Rendeiro estaria falido. África do Sul investiga a morte na prisão

10

Luís Miguel Fonseca / Lusa

O ex-banqueiro João Rendeiro no Tribunal de Verulam.

Falido e sentindo-se isolado, até abandonado pela advogada sul-africana que ia deixar de o representar por alegada falta de pagamento, José Rendeiro ter-se-á suicidado na prisão. Mas a África do Sul está a investigar as circunstâncias da morte do ex-banqueiro.

A advogada do antigo presidente do BPP, que foi encontrado enforcado na prisão de Westville, em Durban, explica que ia deixar de representar João Rendeiro no julgamento do processo de extradição devido à falta de pagamento.

Em declarações à Lusa, June Marks refere que tomou “há um mês” a decisão de deixar a defesa de João Rendeiro devido a razões financeiras.

“Ele não tinha fundos e o Estado deveria nomear um advogado oficioso para assistência jurídica”, refere, confirmando ter informado as autoridades sul-africanas desta situação. “Ele insistiu para eu continuar, mas não tinha fundos para pagar“, nota Marks.

A advogada revela que Rendeiro tinha justificado a sua falta de meios financeiros com o arresto dos bens devido aos processos judiciais que enfrentava em Portugal.

A conferência de pré-julgamento para a audiência de extradição de Rendeiro ia realizar-se a 20 de Maio. Mas o ex-banqueiro ia a tribunal, nesta sexta-feira, no âmbito da requisição da sua advogada para abandonar o caso.

Rendeiro com “comportamento errático”

Rendeiro foi encontrado enforcado numa cela na cadeia de Westville, uma das mais perigosas do mundo, onde estava detido desde 11 de Dezembro de 2021.

Os serviços prisionais sul-africanos revelam que o ex-banqueiro “estava numa cela única quando se enforcou“.

“Foi depois de trancado, portanto ninguém podia estar envolvido ou ter acesso a ele“, nota à Lusa o porta-voz dos serviços prisionais da África do Sul, Singabakho Nxumalo, descartando, assim, o envolvimento de terceiros na sua morte.

Os serviços penitenciários sul-africanos já abriram uma investigação para determinar as causas da morte. O corpo seguiu para a morgue para ser autopsiado.

“Assim que tivermos os resultados da autópsia, serão anunciadas as causas da morte“, garantem os serviços prisionais da África do Sul numa nota divulgada pela CNN Portugal.

“Estamos também a investigar a hora em que se realizou a última ronda [às celas], a hora a que foi visto na cela e quando é que foi constatada a morte”, aponta a mesma nota.

Rendeiro sofria de problemas cardíacos e chegou a ser observado por um médico na prisão.

Também recebeu ameaças de morte de outros reclusos que queriam dinheiro, sabendo que ele era um ex-banqueiro. June Marks revela que Rendeiro chegou a pagar a alguns desses reclusos.

A advogada confessa-se “em choque” com a morte. “Não sei como é que isto pôde acontecer”, refere ao CM “entre lágrimas e soluços”, segundo o jornal.

Marks diz que o ex-banqueiro revelava um “comportamento errático” nos últimos dias, notando “uma mudança drástica” na sua atitude. Terá passado de um estado “mentalmente forte” e “ansioso” pelo julgamento do processo de extradição, para um comportamento “tenso e apreensivo com o futuro”.

Rendeiro estava a poucos dias de completar 70 anos, o que aconteceria no próximo dia 22 de Maio.

Numa entrevista à CNN Portugal, o ex-banqueiro tinha revelado uma carta da sua autoria onde tinha escrito “liberdade ou morte”. Nessa ocasião, chegou a dizer que o “suicídio” era visto com “nobreza” por algumas culturas.

Consulado realça “violência” e “falta de condições” da prisão

O conselheiro português na área consular de Joanesburgo, Vasco Pinto de Abreu, pede ao Governo para divulgar os resultados da autópsia e do inquérito sul-africano à morte do ex-banqueiro.

“Já em Dezembro, aquando da sua detenção, tinha alertado para o risco que qualquer cidadão detido na África do Sul enfrenta nas cadeias locais”, frisa o conselheiro citado pela Lusa.

