Kiev prepara-se para invasão da cidade. Russos raptam autarca

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Zurab Kurtsikidze / EPA

O presidente da câmara de Kiev anunciou este sábado que as autoridades estão a armazenar medicamentos, produtos e bens de primeira necessidade, antevendo uma possível invasão por parte das tropas russas, que já bombardeiam os arredores.

“Amigos, queridos habitantes de Kiev,a capital, em redor da qual continuam os combates, prepara-se para se defender; continuamos a reforçar os pontos de controlo; criamos reservas de produtos, medicamentos e bens de primeira necessidade”, disse o autarca da capital ucraniana.

Na mensagem, Vitaliy Klitschko acrescenta que, “pelo terceiro dia, a cidade já está a ajudar a região de Kiev a retirar os residentes das populações dos arredores, como Gostomel, Bucha, Vorzel e Irpin”, algumas das quais já foram bombardeadas pelas forças russas.

“A cidade oferece um transporte de passageiros em autocarros, e as equipas de resgate recolhem as pessoas em estações ferroviárias; os que quiserem sair da cidade são enviados de comboio para o oeste da Ucrânia”, acrescentou o autarca, citado pela agência espanhola de notícias, a EFE.

Na missiva, Vitaliy Klitschko, que é também o presidente da Associação das Cidades da Ucrânia, dirigiu-se às organizações internacionais e associações de autarcas de países democráticos para criticar “as ações criminosas dos ocupantes russos“, numa alusão ao rapto, este sábado, do presidente da Câmara de Melitopol.

Soldados russos raptam autarca de Melitopol

O presidente da Câmara de Melitopol foi raptado este sábado por soldados russos que ocuparam esta cidade do sul da Ucrânia, disseram vários responsáveis ucranianos.

“Um grupo de dez ocupantes raptou o presidente de Melitopol, Ivan Fedorov“, revelou o Rada, parlamento da Ucrânia, na sua conta do Twitter, acrescentando que “ele se recusou a cooperar com o inimigo“.

De acordo com a mesma fonte, o autarca foi detido quando estava no centro de crise da cidade, localizado a cerca de 120 km ao sul de Zaporizhzhia, para tratar de problemas de abastecimento.

Um alto responsável da administração presidencial da Ucrânia, Kirillo Tymoshenko, publicou no Telegram um vídeo que mostra soldados a sair de um edifício à distância, segurando um homem vestido de preto, com a cabeça aparentemente coberta com um saco preto.

Segundo o Rada, outro funcionário da região, a vice-chefe do Conselho Regional de Zaporizhzhia, Leyla Ibragimova, já tinha sido raptado e posteriormente libertado há alguns dias.

Melitopol, uma cidade situada entre a cidade portuária de Mariupol e a península da Crimeia, tinha pouco mais de 150.000 habitantes antes da invasão russa.

Hospital e mesquita com 80 civis bombardeados

Uma mesquita que abriga 80 civis, incluindo turcos, foi bombardeada em Mariupol, porto no sudeste da Ucrânia, onde milhares de pessoas estão cercadas há dias.

“A mesquita do sultão Suleiman, o magnífico, e de sua esposa Roxolana, em Mariupol, foi bombardeada pelos invasores russos”, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia na rede social Twitter.

“Mais de 80 adultos e crianças estão lá abrigados, incluindo cidadãos turcos”, acrescentou, sem especificar quando ocorreu o bombardeio.

As autoridades ucranianas acusaram também a Rússia de ter atingido um hospital que presta cuidados oncológicos e vários edifícios residenciais na cidade de Mykolaiv, no sul do país, com bombardeamentos de artilharia pesada.

Segundo o médico chefe da unidade de saúde, Maksim Beznosenko, várias centenas de pacientes estavam no hospital durante o ataque, que não causou vítimas. O ataque danificou o edifício e rebentou janelas.

As forças russas intensificaram os ataques a Mykolaiv, localizada a 470 quilómetros a sul de Kiev, numa tentativa de cercar a cidade.

A Ucrânia e países ocidentais já tinham acusado a Rússia de bombardear uma maternidade na cidade de Mariupol, no sul do país, na quarta-feira. Três pessoas morreram nesse bombardeamento.

O Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenskyy, partilhou no Twitter um vídeo que mostra os escombros do hospital, classificando o ataque como uma “atrocidade” e acusando o mundo de ser “cúmplice ao ignorar o terror“. Zelenskyy afirma que há crianças presas no meio dos destroços.

Ataques aéreos a terminais de petróleo

Ataques aéreos do exército russo nas últimas horas incendiaram um terminal de petróleo na cidade de Vasilkiv, na região de Kiev, enquanto outras cidades continuam sem fornecimento de água e eletricidade, de acordo com autoridades locais.

“Um depósito de petróleo está em chamas em Vasilkiv após um ataque aéreo. Na aldeia de Kriachky, o ocupante (russo) disparou contra o depósito de petróleo durante a noite”, disse Oleksiy Kuleba, administrador regional de Kiev, na sua conta na rede social Telegram.

Segundo a agência ucraniana Ukrinform, um armazém de produtos congelados ardeu na aldeia de Kvitneve, distrito de Brovary, também na região de Kiev, “após bombardeio inimigo”.

Chernigov, a norte de Kiev, também está sob ataque do exército russo e continua sem abastecimento de água, de eletricidade e de gás, que poderia alimentar os sistemas de aquecimento, anunciou o administrador regional da cidade, Viacheslav Chaus, na sua conta no Facebook.

“O inimigo continua os seus ataques aéreos e com mísseis. Pessoas pacíficas estão a morrer. Ontem [sexta-feira], uma bomba caiu sobre o Hotel Ucrânia. Não há mais hotel, mas a Ucrânia prevalece e continua a sua luta”, disse Chaus.

“A nossa missão é garantir que o Presidente russo Vladimir, uma criatura doente e pervertida, engula veneno no seu bunker nos Urais”, enfatizou Viacheslav Chaus.

O responsável confirmou que “agora não há eletricidade em Chernigov e quase não há fornecimento de gás, água e aquecimento”.

“Estamos a restaurar os sistemas, mas o inimigo continua a interromper os nossos esforços. Mantemos a compostura e fazemos todo o possível para destruir o inimigo perto de Chernigov”, disse, salientando esperar restaurar os serviços durante o dia de hoje.

Rússia afirma ter destruído centro de inteligência

Ataques aéreos russos na Ucrânia destruíram hoje uma base militar em Vasilkov, a sudeste de Kiev, e um centro de inteligência em Brovary, a leste da capital ucraniana, segundo o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.

“Armas de longo alcance de alta precisão atingiram alvos militares da Ucrânia esta manhã”, disse o militar russo, citado pela agência de notícias russa Tass, acrescentando que “um aeródromo militar em Vasilkov e o principal centro de inteligência eletrónica das forças armadas ucranianas em Brovary ficaram fora de serviço”.

O porta-voz disse ainda que caças e defesas aéreas das forças aeroespaciais russas derrubaram cinco drones, incluindo dois Bayraktar TB2, e um míssil tático Tochka-U, informando ainda que o avião russo atingiu 145 alvos das forças armadas ucranianas durante as últimas 24 horas numa operação especial na Ucrânia.

A operação, precisou, incluiu três sistemas de mísseis antiaéreos Buk M-1, oito postos de comando e centros de comunicação, cinco depósitos de munições e combustível e 78 grupos de equipamentos militares.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

ZAP // Lusa

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