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Tancos. Chefe do Exército e ministro deviam ter-se demitido em 2017

Miguel A. Lopes / Lusa

O antigo comandante das Forças Terrestres António Faria Meneses defendeu nesta quinta-feira, no parlamento, que o chefe do Estado-Maior do Exército e o ministro da Defesa deveriam ter-se demitido após o furto de Tancos.

“Perante o cenário, só havia uma saída possível que era a demissão do CEME e do ministro da Defesa”, afirmou o general, que se afastou e passou à reforma após o furto, durante uma audição na comissão parlamentar de inquérito a Tancos.

Para Faria Meneses, a exoneração, e posterior readmissão, pelo CEME, Rovisco Duarte, dos comandantes responsáveis pela segurança das instalações dos paióis nacionais de Tancos, foi “um ato inqualificável” e quebrou a “coesão” dos generais e militares com o general que chefiava o ramo.

Como resposta à crise causada pelo furto de Tancos, em junho de 2017, revelou ter defendido, junto do general Rovisto Duarte e no Conselho Superior do Exército, que ele próprio, como comandante da Forças Terrestres e responsável pela segurança, e o general Campos Serafino, responsável pela Logística, deveriam demitir-se.

Uma semana depois do furto, o ex-CFT pediu uma reunião ao Presidente da República, mas não foi recebido no Palácio de Belém.

A explicação dada pelo chefe da Casa Militar da Presidência, segundo relatou, é que Marcelo Rebelo de Sousa já falara sobre a questão com os órgãos superiores do Exército e uma conversa com ele poderia ser entendida como “uma quebra” na cadeia de comando.

“A única maneira de ser refundada a credibilidade da instituição militar era esta: os militares tinham de dar o primeiro passo e o primeiro passo era assumir as responsabilidades”, referiu, acrescentando que era isso que queria dizer a Marcelo.

A referência a Marcelo mereceu um reparo do socialista Ascenso Simões, sugerindo que não se fizessem outras referências ao Presidente, que é também Comandante Supremo das Forças Armadas.

Na audição, o tenente-general leu parte de um diário que anotou naqueles dias seguintes ao furto, uma espécie de “fita do tempo”, e com base no qual relatou conversas com Rovisco Duarte.

Segundo disse, o ex-CEME comunicou-lhe da decisão de exonerar os cinco comandantes porque estava a ser sujeito a muitas pressões, que não identificou. “A pressão é muita, temos de fazer alguma coisa”, afirmou Faria Meneses, descrevendo o que Rovisco Duarte lhe disse numa conversa telefónica, no dia em que o então CEME anunciou a demissão dos cinco comandantes e da qual o ex-CFT discordava.

“Se o Exército falhou em Tancos, eu falhei”

O general António Faria Meneses afirmou que nunca pensou ser possível o furto dos paióis de Tancos e admitiu as suas responsabilidades enquanto comandante das Forças Terrestres (CFT) do Exército em 2017.

“Se o Exército falhou em Tancos, eu falhei em Tancos”, assumiu, na audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar dos paióis nacionais.

Na audição, que começou às 17h00, na Assembleia da República, o general afirmou que o incidente “feriu a credibilidade das Forças Armadas” e foi uma “falha grave”. “Nunca pensei que fosse possível acontecer um assalto em Tancos”, disse ainda.

Ricardo Bexiga, deputado do PS, questionou-o sobre o conhecimento que tinha das condições de segurança nas instalações de Tancos, nomeadamente um relatório de 2012, que fazia uma descrição exaustiva das falhas, por exemplo, ao nível da videovigilância, sensores e vedações, e também sobre se o efetivo de pessoal era o suficiente.

Faria Meneses reconheceu “tudo o que foi feito” e considerou que, “face à ameaça, recursos disponíveis, aprontamento de forças”, o número de homens nas rondas era o suficiente. “Enganei-me, caiu a nódoa no meu pano“.

O caso do furto de material militar em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.

A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017, tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.

ZAP // Lusa

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