O ministro das Finanças, Mário Centeno, disse hoje que podia afirmar “101 vezes” que não há aumento de impostos no próximo ano, tendo o PSD avisado que as intervenções do governante jogam contra ele próprio.
“Infelizmente o deputado Duarte Pacheco [PSD] não está na sala, mas eu vou responder às questões que ele me colocou”, respondeu Mário Centeno após uma ronda de perguntas.
“Ele teria a possibilidade de ouvir 101 vezes eu dizer que não há aumento de impostos e se conseguisse ler nos meus lábios seria dois em um: não há aumento de impostos”, disse o ministro.
Logo após a intervenção do ministro, o deputado do PSD Miguel Morgado considerou que as intervenções do governante estão marcadas por sectarismo e contêm uma “sequência de truques“, alertando que isso joga contra Mário Centeno.
O deputado social-democrata retomou as referências literárias para afirmar que a que melhor se adequa à governação de Mário Centeno é ‘O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde‘.
“Primeiro é um homem de ciência, mas bebe uma poção e troca a racionalidade pela irracionalidade”, afirmou Miguel Morgado, antecipando que esta história “acaba mal”.
Na resposta, Mário Centeno considerou que o deputado do PSD “fez da sua intervenção um conjunto de previsões de cartomancia”.
Por sua vez, o deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira voltou a trazer ao debate desta tarde na Assembleia da República a discussão sobre a renegociação da dívida, com o ministro a admitir que essa é uma discussão “desafiante”.
“Esse debate deve ser feito no contexto da União Europeia. É nesse contexto que colocamos essa questão, não nos podemos eximir desse debate”, afirmou Mário Centeno.
Já a deputada do CDS-PP Cecília Meireles considerou que esta proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) é uma “oportunidade perdida de uma vez por todas se falar de crescimento económico a sério”.
“Este orçamento está a comprometer um futuro em nome de um presente que não é assim tão brilhante”, lamentou.
Proposta não inclui “nenhum corte de 600 ME” nas pensões
O ministro das Finanças afirmou ainda que no orçamento para 2017 “não consta nenhum corte de 600 milhões de euros nas pensões, como constava no Programa de Estabilidade de 2015“, nem o “congelamento de mais de dois milhões de pensões”.
O governante respondia a uma pergunta do deputado do CDS-PP Pedro Mota Soares sobre as medidas relativas às pensões previstas na proposta orçamental.
Anteriormente, Pedro Mota Soares, antigo ministro do governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho, tinha afirmado que, em 2017, no mesmo ano em que pensões acima de 7.500 euros mensais têm aumentos superiores a 200 euros, as pensões de cerca de 200 euros terão aumentos de cerca de um euro.
Para o deputado do CDS, “este orçamento tem uma enorme marca de insensibilidade social” e fará com que estes pensionistas “fiquem pior em 2017 e vão perder poder de compra em 2017, como perderam em 2016”.
Pedro Mota Soares disse ainda que “mais grave do que isto” é o Governo “dizer a um milhão de pensionistas que não vão ser aumentados porque no passado já receberam, como se fosse um privilégio receber pensões de 240 euros por mês”, considerando que se trata de “uma revanche contra estes portugueses que são muitas vezes os mais pobres dos pobres em Portugal”.
ZAP / Lusa
OE 2017
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Ainda não percebi o que leva técnicos ou académicos a comportarem-se como políticos no seu pior, quando se tornam ministros das finanças. É que ficavam muito melhor no registo anterior.
Passou-se isto com Teixeira dos Santos, depois com Maria Luís Albuquerque e agora com Centeno.
Deviam limitar-se ao critério estritamente técnico e situar-se num plano mais elevado, deixando de lado tricas, comentários de baixo nível e ambições políticas… para que não estão evidentemente talhados.