“A Ucrânia podia ceder território”, sugere chefe da NATO

Era uma “solução possível” para a Ucrânia aderir à NATO. A guerra está num impasse – mas a Rússia está numa “situação pior”.

O chefe de gabinete do secretário-geral da NATO defendeu esta quarta-feira que a Ucrânia podia ceder território à Rússia para facilitar a sua entrada na Aliança Atlântica, uma sugestão considerada já inaceitável pelas autoridades ucranianas.

“Acho que uma solução pode ser a Ucrânia ceder território e receber a adesão à NATO em troca. Não estou a dizer que deveria ser assim, mas é uma solução possível“, disse Stian Jenssen num fórum político a decorrer na Noruega.

No entanto, realçou que a Ucrânia deve decidir “quando e em que condições quer negociar”.

“Há movimentos essenciais sobre a questão de uma futura adesão da Ucrânia à NATO. É do interesse de todos que a guerra não se repita”, referiu.

Segundo o jornal norueguês VG, Jenssen afirmou que a Rússia “está a sofrer muito do ponto de vista militar” e “parece irreal” que possa ganhar mais território, apontando que a questão é “o que a Ucrânia pode recuperar”.

Entretanto, as autoridades ucranianas já consideraram inaceitável a sugestão do alto funcionário da Aliança Atlântica.

“Que um representante da NATO esteja a apoiar a narrativa de uma cedência territorial é absolutamente inaceitável e apoia as posições da Rússia”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, citado pela agência Ukrinform.

“Afirmação infeliz”

Também por cá já surgiram reacções a estas declarações. António José Telo, professor catedrático de História na Academia Militar, fala sobre uma “afirmação infeliz” do responsável da NATO.

“Se alguém está a sofrer o peso da guerra a todos os níveis, é a Ucrânia. A Ucrânia é que sabe o que pode aguentar e o sacrifício que pode fazer para manter o seu território tão intacto quanto possível. Só a Ucrânia pode, eventualmente, um dia negociar parte do seu território”, analisou, na rádio Observador.

“Estar a fazer pressão… Só posso dar razão ao porta-voz ucraniano. Se a Rússia consegue ficar com mais território, chegamos à conclusão que pode roubar territórios aos outros de forma impune. E vai continuar a praticar esse crime”, acrescentou o professor.

António Telo avisa que a União Europeia poderia nem resistir a uma vitória clara da Rússia: “A União Europeia iria implodir”.

Rússia em situação pior

Em relação aos desenvolvimentos no terreno: “O que é incrível nisto é que, um ano e meio depois do início da guerra, a Ucrânia é que mantém a iniciativa. Tem um avanço menor do que esperava; mas tem avanços e pressiona a Rússia”.

Nesta altura, descreve o especialista, há uma preocupação dos dois lados de planear as manobras até a chuva chegar, no final de Setembro ou no início de Outubro. A partir do Outono, a manobra de meios fica muito prejudicada e as operações terrestres tornam-se mais complicadas.

“Nenhum dos lados conseguiu obter os resultados que tinham anunciado para este Verão. A Ucrânia não avançou o que queria avançar, a Rússia falava em destruir o exército ucraniano e não conseguiu – até estará numa situação relativa pior do que a Ucrânia”.

Em termos militares, há uma “situação de impasse: num momento em que os dois apresentam sintomas de dificuldade em manter o esforço militar, sobretudo do lado russo, onde a economia também começa a ceder”.