Pornografia, violência e radicalização cada vez mais cedo nos ecrãs dos jovens. Sucesso da Netflix veio pedir aos pais: estejam mais atentos.
Jamie vivia com o pai, mãe e irmã num ambiente aparentemente normal, saudável, mas esfaqueou e matou uma colega da escola enquanto os pais achavam que o filho estava seguro, por estar sempre no quarto e não a meter-se em problemas na rua, como confessa o próprio pai do adolescente de 13 anos no final da série, em que chega à conclusão: como pai, não fez o suficiente pelo seu filho.
O enredo da série da Netflix “Adolescence” chega com estrondo para avisar os pais: estejam mais atentos. Pornografia, violência, extremismo e maus exemplos de masculinidade estão cada vez mais nos ecrãs dos filhos, e cada vez mais cedo. Ainda não chegamos ao assassinato com faca, mas os jovens portugueses, tal como Jamie, também não estão seguros no quarto.
Só desde o fim de semana um alerta de “massacre” levou a buscas em casa de aluno em Santo Tirso, que ameaçou no Instagram “explodir os miolos” dos colegas que “o ridicularizaram, fizeram bullying e o rejeitaram” escreveu o estudante da Escola Tomaz Pelayo, descrito como introvertido ao Jornal de Notícias. Em Cascais, quatro jovens foram detidos por agredirem violentamente um adolescente por causa de uma música que este partilhou nas redes sociais. “A vítima foi agredida com socos na face, pontapés na barriga e vários pontapés por todo o corpo, atingindo-o principalmente na cabeça, face e tronco, fazendo com que o mesmo perdesse a consciência”, afirmou o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP.
Mas casos isolados não ajudam. São os números que mais preocupam.
A versão preliminar do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a que o Expresso teve acesso, lança um alerta sério sobre o impacto da Internet na segurança de crianças e jovens de Portugal.
A exposição à pornografia é cada vez mais precoce, a criminalidade juvenil e em grupo terá aumentado e a violência é mais comum nas redes sociais.
Segundo o relatório, a PJ identificou estratégias de recrutamento por parte de grupos de extrema-direita e outras organizações radicais que têm como alvo jovens portugueses, com recurso a IA, especialmente através de videojogos. Os alvos preferenciais destes grupos são indivíduos vulneráveis, frequentemente expostos a mensagens extremistas e carismáticas, promovidas por figuras que se comportam como influencers.
A criminalidade sexual e crescente partilha de conteúdos pornográficos — por e entre menores — também preocupa as autoridades. No WhatsApp, há grupos criados por crianças entre os 10 e os 13 anos, onde são partilhados vídeos com pornografia e violência extrema, alguns já com casos em tribunal. A pornografia circula cada vez mais em plataformas como Instagram, Telegram e YouTube. Mais preocupante é o aparecimento de menores entre os 12 e os 16 anos como perpetradores de abusos.
O relatório indica ainda um aumento de 12% na delinquência juvenil em 2024, com mais os 2060 casos — um valor que só tinha sido atingido em 2015.
Os incidentes em ambiente escolar também aumentaram. No ano letivo de 2023/2024, foram registadas 7128 ocorrências, das quais 5747 foram de natureza criminal, incluindo agressões, ameaças, injúrias e furtos.
A criminalidade em grupo (crimes cometidos por três ou mais indivíduos), atingiu o valor mais alto da última década, com quase 7300 ocorrências em 2024 — um aumento de 8% face ao ano anterior.
A PSP já lançou um alerta aos pais a explicar o duplo significado dos emojis que os filhos usam nas mensagens. Será que os pais sabem que estes símbolos e carinhas escondem mensagens de cariz sexual e associadas a drogas?
“Apesar das conversas de teor sexual entre jovens, a partir de uma determinada idade, poderem fazer parte do crescimento, a PSP apela a um especial cuidado quando se utiliza este tipo de linguagem (emojis) no diálogo com desconhecidos em chats, aplicações de encontros, plataformas de jogos online, entre outros”, escreve a PSP.
“Pais e jovens devem estar atentos a este duplo significado dos emojis, pois podem estar perante uma situação de aliciamento sexual”. Do outro lado do ecrã podem estar alguém mais velho “que pretende ganhar a sua confiança e, eventualmente, marcar encontros presenciais” sem que o jovem perceba.
Estão é a ensinar muito povo a usar esses emogi… Já não basta a série ser uma tristeza repleta de marketing, temos ainda que levar com estes iluminados!