Paulo Novais / Lusa

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, garantiu este domingo que se demite de funções se alguém provar que o descarrilamento do Elevador da Glória, decorre de um erro da sua responsabilidade. Alexandra Leitão acusa o autarca de fazer “exercício de desculpabilização”.
Em entrevista à SIC, a primeira dada a um órgão de comunicação social desde o acidente no dia 3 de setembro, Carlos Moedas afirmou que na tragédia do Elevador da Glória “não há nenhum erro que possa ser imputado a uma decisão do presidente da Câmara”.
“Se alguém provar que alguma ação que eu tenha tido, algo que eu tenha feito como Presidente da Câmara em relação à Carris levou a que esta empresa não gastasse o suficiente em manutenção, que esta empresa não fizesse aquilo que tinha que fazer, eu demito-me no dia”, afirmou.
Moedas lembrou que a Câmara de Lisboa é acionista da Carris, mas não gere a empresa, salientando que, enquanto acionista, a autarquia tem uma estratégia para a mobilidade da cidade e fornece recursos à empresa de transportes.
De acordo com o presidente da Câmara de Lisboa, a autarquia deu recursos à transportadora para “aumentar o seu orçamento em 30%”, apontando que “isso são dados de responsabilidade política”, e afirmou que passou os últimos quatro anos “a investir em Lisboa para uma melhor mobilidade” através da aquisição de 114 autocarros e 15 elétricos.
“Esta empresa teve os recursos que foram dados pela Câmara exatamente nessa responsabilidade política. Portanto, eu não preciso de eleições para essa responsabilidade política”, afirmou.
Confrontado com as palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que defendeu que Carlos Moedas é politicamente responsável e que os lisboetas farão o devido julgamento político nas eleições autárquicas, Moedas voltou a lembrar que a autarquia é acionista e não interfere na gestão da Carris.
Afirmou, por outro lado, que não irá permitir que o vice-presidente Filipe Anacoreta Correia se demita de funções, uma vez que é quem tem a tutela dos transportes, defendendo que seria “uma cobardia alguém se demitir”, estendendo a justificação ao presidente da Carris.
Afirmou que a sua prioridade no dia do acidente foi estar no terreno, “numa das situações mais difíceis que Lisboa já viveu” e não falar com políticos ou responder a perguntas de jornalistas, apontando que têm sido “dias de luto”, nos quais a sua preocupação tem sido procurar dar uma resposta às famílias das vítimas.
Moedas aproveitou para destacar que o relatório preliminar sobre as causas do acidente demonstra que não ter havido erro humano e salientou que o guarda-freio, André Marques, uma das vítimas mortais, foi um “herói, que lutou com a sua vida para proteger as pessoas”.
Disse, por outro lado, ter ficado magoado com o aproveitamento político que tem sido feito do caso, acusando o PS de ser “dissimulado” e “cínico”, ao ter uma candidata à autarquia que não pede diretamente a sua demissão, mas que depois “encarrega todos os seus sicários e todos os seus apoiantes para virem por trás”.
Carlos Moedas deixou a garantia de que irá fazer tudo para apurar as causas e as responsabilidades e lembrou, a propósito, que não existe qualquer relatório sobre o acidente que envolveu o Elevador da Glória em 2018, e que poderia agora “ajudar para que não se voltasse a repetir”.
Relativamente aos restantes elevadores que funcionam na cidade, o autarca explicou que a decisão para que parassem e fossem avaliados foi para transmitir “tranquilidade, serenidade e capacidade de decisão” a todos os cidadãos, reafirmando que são feitas vistorias diárias.
“Exercício de desculpabilização”
A socialista Alexandra Leitão, candidata pela coligação PS/Livre/BE/PAN à Câmara de Lisboa nas próximas autárquicas, acusou este domingo o presidente da autarquia, Carlos Moedas, de fazer “exercício de desculpabilização” sobre o acidente no elevador da Glória.
“Carlos Moedas voltou ao ataque pessoal. Não sabe fazer política de outra forma”, afirmou Alexandra Leitão, numa publicação na rede social X, em reação à entrevista do presidente da Câmara de Lisboa à SIC.
“Quem o oiça acha que a primeira vítima do trágico acidente no elevador da Glória foi ele próprio. Não foi. Foram os mortos, os feridos e as suas famílias”, acrescenta a candidata na publicação.
A socialista considerou que a entrevista que Carlos Moedas deu à SIC “é um exercício de desculpabilização pouco digno de um responsável político. Não trouxe respostas, não apresentou soluções e não anunciou uma única medida que ajude as vítimas ou que restaure a confiança dos lisboetas nas infraestruturas da cidade”.
Na entrevista à estação televisiva, o autarca do PSD disse que há “uma grande diferença entre o PS liderado por José Luís Carneiro, que é um homem centrista, e o PS de Lisboa, que é um bloco da esquerda, aliado ao BE, que se radicalizou”, considerando que “há dois PS diferentes”.
Alexandra Leitão tem recusado avançar com pedidos de demissão sobre a tragédia, mas tem exigido “um cabal esclarecimento e uma assunção de responsabilidades” quanto ao acidente.
A candidata do PS lembra o caso da partilha de dados de ativistas russos anti-Putin por parte da autarquia da capital em 2021, antes das eleições autárquicas desse ano, em que Carlos Moedas pediu a demissão de Fernando Medina, o então presidente do município.
Esta segunda-feira, a partir das 09:30, a Câmara de Lisboa vai realizar uma reunião extraordinária dedicada ao acidente com o elevador da Glória, na qual deverão ser discutidas medidas de apoio às vítimas e familiares, assim como de apuramento das causas e responsabilidades.
Até ao momento, a vereação do PS avançou com uma proposta que sugere a criação de um memorial na Calçada da Glória e a abertura de um gabinete municipal de apoio às vítimas, assim como a constituição de uma comissão externa de auditoria.