O candidato a Belém apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan Gonçalves, e a candidata socialista, mas independente, Ana Gomes, estiveram frente-a-frente esta quarta-feira à noite, em mais uma ronda de debates televisivos no âmbito das eleições presidenciais, marcadas para 24 de janeiro.
Meia hora depois de Marisa Matias e André Ventura protagonizarem, na SIC, um debate aceso em que trocaram acusações mútuas, foi a vez de um liberal e uma socialista se confrontarem na TVI24, num debate que começou sem graça, com poucos pontos de encontro e de índole doutrinária.
Com a pandemia como pano de fundo, os dois candidatos mostraram coincidência de posições no que toca às eleições decorrerem em pleno estado de emergência, com Ana Gomes a considerar que é necessário “tomar medidas mais drásticas”, mas que “a democracia não pode ser suspensa“.
Ainda relativamente ao estado de emergência, que foi renovado até ao dia 15 de janeiro, os candidatos à presidência da República recusam a receita legal a que o Governo tem recorrido, mas divergiram nas suas opiniões, mostrando as profundas diferenças entre as ideologias de cada um.
A ex-eurodeputada socialista voltou a reiterar que, se fosse Presidente da República, teria recorrido a uma lei de emergência sanitária, para não banalizar o estado de emergência. Afirmação que mereceu críticas por parte de Tiago Mayan, que acusou Ana Gomes de querer “retirar a capacidade de decisão parlamentar” e de “banalizar as medidas de emergência, sem emergência”.
Mas o debate fica marcado pela comparação que Ana Gomes fez entre António Costa e Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro.
Depois de referir a “falta de comparência” do seu partido, e questionada sobre o caso do procurador europeu e do facto do primeiro-ministro ter acusado três sociais-democratas de estarem a liderar campanha internacional para denegrir a imagem de Portugal, a ex-eurodeputada considerou a posição de Costa errada.
“É o tipo de argumento que Viktor Orbán usa para atacar quem o critica e o nosso primeiro-ministro é muito melhor do que isso. Por isso custou-me ver esse tipo de resposta a críticas”, disse Ana Gomes, sublinhando que o Governo devia ter reconhecido que errou no caso do procurador europeu e que o comité de seleção internacional é que devia ter escolhido o nome para o cargo.
Mayan concordou com a posição da socialista, que ainda atenuou a acusação dizendo que “Costa é melhor do que aquilo que fez hoje”, e achou “inaceitável” e “indigno”.
O candidato liberal acrescentou ainda que “a ministra da Justiça já não devia estar em funções” e que “Marcelo acertou ao dizer, por outras palavras, que a ministra deve ser demitida”.
O debate subiu de tom com o liberal a acusar Ana Gomes de ter “andado de braço dado” com José Sócrates, sem nunca terem soado “campainhas de alarme quando andava” com o antigo-primeiro-ministro, considerando que a socialista tinha “hipermetropia, que é ver mal ao perto”.
“Não sabia da missa a metade, mas falei do que sabia. Eu não falo só sobre corrupção, eu atuo. Eu entrego denúncias fundamentadas sobre os submarinos, sobre o apagão fiscal, eu colaboro com a justiça sem nunca me substituir à justiça”, defendeu-se a socialista.
A corrupção – umas das bandeiras da candidata apoiada pelo PAN e pelo Livre – foi outro tema que evidenciou diferenças, embora à partida os dois candidatos se tenham mostrado em sintonia. Mayan Gonçalves considerou que é um flagelo em Portugal, mas “os paladinos da corrupção só falam dos sintomas” e o dedo foi apontado à visão de “Estado a mais” preconizada pelos socialistas.
Para combater o problema, o Presidente da República, podia “ter vetado a lei de contratação pública que foi aprovada recentemente que abre caminho para a corrupção”, disse o liberal.
Ana Gomes concordou com o adversário nesta intervenção, mas apontou o dedo aos liberais e propôs como uma melhor solução “não alinhar com os esquemas de desregulação que os liberais sempre defendem e que no fundo é a maior conduta para a desregulação”.
No final, Ana Gomes lembrou Mayan Gonçalves sobre uma crítica que tinha feito, em entrevista ao Observador, à ministra da Saúde, acusando-a de ser responsável pelas mortes covid e não-covid.
“É insultuoso”, disse, questionando o adversário sobre se já se teria arrependido e pedido desculpa. O candidato, apoiado pela IL, não mostrou, contudo, arrependimento e não retirou a “responsabilidade política” que atribuiu a Marta Temido.
“O que está a acontecer em Portugal não está a acontecer na generalidade dos países europeus”, aponta, referindo-se às mortes não-covid. “Há responsabilidade política” e a culpa não pode morrer solteira, disse ainda.
“É indecente ver esse tipo de considerações que não têm fundamento com a realidade”, concluiu Ana Gomes.
Para esta sexta-feira, estão agendados debates entre Ana Gomes e André Ventura (na TVI, às 20h50); Marisa Matias e João Ferreira (na RTP, às 21h); e Vitorino Silva e Tiago Mayan (na RTP3, às 22h45).
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