Em 2002, o vírus SARS saiu da província chinesa de Cantão e propagou-se por 37 países, provocando 774 mortos e mais de oito mil infetados. Para que não voltasse a acontecer, o país criou um sistema à prova de falhas para notificar contágios de doenças infecciosas – mas falhou.
De acordo com a investigação do jornal norte-americano The New York Times, com esse sistema, qualquer hospital do país deveria comunicar diretamente ao governo central de Pequim o aparecimento de um novo vírus. Assim, os especialistas poderiam atuar rapidamente para conter o vírus antes que se propagasse no país e no resto do mundo.
Por exemplo, em 2013, este sistema avisou efetivamente sobre o surto da gripe das aves e, em novembro do ano passado, notificou a presença de uma peste pneumótica na Mongólia. Porém, em dezembro, o sistema não funcionou em Wuhan.
Na altura, médicos encontraram pacientes com uma misteriosa pneumonia semelhante ao SARS. Os profissionais de saúde comunicaram-no as autoridades locais, mas, de acordo com a revista Sábado, a informação não chegou a Pequim.
Para o The New York Times, isto explica a reação tardia da China.
Segundo o mesmo jornal, “os hospitais remeteram às autoridades de saúde locais que, por aversão política a partilhar más notícias, ocultaram a informação sobre os casos ao sistema nacional de informação”.
Aliás, de acordo com o The New York Times, as autoridades sanitárias só se aperceberam do surto depois de informadores terem infiltrados documentos internos.
Por outro lado, segundo recorda a revista Sábado, alguns médicos quiseram avisar os cidadãos, mas foram silenciados. É o caso de Li Wenliang. O oftalmologista alertou amigos sobre o raro vírus. Foi detido e pressionado pelo governo para parar de fazer “comentários falsos”. Wenling morreu em dezembro, vítima do novo coronavírus.
A médica Ai Fen, chefe do departamento de emergência do Hospital Central de Wuhan, também foi silenciada. A profissional foi ignorada e repreendida pelos superiores.