“Dei-te quase tudo e quase tudo foi demais.” A dedicatória do deputado socialista João Paulo Pedrosa resume a relação tensa do Governo com o Bloco de Esquerda. Sem acordo, parte das propostas no Código de Trabalho ficam sem efeito.
Esta segunda-feira, no Parlamento, o deputado socialista João Paulo Pedrosa dedicou uma música de Paulo Gonzo ao deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro. “Dei-te quase tudo e quase tudo foi demais”, uma dedicatória que, segundo o Expresso, ficou por aqui.
Na véspera da discussão do Orçamento do Estado para 2021, no Parlamento, é este o ambiente tenso que se vive. O documento irá receber luz verde na primeira votação, mas a vida do Governo complica se, daqui para a frente, o Bloco de Esquerda passar para o lado da oposição.
O partido de Catarina Martins alega que ainda há tempo para voltar atrás na votação final global, mas o Executivo encara o voto contra como um corte de relações.
A questão do Novo Banco parece estar arrumada nas discussões, com o Governo a dizer que não pode fazer mais do que não inscrever a injeção direta. No entanto, as contas da saúde parecem ainda fazer mexer as relações de desamor entre o Governo e o Bloco, assim como a nova prestação social.
Um dos documentos que circulou, de acordo com o semanário, foi o chamado documento político autónomo em que o Governo propunha ao Bloco as mexidas nas leis laborais. A ideia é deixar cair o documento como um todo, só avançando as medidas que o Governo já queria levar a cabo.
Apesar de algumas medidas avançarem, a maioria irá cair por terra. “Haverá coisas que o Governo quererá fazer em qualquer cenário, mas aquele pacote como um todo só é válido em caso de acordo”, adiantou fonte do Governo.
Resta agora esperar pela especialidade para ver se o Bloco vai voltar atrás em algum ponto e, no final, viabilizar o Orçamento do Estado para 2021.
Nova prestação social
Antes de Catarina Martins anunciar o sentido de voto do partido, no domingo, o Executivo de António Costa enviou um email com esclarecimentos e “avanços”, sendo que as principais mexidas eram na nova prestação social: esta deverá poder ser pedida também pelos sócios-gerentes, de acordo com um documento a que o Expresso teve acesso.
As condições para que os beneficiários possam aceder à prestação caem não só para os desempregados como também para os trabalhadores independentes e sócios-gerentes que tenham visto a sua atividade interrompida involuntariamente.
No total, avança o matutino, passará a abranger um total de 258 mil pessoas, em vez das 170 mil iniciais. A despesa aumenta assim para os 633 milhões de euros.
“O BE não quer nenhuma crise política”
Catarina Martins recusa que o Bloco de Esquerda tenha tido uma posição intransigente nas negociações com o Governo, reafirmando que o partido não pode aprovar um OE que não responde às necessidades do país.
“Estamos a atravessar um período muito difícil, mas quando atravessamos um período muito difícil o pior que podemos fazer é colocar a cabeça na areia e não nos perguntarmos se as soluções que estamos a construir servem o país ou não”, afirmou a coordenadora do BE em entrevista à TVI.
A bloquista garantiu que o partido não quer uma crise política e sublinhou que não pode aceitar que em 2021 o Serviço Nacional de Saúde esteja “mais frágil” e que haja menos proteção social. “Claro que o BE não quer nenhuma crise política, mas o primeiro-ministro já disse e eu acompanho – não é o Orçamento que determina se há ou não crise política.”
A dirigente diz que o documento não aposta no reforço do SNS já previsto no Orçamento anterior, e insiste que é fundamental garantir apoio às vítimas da atual crise causada pela covid-19 e que a prestação social não será suficiente para ajudar todos.
Estes até agora calaram e sempre foram a favor.
Agora estão armados em virgens arrependidas e já são contra.
Deram 3 mil milhões ao BES e agora dar 800 milhões nem pensar que é crime…
Na bonança em vez de se amealhar foi só dar e agora vamos ver o PS a fazer o que fez o PSD para resolver as asneiras do Socrates…
Tanto faz! O orçamento é aprovado na mesma, é mau na mesma, e tudo assim continua. Amanhã, o Bloco volta a resolver os problemas do PS porque com gente sem vergonha o que conta é estar lá.
Agora lembrei-me do “irrevogável”…
Eu pensei noutra música. A Cabritinha do Quim Barreiros. Que é aquilo que eles andam a fazer há muito.
O PS só é de esquerda na retórica. Mas quando se trata de construir um SNS capaz de resolver o problema da saúde para os portugueses, preferem fingir que podem “contratar” serviços ao sector privado. Ou seja, têm dinheiro para pagar os preços do privado, mas não têm para reforçar os quadros e os meios do SNS. Pois se é preciso recorrer aos meios do sector privado, ao menos façam-no ao abrigo de uma mobilização coerciva desses meios, pagando taxas iguais às vigentes no SNS.
Mais, o governo tem dinheiro para formar grande parte do corpo clínico dos hospitais privados, oferecendo-lhos de mão beijada depois de todos nós, com os nossos descontos, os termos formado e não tem capacidade de decretar um regime de exclusividade, como faz para outras classes profissionais?! O sector privado precisa de pessoal? Que invista na sua formação! Ou só querem ter lucros? A carta aberta da ex-ministra da saúde, Ana Jorge, e de mais quarenta médicos, dá uma resposta àqueles que com grande responsabilidade nisto tudo estão a inquietar a população. Mas os bastonários não reunem com os médicos? Como é que podem emitir opiniões que afinal são só suas e de mais meia dúzia?