construir uma frota de submarinos de propulsão nuclear, anunciou o Governo do país. Segundo analistas militares, é um investimento em “caixões bilionários”, que brevemente estarão obsoletos.

Um total estimado de 12 mil milhões de dólares australianos (cerca de 6,8 mil milhões de euros) vai ser investido ao longo de dez anos para renovar e melhorar os estaleiros navais de Henderson, perto de Perth, no estado da Austrália Ocidental, informou o ministro da Defesa, Richard Marles.

Em 2021, a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos celebraram um acordo tripartido, denominado Aukus, destinado a contrariar a crescente influência da China na Ásia-Pacífico.

O acordo prevê o fornecimento a Camberra de 3 a 5 submarinos nucleares de ataque norte-americanos da classe Virginia num prazo de 15 anos, após o qual a Austrália fabricará os seus próprios submarinos em colaboração com o Reino Unido.

Entretanto, como os estaleiros navais nos Estados Unidos já têm dificuldade em fornecer a marinha norte-americana, Washington anunciou em junho uma revisão do Aukus para garantir que o acordo continue em conformidade com os objetivos do Presidente Donald Trump.

“Os estaleiros de Henderson são um elemento-chave do acordo Aukus”, afirmou Marles à emissora australiana Sky News, acrescentando que “está em causa o que a Austrália deve fazer para aproveitar esta oportunidade estratégica”.

Camberra planeia equipar Henderson com docas secas altamente seguras para a manutenção de submarinos nucleares e criar instalações para a construção de barcaças de desembarque e, a longo prazo, fragatas japonesas da classe Mogami, acrescentou o ministro.

Segundo o governante, o custo total do desenvolvimento desses estaleiros navais deve chegar a 25 mil milhões de dólares australianos, cerca de 14,17 mil milhões de euros.

De predador a caixão bilionário

Velocidade, discrição e poder de fogo”, disse ao The Guardian o diretor da Agência Australiana de Submarinos, Jonathan Mead, a propósito da futura frota de submarinos nucleares do país. “O submarino nuclear é o predador de topo dos oceanos.”

No primeiro quarto do século XXI, os submarinos nucleares revelaram-se uma força formidável, capazes de lançar ataque letais, e praticamente indetetáveis.

A essa capacidade junta-se o importante efeito dissuasor de “segundo ataque”: qualquer agressão a um país com submarinos nucleares é feita com a certeza de que haverá retaliação — a partir de um navio de guerra escondido sob as ondas.

Mas durante quanto mais tempo o submarino nuclear será o predador de topo dos oceanos?

A história militar está repleta dos cadáveres dos predadores de topo que a cerca altura dominavam o campo de batalha, salienta o The Guardian. A metralhadora Gatling, o couraçado, o tanque de combate. Todos eles, em tempos, detiveram um poder inquestionável — até serem ultrapassados, nalguns casos totalmente varridos, pelo avanço imparável da tecnologia.

Esse será, inelutavelmente, o destino dos submarinos nucleares, segundo garante um grupo de especialistas em assuntos militares numa análise publicado em 2023 na The Strategist.

Os últimos anos trouxeram rápidos avanços nas tecnologias de deteção de submarinos, na maior parte dos casos com origem na China,entre os quais vastas redes de sensores sonar extremamente sensíveis, sensores quânticos e melhorias no rastreio por satélite capazes de detetar mínimas alterações na superfície dos oceanos e perturbações ínfimas no campo magnético terrestre.

A estes avanços junta-se o aumento recente e exponencial da capacidade de processamento de quantidades massivas de dados trazida pela Inteligência Artificial.

Segundo reporta este domingo o South China Morning Post, um novo estudo conduzido pela indústria de defesa da China sugere que a IA poderá em breve tornar extremamente difícil, ou quase impossível, a sobrevivência dos submarinos num futuro conflito naval.

De acordo com o estudo, um novo sistema avançado de guerra antissubmarina controlado por IA será capaz de detetar até os submarinos mais silenciosos, através de uma tomada de decisão inteligente em tempo real, e reduzir a sua probabilidade de sobrevivência para apenas 5%.

Poderão estas tecnologias tornar transparente o último lugar opaco da Terra?

Talvez não seja linear, dizem os analistas. Os oceanos poderão tornar-se, em certas zonas, menos impenetráveis: rotas marítimas estratégicas e áreas costeiras contestadas poderão ser intensamente vigiadas, enquanto fossas oceânicas remotas e profundas poderão continuar indecifráveis.

Mas, segundo o estudo conduzido pelos peritos da The Strategist, os oceanos, na maioria das circunstâncias, têm uma probabilidade de 75% (e, sob algumas perspetivas, de 90%) de se tornarem transparentes até à década de 2050.

Isto sugere que, independentemente do progresso nas tecnologias furtivas, os submarinos, incluindo os movidos a energia nuclear, poderão ser facilmente detetados nos oceanos do mundo como resultado do progresso na ciência e na tecnologia.

Assim, concluem os analistas, o governo australiano poderá estar a investir no que brevemente serão apenas “caixões de milhares de milhões de dólares“.

ZAP //

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