Vasco Pinto de Abreu sublinha que a cadeia de Westville é conhecida “pela insegurança, violência, falta de condições sanitárias e excesso de lotação nas celas”.

“Julgo que o tempo excessivo que este processo levou poderá ter contribuído para este trágico desfecho”, adianta ainda o conselheiro português.

Rendeiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco 13,61 milhões de euros.

Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, com Rendeiro a ter de cumprir uma pena de prisão efectiva de cinco anos e oito meses.

Foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.

O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

10 Comments

  1. Fugir para a África do Sul, um país com um dos piores sistemas carcerários do mundo foi uma péssima escolha. Até o Brasil seria melhor porque tem prisões destinadas a detentos com formação superior, universitária e Rendeiro era Doutorado. Ficar em Portugal e cumprir 10 anos de prisão (saía com 5 por bom comportamento) teria sido melhor que a morte. Avaliou muito mal os riscos, a mesma situação que terá levado à falência do Banco.

    • FM: Uma péssima escolha? Quanto a mim a escolha acertada! Pena é não haver um bom punhado deles que andam por aí à solta a gozar a vida à custa de quem trabalha, não terem a mesma ideia e o mesmo desfecho!

  2. O desfecho foi este por escolha do próprio. Ora o processo judicial de extradição somente ocorreu por requisição de uma recusa em ser extraditado por parte do arguido, pois as autoridades judiciais da África do Sul nunca indicaram que ele não podia vir para Portugal por sua propria vontade para cumprir as penas que já tinha para cumprir e acompanhado por autoridades portuguesas que fossem lá buscá-lo. O senhor quis acreditar que se safava de cumprir as penas de prisão em Portugal com o processo na África do Sul, mas aquilo iria ser um trâmite infinito, ele viu que não havia saída. Se tivesse cumprido em Portugal, ao fim de 5 ou 6 anos saía e ainda gozava com algum dinheiro que soube esconder. A família, obviamente que sofre com a situação e com a perda do familiar, mas na convivência dos actos praticados, não largarão de ir tratar de recuperar o que lá anda em offshores, Suíça e outros lugares que sabem bem onde são e quanto lá está. O homem quando foi detido utilizava uma duzia de cartões de débito ou crédito de diversas entidades estrangeiras onde tinha contas, não ficou de repente sem esses montantes. O crime não compensa, neste caso a justiça funcionou em Portugal, apenas não se compreende como foi possível que saísse do país. Daí para a frente nada funcionou mas percebeu-se porquê.

  3. Muitas informações contraditórias, e histórias descabidas, eu, como talvez a maioria dos Portugueses já não acreditam na comunicação social, não digo nossa,porque não é, aliás a comunicação social não deverá fazer grande diferença da comunicação social Russa de Putin, cada uma serve a alguém, menos á sociedade, as RTPs pagas por os cidadãos, devia fazer a diferença, já que não depende de capitais ou interesses de grupos, acionistas, e Publicidade, mas não faz, consegue ser pior que as televisões Privadas.

      • Não há diferença, ou melhor, há, uma controlada por os médias,ao serviço de um punhado de gente, enquanto nos facebook’s as bocas são ao gosto de cada um.

        • Não digas (mais) disparates… essas afirmações são um misto de ignorância e lavagem cerebral/propaganda que tipicamente se espalham nos Facebook’s e que afetam os mais “distraídos”…

          A RTP é pior em quê?
          Mostra um exemplo!

          Portugal ficou em 7° lugar no ultimo ranking dos Repórteres Sem Fronteiras relativo à liberdade de imprensa (em 180 países)!
          A título de exemplo, os EUA ficaram em 42°… e a Russia em 155º!!
          rsf.org/en/ranking

  4. Parece-me que, apesar do dinheiro que deveria ter para lhes pagar, os seus advogados não deverão tê-lo aconselhado bem relativamente ao destino que deveria escolher caso decidisse fugir. Foi de facto uma péssima escolha! A sua advogada sul africana abandonou-o e, depois, desfez-se em lágrimas quando soube da sua trágica morte! Enfim! Teias que a lei tece.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.