Avenças fictícias, do quadro para recibos verdes. O faz-tudo do Bloco conta como foi despedido

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Tiago Petinga / Lusa

Joana Mortágua e Mariana Mortágua

De recibos verdes para os quadros, dos quadros para os recibos verdes, avenças fictícias, pagamentos em dinheiro para compor salário, da Assembleia de Lisboa para o partido, do partido para a Assembleia. O antigo “112” do Bloco de Esquerda conta como foi despedido pelo partido.

Pela segunda vez no espaço alguns dias, o Bloco de Esquerda vê-se envolvido em polémicas relacionadas com questões laborais.

Depois de a semana passada o partido ter sido acusado de ter despedido funcionárias acabadas de sair de licenças de maternidade, esta quarta-feira um antigo funcionário do Bloco veio denunciar ter sido despedido — depois de anos a receber o vencimento de formas pouco ortodoxas.

De acordo com a revista Sábado, a história de Vítor Machado, conhecido como o “faz-tudo” do partido,  inclui avenças fictícias, a passagem dos quadros de funcionário para precário, pagamentos em dinheiro para compor salário e uma indemnização paga com recurso a um recibo verde.

Vítor Machado diz ter começado a trabalhar para o Bloco de Esquerda em 2008. Nessa altura, o partido só precisava “de uma ajuda técnica”, mas acabou por ficar como funcionário, explicou ao canal Now.

“Quando me contrataram para de facto fazer parte ativamente do Bloco como funcionário,  explicaram-me que ok, a única forma que tens de entrar é desta forma, é pela Assembleia Municipal de Lisboa, com recibo verde“, contou o antigo funcionário no canal televisivo.

Foi, então, contratado como assessor, mas na realidade não o era. Isto porque os partidos recebem um orçamento específico para a contratação de assessores, pelo que Vítor começou a receber, por mês, um pouco mais de 700 euros em recibos verdes. Pagavam-lhe o resto em numerário — cerca de 400 euros.

Eventualmente, acabou por ingressar nos quadros do partido. Mas, em 2015, voltaram a dizer-lhe que tinha de voltar para a Assembleia Municipal de Lisboa — ou seja, receber novamente através de recibos verdes.

“No início de 2015 foi aquele descalabro, em que me disseram tens que voltar para a Assembleia Municipal, porque tem que ser. Aquilo que um dirigente me disse na altura é que estávamos com dificuldades financeiras e portanto, vou ser um bocadinho mau, mas tenho que o ser: havia dinheiro disponível na Assembleia Municipal, e foi por aí” que voltou aos recibos verdes, conta Vítor Machado.

Em 2016, tinha Vítor 53 anos e quase 10 anos a trabalhar no partido, o partido termina o vínculo laboral. Foi então que foi proposto a Vítor Machado que recebesse uma indemnização de 12 mil euros, mas através de recibos verdes.

“O mais engraçado é que eu nem sequer era funcionário do partido há dois anos, porque é que me vão dar uma indemnização?”, recorda Vítor.

Na reunião, garante terem estado presentes Joana Mortágua (deputada do partido e irmã da dirigente, Mariana Mortágua) e Fabien Figueiredo, atual líder parlamentar do BE.

Atualmente, Vítor Machado continua desempregado.

Ex-trabalhadora diz que foi criticada por “amamentação prolongada”

Entretanto, uma das mães despedidas pelo Bloco escreveu aos militantes do partido a contar como foi despedida por telefone e criticando duramente todo o processo.

Esta mulher que, na altura, estava ainda a amamentar um filho de 9 meses, conta que o “camarada Fabian Figueiredo (em isolamento devido à covid-19)” lhe “telefonou” a despdi-la quando ela estava no seu posto de trabalho, informando-a de que “seria substituída pela camarada RS”.

“Estavam na sede vários dirigentes e deputados, mas não consideraram digno despedirem-nos olhos nos olhos“, relata ainda na carta a que a Sábado teve acesso, notando que outros ex-trabalhadores do Bloco foram despedidos da mesma forma.

