As gravações da caixa negra do avião privado que se despenhou na quarta-feira com o candidato socialista à Presidência do Brasil, Eduardo Campos, não corresponde ao último voo do aparelho.
“As duas horas de gravação áudio, limite máximo de registo do equipamento, obtidas e validadas pelos especialistas, não correspondem ao voo realizado a 13 de agosto (quarta-feira)”, indicou a Força Aérea Brasileira (FAB), encarregada da investigação sobre o acidente, em comunicado.
No entanto, esses registos de voz não são um “elemento indispensável” para determinar as causas do acidente, lê-se no documento.
“As razões pelas quais a gravação obtida não corresponde ao voo serão analisadas durante a investigação”, acrescenta a FAB.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), por lei, uma aeronave não pode decolar com o gravador de dados de voz inoperante.
Antes da decolagem, o comandante é obrigado a verificar se o equipamento funciona. Há dois botões na cabine de comando de um jato Cessna para esse efeito.
É possível que uma falha tenha feito o gravador parar de registar as conversas na cabine, mas o piloto consegue desligar o equipamento, se retirar um disjuntor na cabine. Nesse caso, a gravação é interrompida, mas as conversas anteriores não são apagadas.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Júlio Delgado, deputado federal do PSB por Minas Gerais, disse estar “estarrecido” com a falta de dados das caixas negras.
“Este resultado é muito suspeito”, diz Delgado. “A caixa-preta foi encontrada muito rapidamente e é estranho não ter gravado o áudio do dia do acidente”.
“Não vamos ficar tranquilos com isto. Queremos ter acesso aos dados”, acrescentou o deputado.
Acidente que abalou o Brasil
Em terceiro lugar nas intenções de voto para as eleições presidenciais de 05 de outubro próximo, com a ecologista Marina Silva como vice-presidente, Eduardo Campos, de 49 anos, viajava num jacto Cessna 560XL que se despenhou na quarta-feira numa zona residencial de Santos, uma cidade do litoral do Estado de São Paulo, no sudeste do Brasil.
As sete pessoas — entre as quais os dois pilotos — que seguiam a bordo do avião de campanha de Campos morreram.
Os destroços do aparelho e os restos mortais das vítimas ficaram espalhados por uma vasta área.
Com uma longa carreira política, durante a qual foi governador de Pernambuco (nordeste), ministro e deputado, o candidato socialista apresentava-se como uma alternativa ao Partido dos Trabalhadores (PT, no poder) e ao Partido da Social-Democracia (PSDB, oposição), que governam o país há 20 anos.
As suas cerimónias fúnebres deverão realizar-se nos próximos dias no Recife, a capital de Pernambuco, onde será celebrada uma missa ao ar livre.
ZAP / Lusa
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