Costa foge de Belém e de cargo europeu. Marcelo? Falta-lhe “costela oriental”

6

Mário Cruz / Lusa

É bom “não pôr o despertador” para acordar de manhã. Ex-primeiro-ministro não quer PGR a falar no Parlamento, comenta o “elogio” de Marcelo e recorda a série Influencer: foi como “ser atropelado e ter ficado vivo”, mas já sabe o final.

À conversa com Cristina Ferreira, António Costa considerou esta sexta-feira que as legislativas de março ocorreram no “pior momento” para o PS e que será “muito difícil” assumir um cargo europeu enquanto houver um “processo pendente”.

Convidado no programa “Dois às 10”, na TVI, o ex-primeiro-ministro abordou os “dias difíceis”, mas está confiante de que conhece o último episódio desta série que é a Operação Influencer — só não sabe quantos episódios vai ter, nem quantas temporadas. Uma coisa é certa: não quer a Procuradora Geral da República (PGR) a dar explicações no Parlamento. Para “casos concretos”, há tribunais.

Belém “nunca na vida”. Europa “depende”

Questionado sobre uma possível candidatura ao cargo de Presidente da República, António Costa volta a rejeitar a hipótese.“Já disse que é cargo que nunca exercerei na vida, podem estar todos descansados”, afirmou.

Costa, que anunciou que passará a escrever uma crónica aos sábados no jornal Correio da Manhã e irá comentar na nova televisão do grupo de media daquele jornal, admitiu ser difícil assumir um cargo europeu a breve prazo.

Questionado sobre o exercício de um cargo europeu, o anterior primeiro-ministro respondeu que “depende das circunstâncias”, mas “com um processo pendente é muito difícil haver essa solução”.

Palavras de Marcelo? “Elogio”

O ex-primeiro-ministro também foi questionado sobre as polémicas declarações de Marcelo alegadamente proferidas durante um jantar com jornalistas estrangeiros em que o Presidente da República o terá comparado ao seu sucessor Luís Montenegro: “António Costa era lento, oriental”, terá dito o chefe de Estado.

Mas para Costa, as palavras de Marcelo foram um “elogio”.

“Sou um otimista, vejo sempre o lado bom. E interpretei essas palavras como sendo um elogio, uma forma ponderada de estar na vida e de exercer a vida política”, disse, considerando a hipótese de o comentário ser uma “autocrítica” do Presidente, uma vez que não dispõe dessa “costela oriental” que pode trazer “ponderação”.

“Sou um otimista e vejo sempre o lado bom e interpretei essas palavras como um elogio a uma forma ponderada de estar na vida e de exercer a vida política. Ou talvez uma certa autocrítica por, não tendo esta costela oriental, muitas vezes haver menos ponderação por parte do Presidente”, disse.

Mas ofendido, nunca se sentiu: são “quase 40 anos” de relação com Marcelo.

Nunca foi para nós surpresa haver divergências entre nós. Isso nunca feriu as nossas relações pessoais”, acrescentou.

“Não faz sentido” Lucília Gago ir ao Parlamento

Ainda antes de começar a entrevista o ex-primeiro ministro defendeu que a Procuradora Geral da República Lucília Gago não deve ir ao Parlamento falar sobre “processos concretos”, como o  presidente da Assembleia da República (AR), José Pedro Aguiar-Branco, deu a entender que queria.

“Está previsto que a PGR apresente relatório anual na AR e é normal que seja discutido, no caso de processos concretos creio que não faz sentido que essa discussão se faça na Assembleia da República. Faz sentido é que haja informação do MP e dos órgãos da justiça, todos os órgãos prestam contas”, disse Costa, que defende que os “tribunais” e não “entidades políticas” é que devem encarregar-se de apreciar os casos.

Eleições no “pior momento possível” para o PS

As eleições ocorreram no pior momento possível para quem estava a governar“, sustentou o ex-chefe do Governo, lembrando que a inflação estava a começar a ceder, a confiança dos consumidores melhorar e as taxas de juro a dar sinais de abrandamento.

“Era difícil ter um pior contexto económico e social” para realizar eleições e, além disso, com um primeiro-ministro envolvido num processo judicial, tudo junto criou um efeito adverso para o partido no governo”, confessou.

Influencer? Foi como “ser atropelado por um comboio”

Relativamente ao momento da sua demissão do cargo de primeiro-ministro, a 7 de novembro, na sequência da Operação Influencer, Costa descreveu-a como uma “sensação de ser atropelado por um comboio e ter ficado vivo”, mas mostrou-se convicto de que, no final, ficará provada a sua inocência.

Eu conheço o último episódio desta série, não sei é quantos episódios esta série vai ter ou quantas temporadas”, ironizou, dizendo depois sentir que a confiança das pessoas em si “não se quebrou”.

Quanto à sua nova vida, Costa disse que “há pequenos luxos que se ganham”, como “ter o telemóvel desligado à noite” ou “não pôr o despertador” para acordar de manhã.

Tomás Guimarães, ZAP //

6 Comments

  1. O que não fez muito sentido foi exonerar Joana Marques Vidal para a substituir por Lucília Gago! Mas a política tem coisas, tal como o amor, que a razão desconhece

    3
    1
  2. Lucília Gago, uma peça decorativa no MP (tal como o PS pretendia)
    Bem feito xuxas!
    Este está com o papo cheiinho, esgotaram as estantes do IKA.

    2
    1
  3. Joana Marques Vidal não foi exonerada. Não foi reconduzida o que é muito diferente.
    O seu mandato de 6 anos chegou ao fim. e não foi reconduzida.
    É bem diferente.

  4. Eu penso que o ex- 1º ministro António Costa foi, entre outras coisas, vítima dos boys do PS. Mas, pronto ele gostava de dar abraços e palmadinhas nas costas aos amiguinhos …

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.