Esta mãe acusa o Bloco de falta de “empatia” e salienta que a colega que a substituiu começou “a sentar-se na secretária” ao seu lado e a fazer as tarefas que já não passavam por ela.

“Na hora de despedir, o BE tomou a mesma decisão que tomam as empresas que tanto criticamos: despediu quem menos produz, não apoiou quem está em situação de maior vulnerabilidade”, critica a ex-trabalhadora.

Também relata que foi criticada por pessoas do partido devido à “amamentação prolongada” e à “longa ausência por licença de maternidade“.

Esta quinta-feira, a PGR confirmou ter aberto um inquérito aos dois casos de alegados contratos-fantasma de mãos trabalhadoras, em que o Bloco é suspeito de dar contratos a termo a duas funcionárias para não ter de as indemnizar pelo despedimento.

ZAP //

16 Comments

  1. História mirabolante, criativa, só falta o violino e o contraditório.
    Sucintamente:
    Se este senhor não concordava com as alternativas propostas, só tinha que as recusar de forma explícita, exigir as contrapartidas legais, e ir “pregar para outra freguesia”.
    Em vez disso, aceitou, concordou, aproveitou.
    Alguém o obrigou?
    Está a queixar-se de quê?

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    • Exma. sra. D. Lucinda. Não sei, desconheço a real estória deste senhor, mas quem passa por problemas de sobrevivência na vida, tem família para sustentar e também auto-sustentar-se, pagar renda, água, gás, electricidade, alimentação, etc., tem de submeter-se a certas situações como as que na notícia são narradas. Pelo que está informado na notícia, o senhor actualmente encontra-se desempregado. Onde vai buscar dinheiro para sobreviver? É muito bom criticar-se quando temos a barriga cheia e as despesas pagas, mesmo que o cenário seja relativo a um partido de esquerda. Será mesmo por isso?

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      • Snr. Francis,
        Leia de novo o meu texto e verá que em nada desrespeita a pessoa em causa.
        Não sou nenhum avatar, também vivo neste pais, onde a sobrevivência de todos é posta à prova de forma inclemente, todos os dias.
        Sou humanista, solidária e, sinceramente, uma das coisas que mais me irrita é as pessoas não aprenderem a defender-se deste mundo cão, onde reinam as lamúrias e a xico-espertice.
        Defendo e pratico a tese de que quem trabalha deve cumprir por inteiro com o que assume, na exata medida em que deve exigir igual comportamento à outra parte.
        O trabalho tem por base um contrato estabelecido de comum acordo, de igual para igual, sendo que, na construção desse acordo temos o DEVER de nos protegermos, salvaguar os nossos direitos e perceber se o que nos propõem é do nosso interesse, respeita a nossa dignidade e faz justiça à prestação do serviço a que nos propomos.
        Se por circunstâncias do foro pessoal decidimos fazer cedências, acordo é acordo, mas jamais, em qualquer momento, nos devemos permitir inverter as culpas, que por inteiro nos assistem.
        Em face do exposto, considero pouco edificante a atitude deste senhor, que em nada o abona.
        Uma denúncia cobarde, extemporânea, um desabafo maldoso no sítio errado, para as pessoas erradas.

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        • Cara Lucinda,
          como sempre a esquerda tem razão. A culpa é do desgraçado que precisa de comer não da estrutura partidária que defende incondicionalmente os trabalhadores. É a lei da dialética seja ela histórica, politica ou corporativa. Somos de esquerda temos razão porque um senhor no sec XIX disse que a evolução histórica é dialética e, como tal, a esquerda é detentora da verdade.
          Para esta gente do bloco há que atacar as empresas, os grandes grupos financeiros, etc etc etc porque exploram os trabalhadores, arranjam artifícios para não contribuírem para a Seg Social e e pagam em dinheiro cerceando as justas remunerações aos trabalhadores. Ah! e já agora, os exploradores capitalistas despedem as mulheres porque são mães.
          Viva o marxismo e troteskismo, o maoismo, o fidelismo, a terceira via (se calhar já abandonaram esta) e quejandos!

