Kennet Ruona

A equipa de investigação, constituída (da esquerda para a direita) Luís Henriques-Oliveira, Ilia Kurochkin, Carlos-Filipe Pereira e Abigail Altman
Os cientistas acreditam que a nova descoberta abre caminho a tratamentos de imunoterapia mais eficazes, adaptados a cada doente e tipo de cancro, podendo até criar estratégias de combate a outras doenças, como a diabetes e a artrite reumatoide.
Uma equipa de investigação internacional, liderada pela Universidade de Coimbra (UC) e pela Universidade de Lund, da Suécia, identificou novas “receitas” para reprogramar modelos celulares e convertê-los em diferentes subtipos de células dendríticas.
As células dendríticas fazem parte do nosso sistema imunitário; e, por identificarem e capturarem ameaças, têm um papel determinante na resposta a doenças.
Foi em busca de novas informações para reprogramar células da pele e células cancerígenas em subtipos de células dendríticas que a equipa de cientistas conseguiu identificar duas novas combinações de três fatores, que permitem regular a identidade das células.
“Estas combinações funcionam como ‘receitas’ para converter uma célula noutro tipo celular“, revela o investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), Carlos Filipe Pereira, num comunicado enviado ao ZAP.
“Em concreto, a partir dos novos dados para reprogramação celular que revelamos neste estudo, é possível gerar de forma mais eficaz dois subtipos de células dendríticas ainda pouco explorados em imunoterapia: tipo 2 e plasmocitóides”, acrescenta o líder da investigação.
Carlos Filipe Pereira explica que “como diferentes tumores respondem de forma distinta a tratamentos, identificar as ‘receitas’ que originam cada subtipo de células dendríticas abre caminho a tratamentos personalizados de imunoterapia, adaptados a cada paciente e ao tipo de cancro que enfrenta”.
“Este conhecimento pode aproximar-nos de imunoterapias mais eficazes, contribuindo para reduzir a probabilidade de falha terapêutica e acelerar o desenvolvimento de novas estratégias contra o cancro”, destaca o cientista da UC.
Na imunoterapia, o sistema imunitário da pessoa que está doente é utilizado para combater o próprio cancro. Neste tipo de tratamento, o sistema imunológico é ensinado a reconhecer e a atacar as células cancerígenas para, assim, destruir o tumor.
As células dendríticas “são as ‘professoras’ do processo, sendo essenciais para orientar e desencadear respostas eficazes, embora a utilização dos seus diferentes subtipos em imunoterapia seja ainda reduzida”, explica o também docente da Universidade de Lund.
Embora a imunoterapia seja vista como uma das áreas mais promissoras da medicina, no caso da oncologia “uma parte significativa dos tipos de cancro e dos doentes não responde a este tratamento”, acrescenta.
Experiências bem sucedidas em animais
Num estudo publicado na semana passada na revista Immunity, os investigadores conseguiram demonstrar que diferentes subtipos de células dendríticas têm efeitos benéficos distintos em modelos animais de melanoma e cancro da mama.
“Assim, este estudo não fornece uma solução única, mas abre a possibilidade de adaptar a estratégia terapêutica ao subtipo tumoral, aproximando-nos de imunoterapias mais personalizadas e eficazes”, enaltece Carlos-Filipe Pereira.
Além do tratamento do cancro, este estudo pode contribuir, igualmente, para a reprogramação celular direcionada a outras doenças, como a diabetes ou a artrite reumatoide.
O estudo tem como primeiro autor o estudante do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina da Universidade de Coimbra e investigador do CNC-UC e do CiBB, Luís Henriques-Oliveira.