Durante anos foram promovidos como alternativas saudáveis ao açúcar, mas estudos científicos continuam a apontar riscos para a saúde. Um novo estudo vem agora reforçar as preocupações: seis dos adoçantes mais utilizados poderão ter efeitos particularmente nocivos no cérebro.
Nos últimos anos, têm-se multiplicado os alertas, que o ZAP tem dado a conhecer.
Em 2022, um estudo sugeriu que o consumo de adoçantes artificiais, especialmente o aspartame e o acessulfame de potássio, aumenta o risco de cancro.
Em março de 2023, um outro concluiu que o “adoçante zero” pode aumentar o risco de ataque cardíaco; e em maio do mesmo ano, um outro estudo concluiu que os adoçantes aumentam o risco de mortalidade.
Ainda em 2023, em setembro, um estudo concluiu ainda que o aspartame pode causar problemas de memória.
Em julho deste ano, um estudo em larga escala conduzido por uma equipa de investigadores da Monash University e publicado na Diabetes & Metabolism concluiu que beber apenas uma lata de refrigerante adoçado artificialmente por dia pode aumentar o risco de diabetes em 32%.
Quase todos os adoçantes representam risco
Num novo estudo, uma equipa de investigadores brasileiros conclui agora que seis dos adoçantes analisados — aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol — representam riscos para a saúde, tendo sido associados a efeitos adversos na cognição em geral.
Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado na quarta-feira na revista Neurology.
Para chegar a estas conclusões, os cientistas analisaram questionários preenchidos por 12.772 adultos em várias regiões do Brasil, com uma idade média de 52 anos. Os participantes foram divididos em três grupos consoante o consumo de alimentos com adoçantes artificiais.
O grupo de maior consumo ingeriu em média 191 mg por dia — aproximadamente a quantidade de aspartame existente numa lata de refrigerante “diet”. O grupo intermédio consumiu cerca de 64 mg/dia, enquanto o de menor consumo não ultrapassou, em média, os 20 mg/dia.
O acompanhamento decorreu ao longo de oito anos, durante os quais os voluntários realizaram testes cognitivos no início, a meio e no final do estudo. Foram avaliadas áreas como a memória de trabalho, a recordação de palavras, a velocidade de processamento e a fluência verbal.
Após ajustarem os resultados a fatores como envelhecimento natural, pressão arterial, historial de doença cardiovascular e género, os investigadores concluíram que os participantes com maior ingestão de adoçantes apresentaram um declínio cognitivo 62% mais rápido do que os do grupo de menor consumo — o equivalente a 1,6 anos adicionais de envelhecimento cerebral.
Já o grupo intermédio revelou uma deterioração 35% mais acelerada, correspondendo a cerca de 1,3 anos de envelhecimento.
O estudo apurou ainda que a associação entre adoçantes artificiais e declínio cognitivo foi mais forte entre pessoas com diabetes.
“Embora tenhamos identificado ligações ao declínio cognitivo em pessoas de meia-idade, tanto com como sem diabetes, os doentes diabéticos tendem a recorrer mais a adoçantes artificiais como substitutos do açúcar”, explica Claudia Kimie Suemoto, investigadora da Universidade de São Paulo e autora principal do artigo.
“São necessários mais estudos para confirmar estes resultados e para avaliar se alternativas como o puré de maçã, o mel, o xarope de ácer ou o açúcar de coco podem ser opções eficazes”, acrescenta a investigadora, em comunicado da USP.
Houve, contudo, duas notas menos negativas. Os investigadores não encontraram esta associação em pessoas com mais de 60 anos, nem no caso do consumo de tagatose — o único adoçante que não parece ter ligação ao aumento do declínio cognitivo, independentemente da quantidade ingerida.
“Os adoçantes de baixas ou nulas calorias são muitas vezes encarados como alternativas saudáveis ao açúcar, mas os nossos resultados sugerem que certos compostos podem ter efeitos negativos na saúde cerebral a longo prazo”, concluiu Suemoto.