O líder do PCP subiu este domingo o tom das críticas ao Bloco de Esquerda, que acusou de ter colaborado na “farsa do PSD” sobre a descida do IVA da eletricidade para 6% no Orçamento do Estado de 2020 (OE2020).
Três dias depois de a Assembleia da República ter “chumbado”, na quinta-feira, uma proposta do PCP, e de o PSD ter retirado a sua na votação final global do OE2020, Jerónimo de Sousa aproveitou um comício em Sacavém, Loures, para fazer o contra-ataque aos bloquistas, aconselhando-os a “retirar a lição” do que aconteceu.
“Não tivesse o BE aceitado credibilizar a encenação do PSD, acendendo à chantagem de aprovar as ditas medidas de compensação da receita para manter o excedente orçamental, e o PSD não teria tido sapatos para fazer o caminho que fez”, acusou Jerónimo de Sousa.
E sugeriu aos bloquistas que dirijam as críticas a outros, que não os comunistas, e retirem “a lição”: “Se o BE está hoje arrependido do papel que aceitou desempenhar nesta farsa do PSD, em vez de se atirar ao PCP, deve retirar a lição que se impõe e não voltar a alinhar nestas encenações.”
No domingo, no comício de Sacavém, Jerónimo de Sousa pediu às pessoas que, quando receberem a fatura da eletricidade, com o IVA a 23%, “se lembrem” de quem terá impedido a descida para 6%.
Na quinta-feira, o líder parlamentar dos comunistas, João Oliveira, acusou o PSD de ter “montado uma encenação” com a baixa do IVA para a eletricidade de uso doméstico “nos sapatos do Bloco de Esquerda” durante o debate do Orçamento, no parlamento, que ficou marcado por esta polémica em torno da baixa do IVA.
Os sociais-democratas propuseram a descida do IVA na eletricidade de uso doméstico, mas fizeram depender o seu avanço da aprovação de medidas de compensação, como a redução de despesas nos gabinetes ministeriais e entrada em vigor em outubro, mas acabou por retirar a proposta depois de serem “chumbadas”.
Na quinta-feira, no parlamento, o PSD prometeu, primeiro, votar a proposta de redução do valor do IVA, mas quando a medida foi a votos optou pela abstenção, dado que foi alterada a ordem de votação das propostas.
CDS-PP diz que não negociou voto com Governo
O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, garantiu, este domingo, que o partido não fez depender a sua posição no IVA da eletricidade “de nenhum tipo de contrapartida”, tendo apenas transmitido ao Governo que considerava a “medida irresponsável”.
“Eu vi noticiado em alguns órgãos de comunicação social que o CDS tinha estendido a mão ao Governo. Quero ser absolutamente claro nesta matéria. O CDS-PP não faz favores ao Governo socialista”, começou por responder aos jornalistas, à margem do 38.º Congresso, quando questionado sobre o voto contra no OE2020 das propostas que pretendiam descer o IVA da eletricidade, entre as quais uma do PSD.
De acordo com o líder democrata-cristão, o CDS-PP manteve a “posição absolutamente coerente do início ao final do processo”, garantindo que não dança “com o Bloco de Esquerda nem com o PCP”. “A medida, aos olhos do CDS, foi irresponsável e é verdade, quando o Governo, à semelhança do que fez com outros partidos, contactou o CDS, nós dissemos apenas, tão só, qual seria a posição do partido”, respondeu.
Francisco Rodrigues dos Santos assegurou que o partido não fez depender a sua posição do CDS de “nenhum tipo de contrapartida nem medida a ser aprovada em sede parlamentar”.
“O CDS tem um papel previsível, coerente, seguro e estamos absolutamente conscientes de que fizemos não oposição ao nosso país, mas servimos os portugueses de modo a que não se instalasse uma crise política, uma situação de desgoverno e não quisemos reeditar um caso que para o centro-direita deixou as suas marcas que foi o famigerado episódio dos professores”, criticou.
O líder do CDS-PP espera que “a partir deste congresso a escada esteja lançada” e que seja possível “estabelecer estes canais de comunicação para que soluções que sejam úteis aos portugueses possam ser tomadas em convergência com partidos que têm esta comunhão de ideias e de valores que podem ser traduzidos em boas políticas para o país”.
“Ora, o que se viu não foi isso. Uma medida tornou-se absolutamente irresponsável, cujas compensações não permitiriam acomodar do ponto de vista orçamental a descida desse mesmo IVA e quem pagaria, mais ou cedo ao mais tarde, seriam os portugueses”, condenou.
Rodrigues dos Santos sabe “como é que estas histórias começam” e também pode “adivinhar como acabam”. “É certamente com o Governo aumentando a carga fiscal por outra via, indo aos bolsos dos portugueses, colocando-os numa situação de ainda maior ameaça e de esbulho por parte da administração fiscal”, disse.
ZAP // Lusa