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Tancos. Militares verificavam e trocavam cassetes, mas o sistema vídeo não funcionava

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Paulo Cunha / Lusa

Os procedimentos de segurança em Tancos não sofreram alterações, apesar de a videovigilância não funcionar, mantendo-se a norma de tirar e pôr a cassete de um gravador que não funcionava.

João Luís de Sousa Pires, comandante da Unidade de Apoio Geral de Material do Exército (UAGME) de 2015 a 2016, no ano anterior ao furto do material, e que tem um destacamento em Tancos, foi ouvido na comissão de inquérito ao furto de material militar daqueles paióis.

O sistema de videovigilância começou a funcionar com falhas em 2006, segundo afirmou, foi considerado inoperacional em 2012 e, um ano depois, em 2013, obsoleto.

Em 2016, foram alteradas as normas de procedimentos, mas o tenente coronel Sousa Pires explicou que não foram alteradas “porque se aguardava a reparação do sistema” de videovigilância e, quando tal acontecesse, era também substituído o anexo em que era referida necessidade de tirar e pôr a cassete vídeo.

Incrédulos com a explicação, e por duas vezes, a deputada do PS Maria da Luz Rosinha e o deputado do PSD Leonel Costa fizeram a pergunta para confirmar se, mesmo desligado, o sistema de videovigilância e a obrigação de tirar a cassete, continuava nas normas de procedimentos dos militares nas rondas que faziam aos paióis.

Todos sabiam que aquilo não funcionava” e continuava a norma de “tirar e por a cassete?”, questionou a deputada do PS.

Leonel Costa, do PSD, confessou, por seu lado, que lhe custava a “aceitar as respostas” dadas depois de ouvir que a norma se manteve, mesmo sabendo que o sistema não funcionava. O tenente coronel Sousa Pires explicou, pelo menos por duas vezes, que as normas de procedimentos tinham “outras disposições” e que a parte da cassete estava no tal anexo.

Noutra audição da comissão parlamentar de inquérito, já outro militar, o coronel Teixeira Correia admitiu que os equipamentos de videovigilância eram incluídos nos planos de segurança, como se estivessem em perfeitas condições.

De resto, sobre os paióis de Tancos, Sousa Pires afirmou ter responsabilidade sobre os que pertenciam à UAGME, que eram 15, que não foram assaltados em junho de 2017, cujas chaves eram guardadas num cofre por um sargento da unidade.

Os restantes, incluindo os que foram assaltados, como os do Regimento de Engenharia 1, não eram da sua responsabilidade, disse.

O coronel João Luís de Sousa Pires, que já não era comandante da UAGME em junho de 2017, admitiu que o furto “não deveria ter acontecido” e o que afeta a imagem do Exército, mas evitou dar respostas mais especulativas.

Além do sistema de videovigilância e dos sensores, todas as anomalias detetadas em Tancos, como vedação alta ou falhas nos para-raios, foram comunicadas ao “escalão superior” e não foram resolvidas. “Se a situação continuava a mesma…”, admitiu o militar.

Nesta audição, a décima deste inquérito parlamentar, o deputado do PCP João Machado optou por não fazer qualquer pergunta.

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.

// Lusa

3 Comments

  1. Cassetes?
    Hoje em dia um sistema de video-vigilância com 10 cameras de infravermelhos e um modulo de gravação continua de video em formato digital num disco HDD ou SDD, custa pouco mais de 300eur…
    Há dinheiro para tanta coisa no plano militar e não têm 500eur para reforçar a segurança de armamento?
    Epá e depois a culpa é dos governos, que não dão orçamento suficiente para estes senhores esbanjarem.
    Ridículo, andam a brincar à tropa e visão estratégica não têm nenhuma, passam o dia a coça-los sem nada para fazer e aquilo que deviam fazer não fazem!
    Preocupam-se mais em burlar o estado com sobrefaturação de produtos e serviços e testas de ferros nas empresas que prestam serviço aos vários ramos das forças armadas!
    Uma podridão!
    Quem ouviu este senhor a falar na comissão de inquérito ficou de boca aberta com tanta verborreia!
    Depois fazem-se valer de umas pseudo medalhas penduradas ao peito…
    E andamos nós a pagar isto…

  2. Este Coronel está maluquinho… só pode!…
    E as cenas que fez na parlamento são a prova disso…
    Essa das cassetes é mesmo o cúmulo da estupidez e só pode ser mentira!
    Então preocupavam-se com o procedimento de substituição das cassetes mas não quiseram saber de manter as rondas regulares, que é o mínimo na segurança seja do que fôr?!
    Enfim… esse nem o salário mínimo vale…

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