Pela primeira vez desde a invasão russa, as tropas ucranianas passaram a fronteira e avançaram sobre território russo, naquela que foi a mais bem-sucedida ofensiva transfronteiriça de Kiev. Mas qual é o objetivo?
A Ucrânia parece estar a mudar radicalmente de estratégia após dois anos e meio de guerra com a Rússia. Agosto começou com uma contra-invasão surpresa a Kursk.
Foi o maior ataque de um Exército estrangeiro em território russo desde a Segunda Guerra Mundial, e forçou os russos a evacuar milhares de habitantes da região fronteiriça e a declarar estado de emergência em Belgorod, onde a situação, diz o governador da região, é neste momento “extremamente difícil”.
As autoridades ucranianas, que continuam a garantir que controlam mil quilómetros quadrados de território russo, dizem ter passado a controlar, com a ajuda de milhares de soldados, 400 desses 1000 quilómetros quadrados apenas com a recente invasão que surpreendeu Moscovo.
Apesar de os objetivos da operação ucraniana em Kursk permanecerem em segredo militar, analistas não tardaram a tentar explicar a mudança inesperada de estratégia por parte da nação liderada por Volodymyr Zelenskyy.
Quatro motivações de Kiev
Expulsar tropas russas (e levar guerra ao agressor)
Aliviar a pressão das tropas ucranianas na frente de batalha seria o grande objetivo de Kiev.
Kiev já admitiu no passado domingo que operação pretende “desestabilizar” Moscovo e dispersar as forças mobilizadas na invasão da Ucrânia.
“O objetivo é deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia – porque eles são incapazes de proteger as suas próprias fronteiras – e transferir a guerra para o território russo”, disse um funcionário do serviço de Segurança ucraniano.
O presidente ucraniano já tinha admitido pela primeira vez no sábado o envolvimento de seu país na incursão na Rússia, afirmando que a operação visa “deslocar a guerra para o território do agressor”.
“É só justo destruir os terroristas russos no local a partir do qual eles lançam os seus ataques”, disse Zelenskyy.
Analistas citados pela agência noticiosa Associated Press consideram que o “catalisador” para esta operação consiste efetivamente no desejo ucraniano de aliviar a pressão nas suas linhas da frente, tentando desviar as forças russas para a defesa de Kursk e de outras regiões fronteiriças.
A invasão ucraniana terá mesmo levado o Kremlin a retirar tropas da Ucrânia para defender o território russo, confirmam autoridades norte-americanas ao The Wall Street Journal.
No entanto, a intensificação dos combates em torno de Pokrovsk — cidade na região de Donetsk perto da linha da frente em que a Rússia duplicou o número de ataques esta semana — parece sugerir que Moscovo “não mordeu o isco”.
Um porta-voz do exército ucraniano, Dmytro Lykhoviy, alegou em declarações ao Politico que o ataque ucraniano levou a Rússia a retirar de território ocupado na Ucrânia “um número relativamente pequeno” de unidades.
Ganhar vantagem à mesa
A Ucrânia pretende vir a constituir o seu “fundo de troca” de prisioneiros de guerra com a invasão, adiantou o próprio Zelenskyy.
Ganhar vantagem negocial nas conversações ao anexar território é um dos possíveis motivos que salta mais à vista. Até para Vladimir Putin.
“Melhorar sua posição para futuras negociações” é o objetivo de Kiev, na opinião do presidente russo — que prometeu “espremer e expulsar” o inimigo.
“Guerra de exaustão”
Perante um corpo militar russo muito maior, a Ucrânia partiu rumo a uma “guerra de exaustão”, acredita a especialista em política externa e de segurança Jen Spindel.
“A Ucrânia está a mostrar que o território russo já não é intocável e que vai atacá-lo para forçar a Rússia a deixar de bombardear e causar destruição na Ucrânia”, crê.
Aumento de moral
Alguns especialistas acreditam que a operação visa aumentar a moral das tropas ucranianas, que “estão a defender as suas posições numa desgastante guerra de atrito há um ano e meio”, escreve o especialista em Ucrânia Winfried Schneider-Deters.
Já para o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhiy Tykhi, o objetivo do ataque é muito simples: “salvar a vida do povo ucraniano e proteger o seu território dos ataques russos”.
Kiev “sem intenção” de ocupar território russo
Kiev “não tem intenção” de ocupar território russo, garantiu, no entanto, um porta voz da diplomacia ucraniana.
“A operação transfronteiriça destina-se a proteger o território ucraniano dos ataques de longo alcance desencadeados a partir de Kursk”, assegurou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhii Tykhyi.
“A Ucrânia não está interessada em obter território da região de Kursk, mas queremos proteger as vidas do nosso povo”, rematou, citado pelos media locais, indicando que a Rússia lançou mais de 2.000 ataques nos últimos meses a partir da mesma região.
Até quando?
Mas afinal: quão longe vão as tropas ucranianas?
Para Spindel, a Ucrânia não precisa de ir “particularmente longe” geograficamente. Até porque quanto mais dentro estiverem em território russo, maior é o risco de ficarem sem provisões.
No entanto, “aposta” que vão haver cada vez mais operações como esta, “mas que a Ucrânia tentará mantê-las surpreendentes”.
“A Ucrânia não se pode equiparar ao tamanho das tropas russas, mas pode continuar a recorrer a táticas superiores e à surpresa para tentar desestabilizar a Rússia”, diz à DW.
Para os EUA — que já admitiram não terem nada a ver com a invasão a Kursk — “há uma “solução fácil” para os russos: “simplesmente sair da Ucrânia”, disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
Guerra na Ucrânia
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21 Novembro, 2024 Os russos andam a denunciar… os russos. Parece a URSS
A Rússia é uma vergonha!
Fazia bem era retirar de imediato da Ucrânia e tentar salvar a face dos russos de bem, que carregarão um estigma por séculos, quando se derem conta da verdade.