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“Caça aos ovos” agrava crise provocada pela pandemia em Myanmar

Em Myanmar, além da crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19, faz-se sentir uma verdadeira “crise de ovos”. 

A variante Delta está em rápida expansão no Sudoeste Asiático. Em Myanmar, o cenário é ainda mais negro: o regime militar ocupou hospitais, deteve profissionais de saúde e muitos funcionários deste setor abandonaram o emprego em resistência à nova junta.

O surto se covid-19 no país atingiu um sistema de saúde já debilitado e em queda livre, provocando uma onda de procura por oxigénio. E não só.

Segundo a Vice, a procura por ovos de galinha aumentou acentuadamente numa altura em que a indústria já estava sobrecarregada. Os preços aumentaram e a oferta diminuiu substancialmente.

“As pessoas estão a comprar ovos à pressa porque há muitas publicações nas redes sociais a afirmar que comer ovos pode melhorar o sistema imunitário e ajudar a prevenir a covid-19″, explicou um vendedor.

Como o preço deste bem alimentar duplicou, o Ministério da Saúde dos militares foi forçado a publicar uma lista de alimentos com nutrientes que poderiam substituir os ovos.

De acordo com a Vice, uma “tempestade perfeita” de fatores fez com que o fornecimento de ovos caísse e os custos operacionais aumentassem, enquanto o recente boom da procura de ovos durante a terceira e pior vaga da pandemia empurrou a indústria para um ponto de rutura.

A economia de Myanmar depende fortemente da agricultura. Mesmo antes do golpe militar, a indústria dos ovos encontrava-se já numa situação muito difícil.

As perturbações induzidas pela pandemia no fluxo de mercadorias pioraram ainda mais a situação. Um estudo, publicado na Agricultural Studies em fevereiro, concluiu que um décimo das explorações de ovos tinha encerrado até junho de 2020 e que 42% dos trabalhadores das explorações tinham perdido os seus empregos a longo prazo.

O preço dos alimentos para galinhas, que são maioritariamente importados de conglomerados internacionais, também tem vindo a subir constantemente desde março, à medida que a moeda local, o kyat, desvaloriza.

Para os cidadãos incapazes de pagar por uma alimentação nutritiva em Myanmar, a crise dos ovos tem implicações potencialmente graves.

Mesmo antes da pandemia, estima-se que 60% dos agregados familiares no país não conseguiam pagar uma dieta nutritiva, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM), que constatou que, no final de 2020, 80% dos agregados tinham perdido quase metade dos seus rendimentos durante a pandemia de covid-19.

Em abril, o PAM avisou que, para além dos 2,8 milhões de pessoas consideradas inseguras antes do golpe militar, mais 3,4 milhões enfrentariam a fome nos seis meses seguintes.

Liliana Malainho, ZAP //

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