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Ambulâncias à porta do Santa Maria há 24 horas. Hospital avança com pré-triagem

Mário Cruz / EPA

A entrada do serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, é mais uma prova da situação caótica vivida em Portugal. No dia em que foram registados mais de 16 mil novos infetados, chegaram a estar cerca de 40 ambulâncias paradas em espera à porta deste hospital.

Mais uma noite de caos no Hospital de Santa Maria. A fila de ambulâncias à porta da unidade hospitalar não para de crescer e, segundo o jornal online Observador, chegaram a estar paradas na entrada da urgência cerca de 40 ambulâncias. Esta manhã, a primeira ambulância estava lá parada há 24 horas.

Para tentar evitar esta situação, o presidente do conselho de administração, Daniel Ferro, anunciou que as regras de triagem vão ser alteradas. A partir desta sexta-feira, uma equipa do INEM e da Proteção Civil vai fazer uma pré-triagem dos doentes que chegam de ambulância.

“Se for uma situação que justifica no acesso aos cuidados do hospital, esse acesso vai ser feito e é feito com mais tranquilidade. E foi já combinado com a ACES [Agrupamentos de Centros de Saúde] de Sete Rios e com a ACEs de Odivelas que vão receber todas aquelas situações para as quais têm cuidados de igual qualidade”, disse o responsável, citado pelo jornal digital, acrescentando que, neste momento, a “situação não está sob controlo”.

Depois de uma sondagem realizada nos últimos dois dias, Daniel Ferro pode assegurar com segurança que 85% dos doentes transportados para o Santa Maria a bordo de uma ambulância não precisavam de cuidados urgentes e poderiam ter sido atendidos em centros de saúde.

O presidente do hospital alertou novamente para que os casos assintomáticos ou com sintomas leves de infeção respiratória procurem também os centros de saúde, de modo a desimpedir os hospitais para os casos mais graves. Durante o fim-de-semana, acrescentou, os postos de atendimento no Santa Maria também vão passar de 33 para 51.

Em declarações ao à mesma publicação, fonte oficial do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte disse que “70% dos encaminhamentos feitos pelo CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes) são de fora da área de influência do Hospital de Santa Maria”.

Um cenário que foi agravado com a situação no Hospital Amadora-Sintra – Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) – que não está a receber doentes enquanto não estiver resolvida a sobrecarga na rede de fornecimento de oxigénio.

Mas também pela desigualdade do esforço feito pelos hospitais da região. Tanto que, esta semana, sete hospitais de Lisboa, incluindo o HFF, enviaram uma carta à ministra da Saúde, Marta Temido, a pedir maior equilíbrio na distribuição de doentes.

“Esse documento sistematizou por escrito o que tem sido apresentado em inúmeras reuniões. A meu ver, as disparidades nas taxas de esforço da resposta covid entre hospitais da mesma região deveriam ser muito mais ténues. (…) Se todos tivermos níveis de esforço idênticos, conseguiremos dar uma melhor resposta global, diminuindo o risco de colapso do sistema”, afirmou Marco Ferreira, presidente do conselho de administração do Amadora-Sintra, em entrevista ao semanário Expresso.

Esta quarta-feira, a governante esteve reunida com os hospitais de Lisboa para avaliar a capacidade instalada, mas acabou por fazer o apelo para que todos se mobilizem da mesma forma e que abram nesta fase todas as camas possíveis.

Numa nota enviada à agência Lusa, a Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH) defendeu a necessidade de “reorganização do atual Sistema Integrado de Emergência Médica” (SIEM), considerando que este cenário das ambulâncias é uma consequência de “protocolos e orientações desadequadas” que “deveriam ser adaptados à situação que o país atravessa”.

Portugal contabilizou, esta quinta-feira, mais 16.432 novos casos de covid-19 e 303 mortes, tendo sido o pior dia desde o início da pandemia. Só na região de Lisboa e Vale do Tejo foram registados 8.621 infetados e 142 óbitos.

Filipa Mesquita, ZAP //

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