Depois do perdão, Francisco pediu “portas abertas a todos, todos, todos” e mais amor que do que suja as mãos. Aos olhos do Papa, esta foi a Jornada Mundial da Juventude “mais bem preparada” de sempre. Registou-se número recorde de peregrinos – “é impressionante”.
Cerca de 1,5 milhões de pessoas viveram, num ambiente festivaleiro, com orações e ‘rock’ religioso, a Jornada Mundial de Juventude (JMJ) de Lisboa em que o Papa Francisco quis mostrar uma Igreja de “portas abertas a todos, todos, todos”.
Do ambiente de festa da jornada ficou afastada a questão dos abusos sexuais de menores na Igreja em Portugal. Francisco tratou o tema logo na quarta-feira, no dia em que chegou a Lisboa, num encontro discreto, fora da agenda oficial, em que falou com 13 vítimas, pedindo-lhes perdão.
Foi na quarta-feira, no Mosteiro dos Jerónimos, perante bispos, sacerdotes e outros membros da Igreja Católica, que o Papa abordou o tema dos abusos de menores, embora nunca tenha usado a palavra sexuais.
As vítimas de abusos devem ser sempre acolhidas e escutadas, e reconheceu existir desilusão e raiva à instituição, devido aos escândalos, disse Francisco, no dia em que surgiram, em Lisboa, os cartazes a lembrar os mais de 4.800 casos de abusos em Portugal.
No domingo, a bordo do avião que o transportou de Lisboa para Roma, o Papa Francisco disse que os membros da Igreja que ocultaram abusos têm de assumir essa irresponsabilidade.
“Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade, têm de assumir essa irresponsabilidade. Depois ver-se-á de que modo, em cada um deles, mas é muito duro o mundo dos abusos”, afirmou Francisco.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão, cujos dados foram divulgados em fevereiro.
“Portas abertas a todos, todos, todos”
No que foi dizendo ao longo destes quatro dias, muitas vezes fugindo aos textos escritos, o Papa Francisco foi multiplicando a mensagem, aos jovens e aos fiéis, de que a Igreja deve ter as “portas abertas” – disse-o em Fátima – a todos.
“A todos, todos, todos”, disse logo na cerimónia de acolhimento, na quinta-feira, repetindo-o também no sábado, na vigília da jornada.
Francisco insistiu na mensagem de inclusão nesta jornada Mundial: “Todos podem entrar. É a casa mãe. Uma mãe de coração aberto para todos, todos, todos.”
Na missa que encerrou a JMJ, o Papa Francisco fez mais um pedido aos jovens, com uma frase que repetiu por diversas vezes, dizendo-lhes que são o presente e o futuro. “Não tenham medo”, afirmou, em espanhol.
Francisco reconheceu que os jovens “cultivam grandes sonhos”, mas “muitas vezes ficam com receio e pensam que não vão ser capazes”. “Todos vós quereis mudar o mundo e quereis mudar pela justiça e pela paz”, continuou.
Apesar dos apelos à tolerância, como quando disse, numa entrevista, que os transexuais também são “filhos de Deus”, durante a jornada registaram-se alguns incidentes, como a interrupção de uma missa de católicos da comunidade LGBT.
Outro discurso marcante foi na visita do bispo de Roma ao Bairro da Serafina, em Lisboa. Aí, Francisco pediu a responsáveis de instituições sócio-caritativas da Igreja que se questionem se têm nojo da pobreza, desafiando-os a sujar as mãos.
“Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?”, perguntou Francisco, no encontro com representantes de centros de assistência sócio-caritativa, no Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, para, logo a seguir, destacar que o “amor concreto, esse que suja as mãos”.
Na festa da jornada, no Parque Eduardo VII, e no Parque Tejo, rebatizado estes dias como ‘Campo da Graça’, os peregrinos suportaram temperaturas acima dos 30.º C que, nos dois últimos dias, se aproximaram dos 40.º C. Nas primeiras horas ouviram-se queixas de desorganização devido às filas, por exemplo, para encher as garrafas com água.
Nos cinco dias em que esteve em Lisboa, houve uma nota comum: as milhares de pessoas que “inundaram” as ruas para ver e acenar ao Papa.
“Insisto no diálogo entre velhos e jovens”
No avião, no regresso ao Vaticano, o Sumo Pontífice elogiou a organização da JMJ, dizendo que foi a “mais bem preparada” e com maior número de peregrinos a que assistiu.
Cerca de um milhão e meio de pessoas participaram, este domingo, na missa de encerramento da JMJ, no Parque Tejo, local onde no dia anterior, para a vigília, as autoridades avançaram o mesmo número.
“É impressionante” o número de peregrinos, declarou, referindo ainda que a celebração “foi muito bonita”
Francisco relatou que, antes de apanhar o avião, esteve com os voluntários, cerca de 25 mil, “com uma mística, um compromisso que era verdadeiramente bonito, bonito, bonito”.
“Os jovens são uma surpresa, são jovens (…), mas procuram olhar em frente e eles são o futuro. A questão é acompanhá-los, o problema é saber acompanhá-los e que não cortem as raízes. Por isso, insisto tanto no diálogo entre velhos e jovens, os avós com os netos”, afirmou.
Para o líder da Igreja Católica, “os jovens são religiosos, procuram a fé, não a agnóstica, não a artificial, não a legalista”, mas “um encontro com Jesus Cristo”.
Francisco admitiu, contudo, que há quem diga que os jovens nem sempre fazem a vida segundo a moral, para questionar “quem nunca cometeu uma falha moral na sua vida?” e responder logo de seguida: “Todos.”
Esta foi a quarta JMJ a que presidiu Francisco. A primeira, em 2013, foi no Rio de Janeiro (Brasil), no ano que foi eleito Papa. Seguiu-se Cracóvia (Polónia), em 2016, e Cidade do Panamá (Panamá), em 2019.
A JMJ, o maior evento da Igreja Católica, realizou-se pela primeira vez em Portugal.
ZAP // Lusa
Jornada Mundial da Juventude - JMJ 2023
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Essa do “Amor concreto que suja as mãos” , deixa-me muito perplexo , ou é uma gafe ou uma frase de mau gosto ! ….remeto esta afirmação do Papa , para um Psiquiatra avaliar!