O presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, assumiu numa entrevista publicada esta quinta-feira ter responsabilidades nos problemas financeiros que o grupo atravessa, e admitiu que os acionistas deveriam ter prestado mais atenção à parte não financeira.
Numa entrevista hoje publicada pelo Jornal de Negócios, Ricardo Salgado afirmou que os problemas na Espírito Santo International (ESI) tiveram como base uma menor atenção dada à área não financeira do grupo desde 2008, devido à crise.
O Banco de Portugal detetou irregularidades nas contas da ESI e concluiu, com base numa auditoria divulgada na quarta-feira, que a situação financeira é grave.
A conclusão do Banco de Portugal consta do prospeto do aumento de capital do BES divulgado na CMVM, no qual é acrescentado que a holding está num processo de reorganização.
Na entrevista ao Negócios, Ricardo Salgado sublinha que “o grupo cometeu erros“.
“A crise bateu forte e bateu forte no grupo. As necessidades de concentração das nossas atenções e esforços no setor financeiro, principalmente a partir de 2008, levaram a uma menor atenção na área não financeira“, afirmou o líder do BES.
“Todos nós cometemos erros e eu assumo que o grupo cometeu erros, mas erros provocados pela nossa estrutura e organização no topo, à qual deveríamos ter prestado mais atenção”, acrescentou.
De acordo com Ricardo Salgado, embora a ESI seja a holding de topo do grupo e onde se sentam os cinco principais acionistas, todos são da área financeira.
No entanto, “a necessidade de concentração e de tempo para dar a volta à crise levou a que não tivéssemos prestado atenção à nossa organização administrativa, financeira e contabilística no topo do grupo”, disse.
Segundo Ricardo Salgado, os problemas apanharam os acionistas “desprevenidos e despreparados” para a situação, devido à dispersão enorme de atividades e holdings que o grupo tinha.
“Nunca ninguém nos disse que tínhamos de consolidar as holdings. O nosso responsável pela área dizia que só com 30% do capital a exigir a consolidação é que nós devíamos fazer a consolidação”, adiantou o fundador do BES, admitindo que os acionistas perceberam depois que não era assim e que “havia uma parte da dívida que estava mal contabilizada“.
Decisão não foi do BdP
Sublinhando que o grupo começou de imediato a fazer uma reestruturação, Ricardo Salgado garantiu que a análise das empresas mostrou “que o grupo é sustentável” e que “a dívida é sustentável”, mas que tinha de constituir uma provisão.
“Foi a Pricewaterhouse, como auditor, que propôs uma provisão de 600 milhões. O Banco de Portugal imediatamente ordenou uma auditoria à ES International, uma auditoria especial à KPMG. E A KPMG propõe uma provisão de 600 milhões”, lembrou.
“O que ficou decidido é que iríamos constituir uma provisão de 700 milhões. Então foi o grupo – já vi muitas vezes escrito que foi o Banco de Portugal – que decidiu que a provisão devia ser toda no ESFG [Espírito Santo Financial Group]”, referiu Ricardo Salgado.
O BES publicou na terça-feira à noite o prospeto do aumento de capital de até 1.045 milhões de euros, no âmbito do qual o banco vai emitir até 1.607 milhões de novas ações, ao preço de 0,65 euros cada uma.
Segundo o ESFG, a provisão extraordinária nas contas de 2013 foi feita devido à preocupação de que várias empresas não financeiras do grupo Espírito Santo, caso da Espírito Santo International, não tenham capacidade de reembolsar o papel comercial colocado junto de clientes do BES.
O prospeto do aumento de capital refere ainda que a Espírito Santo International tem “em marcha um programa de reorganização do seu grupo e de desalavancagem” para “reequilibrar a sua situação financeira” e “proceder ao reembolso do passivo”.
/Lusa
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