O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, afirmou esta segunda-feira que seria uma “contradição muito grande” votar contra a reforma das Forças Armadas, defendida pelo partido “há anos”, só porque foi apresentada pelo Partido Socialista (PS).
“Seria uma contradição muito grande do PSD dizer assim: nós há tantos anos que defendemos uma reforma neste sentido e agora porque ela é apresentada pelo Partido Socialista contradizemo-nos a nós mesmos e vamos votar contra só porque é do Partido Socialista, só porque não é do nosso governo”, defendeu, em declarações aos jornalistas, no Porto, onde visitou o Museu do Holocausto, citado pela agência Lusa.
No domingo, o ex-Presidente da República Cavaco Silva considerou “um erro grave” a reforma das Forças Armadas que o ministro da Defesa pretende fazer, afirmando que é “um equívoco a tempo de ser corrigido”, e que “seria chocante ver deputados social-democratas seguirem esse caminho”.
Declarando o seu respeito pelo ex-chefe de Estado cuja experiência destacou, o social-democrata sublinhou o que está em causa é uma matéria que consta dos programas do PSD “desde o tempo do Durão Barroso”, que já apontava para a necessidade de uma reforma com “mais ou menos” estes parâmetros.
“Não tem de ser exatamente assim, nem ninguém está a dizer que a forma como ela vai entrar no Parlamento é exatamente a forma como ela vai sair e poderá, na especialidade, naturalmente, sofrer alterações. Mas aquilo que é a linha de fundo é algo que esteve nos programas de Durão barroso, de Santana Lopes até, nos programas de Passos Coelho e que nós procuramos sempre levar a cabo”, observou.
Para Rio esta é uma questão de coerência, sob pena de amanhã ser o PSD a tentar fazer uma reforma e o PS a votar contra porque foi apresentada pelos sociais-democratas. “Assim o país não anda para a frente”, frisou.
O líder do PSD reconheceu, contudo, que a contestação encabeçada por ex-chefes de Estado-Maior, é algo a ter em conta no debate na especialidade.
“Não vamos ignorar. São tudo pessoas altamente respeitáveis, pessoas que conhecem bem as forças armadas, apesar de estarem já retiradas do ativo e isso naturalmente tem de ser tido em conta. Nós temos de ponderar tudo aquilo que os chefes militares dizem, a começar deste logo pelo general Ramalho Eanes, por quem eu tenho imenso respeito”, disse, sublinhando que a linha de fundo é algo pelo qual o PSD e ele próprio sempre se bateu, nomeadamente no programa de Governo que apresentou nas eleições de 2019.
A reforma das Forças Armadas estar a ser contestada por ex-chefes de Estado Maior dos três ramos, 28 dos quais – incluindo o ex-Presidente Ramalho Eanes – assinaram uma carta a criticá-la e a pedir um debate alargado à sociedade civil.
O ministro da Defesa, que em março classificou as resistências dos militares na reforma como “interesses corporativos”, criticou no início da semana passada o que considera serem “manobras escusas” de “uma agremiação de antigos chefes militares” que tenta “perpetuar a influência” no setor.
Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enquadrou a contestação dos antigos chefes militares como parte de “um amplo debate, como é próprio em democracia e salutar em democracia”.
Em meados de março, o PSD apresentou um documento com propostas para a reforma das Forças Armadas, entre as quais a necessidade de maior investimento, mas também a constituição do chefe de Estado Maior General das Forças Armadas como “chefe do Estado-Maior de Defesa”, passando os chefes dos outros ramos (Exército, Marinha e Força Aérea) para a sua “efetiva dependência direta”, em termos operacionais.
Nessa conferência de imprensa, o coordenador do Conselho Estratégico Nacional (CNE) social-democrata para a Defesa, Ângelo Correia, admitiu que o conceito de PS e PSD para o setor “é o mesmo”, o que considerou “muito bom”, e disse já ter tido contactos com o ministro João Gomes Cravinho sobre estas matérias.
// Lusa
Uma contradição muito grande… não soubesse ele que a política é feita delas.