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DGPC investiga estragos no Convento de Cristo durante filme de Terry Gilliam

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Convento de Cristo em Tomar

Convento de Cristo em Tomar

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) anunciou que vai abrir um inquérito para apurar a veracidade sobre alegados estragos provocados no Convento de Cristo, em Tomar, durante a rodagem do filme de Terry Gilliam “O Homem que Matou D. Quixote”.

“Na sequência de algumas situações e acontecimentos tornados públicos sobre o Convento de Cristo, em Tomar, a DGPC informa que vai abrir um inquérito para apurar a sua veracidade”, afirma o organismo que tutela o monumento numa resposta enviada à Lusa.

A posição surge após testemunhas não identificadas terem dito, em reportagem no “Sexta às 9”, da RTP1, que a rodagem do filme deixou “o claustro de D. João II todo partido”, “pedras danificadas”, “árvores totalmente cortadas pela raiz”, “telhas partidas por todo o lado” e levou à realização de “uma fogueira de 20 metros de altura”.

O Bloco de Esquerda (BE) reagiu requerendo a audição no parlamento, com carácter de urgência, do ministro da Cultura, manifestando a “perplexidade” com a informação divulgada pela RTP.

“Os relatos incluem a realização de uma fogueira, pedras centenárias partidas ou com arestas fracturadas, pelo facto de se terem fixado adereços e panos às colunas e outras estruturas, cantarias e telhas destruídas“, salienta o BE.

“Nas imagens televisivas, é ainda visível um aglomerado com dezenas de botijas de gás conectadas à rede de tubos que terá assegurado o fogo, na enorme pira”, acrescenta o partido.

Os deputados referem ainda testemunhos que relataram o ter-se gerado “uma enorme onda de calor provocada pelo fogo nas imediações da janela do Capítulo, jóia da arquitectura manuelina e ícone mundial do Convento de Cristo, pondo em risco tanto o monumento, como o grande número de figurantes presentes no local”.

Para os deputados, “mesmo que se paguem e que se reparem os estragos, irão fazê-lo com recurso a argamassas ou remendos, ou seja, os danos são irrecuperáveis“.

Terry Gilliam já reagiu às críticas, através do seu perfil do Facebook, garantindo que “não foram cortadas árvores, não foram partidas pedras”.

“Tudo o que fizemos lá foi para proteger o edifício de danos e conseguimos”, salienta ainda o realizador, frisando que não houve qualquer “desrespeito” pelo monumento que considera “um dos mais gloriosos” que já viu.

Sobre a fogueira diz que foi “inspirada pelas Las Fallas em Valência”, “um festival religioso onde todos os objectivos negativos do último ano eram sacrificados”.

O BE pede que sejam apuradas “responsabilidades, para que não se repitam situações similares que ponham em causa e em definitivo o património cultural português”.

O ministro da Cultura deverá ser questionado já sobre o assunto nesta terça-feira, dia em que está marcada uma audição parlamentar para discussão das políticas culturais e sobre o acto de vandalismo ocorrido recentemente no parque arqueológico de Foz Côa, onde um ciclista desenhou uma bicicleta numa gravura de 10 mil anos.

O Bloco lembra que o Convento de Cristo mereceu a classificação de Património da Humanidade pela UNESCO, sendo “um monumento de referência da época do Renascimento que integra a conhecida Janela do Capítulo da sacristia manuelina”, sendo “um ícone do património nacional e parte importante da sua história”.

Este filme de Terry Gilliam, sobretudo conhecido por ser um dos “Monty Python”, o grupo de humoristas britânicos, já esteve envolvido noutras polémicas, nomeadamente com o produtor português Paulo Branco.

“O Homem que Matou D. Quixote” é uma comédia co-produzida por Portugal, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra que contou com um orçamento de 16 milhões de euros.

ZAP // Lusa

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