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O príncipe Hisahito do Japão na carruagem que o levou ao Palácio Imperial para participar na sua cerimónia de maioridade
Os japoneses celebram os 19 anos do príncipe Hisahito com uma cerimónia solene no Palácio Imperial, num momento em que cresce a tensão em torno de uma crise de sucessão. A princesa Aiko é mais velha, mas na monarquia mais antiga do Mundo, as princesas não herdam o trono.
O príncipe Hisahito, segundo na linha de sucessão ao trono do Japão, atingiu a maioridade. Segundo na linha de sucessão, depois do pai, o príncipe de 19 anos apresentou-se no palácio de Tóquio para prestar homenagem aos deuses e aos antepassados.
Caloiro na Universidade de Tsukuba, perto de Tóquio, Hisahito estuda biologia e gosta de jogar badminton.
É especialmente apaixonado por libélulas e foi coautor de um artigo académico sobre um levantamento destes insetos na sua propriedade em Akasaka, Tóquio.
Sobrinho do imperador Naruhito, Hisahito recebeu uma coroa de seda preta e laca, na cerimónia deste sábado, em Tóquio, que assinala o início da sua vida adulta enquanto membro da família imperial.
“Muito obrigado por me concederem a coroa hoje, nesta cerimónia de maioridade”, disse o príncipe. “Cumprirei os meus deveres, consciente das minhas responsabilidades como adulto da família imperial. Enquanto jovem membro da família imperial, estou determinado a cumprir o meu papel”.
Nasceu a 6 de setembro de 2006 e é o único filho do príncipe Akishino, herdeiro do trono, e da sua mulher, a princesa herdeira Kiko. Tem duas irmãs mais velhas, a popular princesa Kako e a ex-princesa Mako, cujo casamento com um membro não pertencente à realeza a obrigou a renunciar ao seu estatuto real.
Hisahito é o mais novo dos 16 membros da Família Imperial, todos adultos. Ele e o seu pai são os dois únicos herdeiros do sexo masculino mais novos que Naruhito. O Príncipe Hitachi, irmão mais novo do antigo Imperador Akihito, é o terceiro na linha de sucessão ao trono, mas já tem 89 anos.
Apesar de o imperador Naruhito ter uma filha, a princesa Aiko, de 23 anos, e de esta ser muito popular entre os japoneses, a princesa foi afastada da sucessão devido às regras em vigor, que determinam que apenas homens podem herdar o trono, nota o The Guardian.
Embora a tradição imponha que apenas um homem pode dar continuidade à linhagem imperial, que, segundo a lenda, remonta a 2.600 anos, as sondagens têm revelado forte apoio popular a que uma mulher possa assumir o trono da que é monarquia mais antiga do mundo.
A sucessão foi legalmente limitada aos homens pela Constituição pré-guerra pela primeira vez em 1889. A Lei da Casa Imperial de 1947, do pós-guerra, que preserva em grande parte os valores familiares conservadores pré-guerra, também permite apenas a sucessão masculina.
Os tradicionalistas defendem que a “linha imperial ininterrupta” de sucessão masculina é a base da identidade japonesa e que qualquer alteração profunda poderia dividir o país. De acordo com a constituição do pós-guerra, a família imperial não detém poder político.
A limitação do direito ao trono a herdeiros do sexo masculino é alvo de debate há décadas. Em 2005, o governo nomeou uma comissão governamental para analisar o tema, que recomendou que o trono fosse transmitido ao filho mais velho, independentemente do sexo.
Este parecer parecia abrir caminho para que a filha do imperador pudesse um dia ocupar o Trono do Crisântemo, mas o nascimento de Hisahito, no ano seguinte, acabou por silenciar o debate, recorda a ABC News.
A estagnação do debate obrigou Hisahito a carregar sozinho o fardo do destino da Família Imperial, diz o antigo chefe da Agência da Casa Imperial, Shingo Haketa, num artigo do jornal Yomiuri, no início deste ano. “A questão fundamental não é se devemos permitir a sucessão feminina, mas como salvar a monarquia“.
Apesar do amplo apoio público à alteração das regras de sucessão, fora do brilho da cerimónia deste sábado, a atenção dos japoneses está centrada noutras questões, como a inflação em alta, observou o historiador da realeza Hideya Kawanishi.
“Se as pessoas que apoiam a possibilidade de haver uma imperatriz se fizerem ouvir com mais força, os políticos poderão levar a questão mais a sério”, afirmou Kawanishi. “Mas quando as cerimónias terminarem, a sociedade, incluindo os meios de comunicação, acalma e segue em frente“.