Uma empresa japonesa lançou um serviço de “aluguer de pessoas assustadoras” que ajudava a apanhar amantes, cobrar dívidas difíceis e lidar com bullies de todos os géneros. A empresa garantia que resolvia a maior parte dos problemas em apenas 30 minutos, mas durou apenas um mês.
O conceito do “Cobrador do Fraque”, que entretanto desapareceu ao fim de alguns anos, ressuscitou no mês passado no Japão, sob a forma de uma empresa que alugava pessoas sinistras para “ajudar a resolver todo o tipo de problemas pessoais”.
Fundada a 1 de agosto e sediada em Tóquio, a Rental Kowaihito oferecia os serviços de homens com tatuagens sinistras, que lhes davam uma aparência ameaçadora e intimidatória — numa clara insinuação de que “vai haver sangue”.
Segundo a empresa, os seus funcionários conseguiam resolver quase todo o tipo de problemas pessoais, desde ajudar a apanhar amantes, a cobrar dívidas difíceis ou lidar com bullies na escola ou no emprego — na maior parte dos casos, em apenas 30 minutos.
A empresa, que se tornou um fenómeno nas redes sociais, garantia que os seus funcionários não exerciam qualquer atividade ilegal — a sua mera presença seria suficiente para “tratar dos assuntos” de forma rápida e eficaz. Caso um cliente pedisse alguma coisa ilegal, o trabalho era imediatamente rejeitado.
Além disso, a empresa assegura que não contratou nenhum candidato com cadastro ou que fosse membro de grupos criminosos organizados — aparentemente em resposta à dúvida que rapidamente se instalou nas redes sociais sobre até que ponto o serviço estaria ligado à Yakuza, a famosa mafia japonesa.
De acordo com os responsáveis da empresa, entre os trabalhos realizados conta-se o caso de um cliente que pediu a presença de um “homem assustador” para pedir a um vizinho barulhento que fosse mais sociável. Aparentemente, nem mais um pio se ouviu do vizinho.
Noutro caso, um “homem assustador” fingiu ser um amigo próximo de um cliente para pôr fim a uma situação de assédio no local de trabalho. Houve quem tivesse recorrido ao serviço para ajudar uma mulher a confrontar a amante do marido. A presença da companhia sinistra levou a amante a admitir rapidamente a traição.
Segundo o South China Morning Post, o preço do serviço era de 20 mil ienes, cerca de 115 euros, por cada 30 minutos, ou 50 mil ienes (cerca de 290 euros) por três horas. Para trabalhos fora da área metropolitana de Tóquio, os clientes pagariam as despesas de deslocação.

Anúncio da Rental Kowaihito mostrava alguns dos membros da sua equipa de “homens assustadores”
Nas redes sociais, muitas pessoas manifestaram apoio à ideia. “É um serviço útil, porque é da natureza humana intimidar os mais fracos e temer os mais fortes”, comentou um utilizador.
“Mais do que assustar os outros, o grande mérito deste serviço é ajudar alguém a sentir-se menos intimidado e, assim, conseguir resolver as coisas por si próprio”, acrescentou um outro.
Um utilizador levantou mesmo uma questão curiosa e pertinente: “O que aconteceria se ambas as partes contratassem uma pessoa assustadora?”.
Mas nem todas as reações foram positivas, e houve quem levantasse dúvidas acerca da legalidade do serviço, e se a Rental Kowaihito teria as licenças obrigatórias para empresas do setor de aluguer de pessoas.
As suspeitas aumentaram quando se constatou que o site da empresa não tinha informações básicas, como o seu nome legal, morada da sede ou dados de contacto tradicionais, conta o OtakuPT.
A polémica teve vida curta. A 31 de agosto, com apenas um mês de vida, a empresa anunciou abruptamente o encerramento, “devido a várias circunstâncias”.
O Cobrador do Fraque
Apesar da criatividade do conceito da Rental Kowaihito, a ideia do “aluguer de pessoas sinistras” tem provavelmente inspiração na empresa, também japonesa, que há uns anos colocava funcionários vestidos de coelhos cor-de-rosa à porta de pessoas que devessem dinheiro aos seus clientes.
A embaraçosa e absurda presença do coelho rosado à porta levava, na maior parte dos casos, os devedores a encontrar milagrosamente dinheiro para pagar as suas dívidas — e fazer desaparecer a pressão social que a incómoda presença causava.
A ideia do coelho cor-de-rosa foi importada para Portugal e adaptada sob a forma do Cobrador do Fraque, um serviço privado que se tornou bastante popular no nosso país, sobretudo nos anos 1980 e 90.
O serviço oferecia os préstimos de uma pessoa vestida de forma extravagante, normalmente de fraque, cartola e bengala, que se colocava à porta da casa ou do local de trabalho de um devedor.
O figurante não podia usar a força, entrar no local ou proferir insultos; apenas marcava presença, para causar pressão social e embaraço público e induzir o devedor a pagar.
Muitos credores consideravam o serviço mais eficaz do que enfrentar longos processos de cobrança de dívida na justiça, mas a abordagem levantava questões legais relacionadas com assédio moral e humilhação pública.
À medida que o Estado português foi reforçando as leis de proteção de dados, por um lado, e de cobrança coerciva, por outro, o modelo foi-se tornando cada vez menos aceitável, e mais obsoleto.
Com os anos, a popularidade do serviço foi-se desvanecendo, até praticamente desaparecer. Assim, se algum dia vir um indivíduo de fraque à porta de alguém, não tire conclusões precipitadas — está provavelmente apenas à espera de alguém, a caminho de um baile de gala ou casamento.