A comissão especial da Câmara dos Deputados do Brasil aprovou na noite desta segunda-feira o relatório que propõe a destituição (impeachment) da Presidente Dilma Rousseff.
A Comissão Especial do Impeachment da Câmara dos Deputados aprovou o parecer do relator Jovair Arantes (Partido Trabalhista Brasileiro) favorável à abertura do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Foram 38 votos a favor e 27 contra.
O relatório será publicado no Diário Oficial da Câmara na quarta-feira e entrará na agenda de votações da Câmara, como primeiro item a ser discutido e votado.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, já confirmou que a discussão será iniciada na sexta-feira, com a votação a acontecer este domingo.
O deputado do PMDB (partido do vice-presidente Michel Temer) adiantou, contudo, que o rito será diferente do usado no processo de cassação do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em que os deputados foram chamados para a votação em ordem alfabética.
Para ser aprovado, são necessários os votos de dois terços dos deputados, ou seja, 342, dos 513 parlamentares.
Se for aprovado, o parecer será encaminhado para o Senado, que analisará a aceitação do processo em sessão plenária. Se o relatório não obtiver os 342 votos na Câmara dos Deputados, a denúncia será arquivada.
Para o deputado Ivan Valente, líder do partido de esquerda PSOL, dois fatores principais influenciaram a votação na comissão.
Por um lado, foi divulgada este sábado uma sondagem do instituto DataFolha que mostra que a maioria dos entrevistados é favorável tanto ao impeachment de Dilma como de Michel Temer.
Além disso, esta semana foi divulgado um áudio em que o vice-presidente apresenta propostas que pretende discutir, caso assuma o Governo, mesmo antes da votação do impeachment.
No entanto, apesar da vitória, a oposição terá saído frustrada da votação. “Eles criaram uma expectativa muito alta, para mais de 40 votos, e não atingiram. É um resultado que, proporcionalmente, não materializa o impeachment no plenário”, afirma Ivan Valente.
Destituição na imprensa estrangeira
O jornal norte-americano Wall Street Journal destacou que a presidente é acusada de manipular as finanças públicas.
“Foi um revés para a líder, o que aumenta a probabilidade da sua saída”, refere o artigo assinado por correspondentes no Brasil.
No entanto, o jornal pondera que a derrota de Dilma na comissão era esperada, pois as atividades da casa legislativa brasileira “são fortemente influenciados pelo seu inimigo político, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que se tem esforçado para derrubar a presidente”.
O Washington Post também publicou que a comissão votou a favor do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, deixando mais próxima a possibilidade da saída da líder brasileira.
O jornal norte-americano descreve que Dilma está enfrentando processo de impeachment por alegações de que sua administração violou regras fiscais para mascarar problemas de orçamento.
O Washington Post afirma também que os opositores de Dilma dizem que o processo está em consonância com os desejos da maioria dos brasileiros, enquanto os que apoiam a presidente consideram que Dilma está sendo vítima de uma ação de tomada de poder pelos seus inimigos.
Artistas brasileiros denunciam “golpe em andamento” contra Dilma
Diversos artistas, intelectuais, sindicalistas e lideranças políticas lançaram esta segunda-feira o Manifesto Cultura Pela Democracia, um texto contra o impeachment da presidente Dilma Roussef.
Entre os que assinam o manifesto estão o escritor Leonardo Boff, o ator Wagner Moura e o músico Chico Buarque.
“Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais. Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões”, diz o texto.
No manifesto, também foi colocado que o uso “indevido e irresponsável” do recurso do impeachment “se constitui em um golpe branco, um golpe institucional, mas sempre um golpe”.
No seu discurso num evento no Rio de Janeiro com cinco mil participantes, o ator e argumentista Gregório Duvivier (conhecido por fazer parte do grupo de humor “Porta dos Fundos”) disse que não defende o governo em si, mas a democracia do processo eleitoral.
“Isso não é um ato de defesa nem de adesão de governo nenhum, muita gente aqui, como eu, não votou, não é eleitor, não é filiado ao PT. Isso aqui é um ato de defesa da democracia. Nós viemos mostrar a nossa insatisfação com tudo o que não está podendo ser feito no país hoje. Então, ao invés de dizer só ‘fica Dilma’, vamos dizer ‘fica e melhora‘. Porque a Dilma foi eleita pela esquerda, porque tinha um projeto de esquerda, então vamos pedir que ela governe em nome do projeto para o qual foi eleita”.
O músico Chico Buarque falou apenas um minuto para o público na sala de espetáculos Fundição Progresso, reiterando o discurso feito no dia 31 de março no Largo da Carioca. “Quando eu cheguei aqui eu fiquei todo besta com vocês falando ‘Chico eu te amo’. Só que depois eu vi que vocês amam todo mundo! Mas eu quero dizer que nós também amamos vocês, amamos essa energia toda, principalmente essa juventude que está aí, e vai sair em defesa da democracia. Só isso. Não vai ter golpe“.
Após o evento de lançamento do manifesto, que contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os discursos continuaram no exterior, nos Arcos da Lapa, onde uma multidão ocupava toda a praça e esperava para ouvir os líderes sindicais e políticos, além de concertos de artistas como Tico Santa Cruz, Otto, Carlinhos Vergueiro, Francis Hime e Sérgio Ricardo.
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