  2. A esquerda caviar deste Portugal perdido, mete nojo!
    Ainda há gentalha a defender estes escroques. Com uma reforma “dourada”…é fácil.
    Calados eram poetas…

  3. O problema de base está no modo como se tenta evangelizar a sociedade (só o Bloco é que defende, só o Bloco é que faz), mas é igual aos outros.

    Vamos usar o dinheiro dos outros, tal como o paizinho Mortágua sempre soube fazer, e pregar em nome da sinceridade democrática e da honestidade à prova de bala.

    De derrota em derrota, até à derrota final!

  4. Estas políticas liberais de direita são um atentado contra os direitos dos trabalhadores e esta é apenas mais uma evidencia dos desvarios do capitalismo, em que se tratam as pessoas como números.

    Os abusos do capitalismo têm que acabar e ainda bem que temos os partidos da esquerda, para verdadeiramente defender os direitos de quem trabalha!!!

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  5. Lucindinha, eu que pensava que eras PS, agora vejo que és Bloco, ainda lia o que escrevias. embora sempre com duvidas nas minhas interpretações, sou PS (centro) ideio certas merdices do.meu partido, mas não acho porcaria melhor. Vou passar à frente dos teus comentarios de m….

  6. “Bem prega frei Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz!”
    Este Bloco de Esquerda devia ter vergonha!
    Mandar na casa dos outros é fácil!
    Pregar uma coisa e fazer aquilo que se critica é não ter vergonha e fazer dos outros parvos.
    Cada um acredite no que quiser.

  7. Nada de novo, esta gente é hipócrita nas ideias, no que pratica e no que faz. Já tivemos antes o caso Robles em que o Sr. fazia pessoalmente o que criticava na sua vida partidaria, relativamente à especulação imobiliária. Agora é o caso de despedimentos, fazendo o Bloco o que critica os patrões de fazerem. Depois temos os casos de regimes que o Bloco defende como a Venezuela de Maduro e outras coisas parecidas. A palavra aplicavel é hipocrisia . Mas há idiotas que acreditam nas palavras e não vêm nada mais em frente. Fosse Portugal um pais com cultura politica e partidos como o BE e PCP tinham apenas os votos dos seus dirigentes e há muito teriam sumido do espectro politico nacional

  8. Caros comentadores,
    Não lamento o vosso desagrado, que muito me orgulha.
    As minhas palavras foram , quiçá demasiado educadas para o baixo nível traduzido em alguns comentários pouco elegantes (no mínimo) espelho de quem os produz.
    Chamo a vossa atenção – caso não tenham reparado – para o facto de a minha resposta, a que aludem, ter um destinatário, expresso e único, um Senhor de nome Francis.
    Quiseram ler, nada contra, mas saibam que por vcs. não me daria ao trabalho.
    Não perco tempo a dar pérolas a porcos.

  9. Esta senhora Lucinda tenta falar bem mas, não passa de uma ordinária ao dizer que não perde tempo a dar pérolas a porcos. Em democracia a sua atitude fica muito mal mas , percebe-se a sua atitude e o seu pensamento vazio. A senhora com a boca fechada era uma santa. Passe bem

    • Não sabe, não tenho culpa da sua ignorância, mas explico :
      “Dar pérolas a porcos” é uma expressão muito usada, em tudo semelhante a “gastar cera com ruins defuntos”,
      Se continuar, para si, a ser latim, então fique assim.
      Outra coisa que não sabe é se falo bem ou mal, mas eu esclareço:
      Não tento falar bem. Falo bem.
      O que realmente sabe, é que escrevo bem.
      Nem todos sabem “ler” o que escrevo, é o seu caso, e pode crer que a culpa não é minha.
      Passe bem, se puder.

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