Yonhap

Kim Go-eun não conseguiu conter as lágrimas na apresentação de “You and Everything Else”
Duas amigas, 30 anos de amizade, e um pedido impossível. Na apresentação da nova série da Netflix “You and Everything Else”, a conceituada atriz Kim Go-eun não conseguiu conter as lágrimas.
Tentou falar, interrompeu-se, tentou novamente. A sala esperou.
Kim Go-eun estava a chorar.
Não eram lágrimas ensaiadas, como as que os atores produzem a pedido em conferências de imprensa, mas soluços reais, que a faziam suspirar e obrigaram à interrupção da sessão de apresentação de “You and Everything Else“, que aconteceu nesta sexta-feira num hotel em Seul.
Não se tratava de revisitar alguma tragédia pessoal ou marco da carreira. Kim estava a tentar explicar a sua personagem na nova série da Netflix sobre duas mulheres cuja amizade atravessa três décadas de carinho e ressentimentos, antes de uma delas fazer à outra um pedido extraordinário: acompanhá-la à Suíça para uma morte assistida.
“Isto mexe sempre comigo — é como o meu botão das lágrimas“, conseguiu finalmente dizer Kim, depois de enxugar os olhos. “É isso que torna este trabalho tão precioso. Continuava a pensar: como posso despedir-me da Sang-yeon? Como posso fazê-lo da forma certa?”
A produção junta Kim a Park Ji-hyun, como Eun-joong e Sang-yeon, amigas de infância cuja relação oscila entre admiração, ciúme, reconciliação e tudo o que o título (“Tu e Tudo o Resto”, em tradução livre) promete, diz o The Korea Herald.
No enredo, Eun-joong cresce pobre, com uma mãe solteira, mas irradia confiança por ter sido profundamente amada. Sang-yeon vem de uma família abastada, mas cresceu privada de afeto — privilegiada, mas magoada, incapaz de expressar o que realmente sente.
É um contraste evidente com outras produções coreanas da Netflix deste ano: nada da violência estilizada de Karma, nem das intrigas vingativas de Mercy for None.
Se alguma se aproxima, é a dor silenciosa de “When Life Gives You Tangerines“, com a sempre excecional Lee Ji-eun (ou IU, para quem acompanha K-Pop).
Park, que já tinha contracenado com Kim na segunda temporada de Yumi’s Cells, debateu-se com o peso do pedido final da sua personagem. “Arrastar alguém para testemunhar a tua morte — é egoísta, sem vergonha“, diz a atriz.
“Mas para Sang-yeon, Eun-joong é a única pessoa de quem precisa de perdão. Literalmente, não há mais ninguém”, explica Park.
Para se preparar para as filmagens, a atriz mergulhou em documentários e livros sobre decisões de fim de vida. “Não conseguia parar de pensar sobre a vida e a morte. Como representar algo que nunca vivi? Isso mantinha-me acordada.”
“Mas a Go-eun estava lá, a ajudar-me a passar por isso. Pude realmente perder-me na personagem”, confessa Park Ji-hyun.
O trailer apresentado à imprensa revelou a amizade feminina em toda a sua complexidade: duas rivais amigas a gritar uma com a outra ao longo das décadas, partilhando segredos, afastando-se, reunindo-se.
Naturalmente, o desenrolar da história obrigou as atrizes a envelhecer desde os vinte até aos quarenta anos (algo que Kim Go-eun já tinha feito brilhantemente em “Guardian: The Lonely and Great God“), com cada época trazendo empregos, circunstâncias e versões diferentes de si mesmas.
“As pessoas pensam que é necessário transformar-se dramaticamente para interpretar os quarenta”, disse Kim. “Mas, na verdade, quando se chega aos quarenta, não é como se a aparência mudasse de repente. São as pequenas coisas — a energia muda ligeiramente, a vibe altera-se. Foi nisso que me concentrei.”
Park considerou as transições mais fáceis do que esperava. “As personagens tinham empregos e circunstâncias completamente diferentes em cada década, por isso podíamos brincar com o estilo, tornar isso evidente.” Até pediu para interpretar também a versão da personagem no ensino básico — um pedido que o realizador recusou educadamente.
A química entre as duas atrizes foi impossível de ignorar. “Ter a Ji-hyun a interpretar a Sang-yeon, nem consigo dizer o quanto fui grata”, disse Kim. “Esse apoio, esse sentimento de gratidão, senti-o constantemente durante as filmagens, mesmo que nem sempre o dissesse em voz alta.”
Park parecia igualmente encantada. “Admirava-a imenso. Talvez até tivesse um pouco de inveja. Mas inveja e ciúme são emoções diferentes. Assumi isso, absorvi, tentei aprender o que pudesse com ela.”
O realizador Jo Young-min, que anteriormente explorou as nuances do romance em “Do You Like Brahms?” (2020), aplica aqui o seu talento para emoções subtis numa narrativa centrada em mulheres. Quando questionado sobre como esta história difere de outras sobre amizade feminina, foi direto ao ponto.
“Tudo começou com uma pergunta: se a tua amiga aparece a pedir-te que a acompanhes até à morte, que tipo de relação torna esse pedido possível? O que tem de acontecer entre duas pessoas para que essas palavras sejam ditas? Essa premissa move tudo.”
“Afinal, trata-se de companhia”, acrescentou Jo. “Segues estas duas personagens desde a adolescência até aos quarenta. Se as acompanhas durante toda essa viagem, algo fica contigo quando termina“.
“You and Everything Else” estreia na Netflix a 12 de setembro.