Rússia voltou a bombardear Odessa, Kharkiv e Mykolaiv. Zelenskyy pede mais sanções para travar “guerra aberta” do gás

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(h) Odesa City Hall

A Rússia voltou a bombardear a cidade portuária de Odessa, Kharkiv e Mykolaiv durante a madrugada desta terça-feira, de acordo com vários relatos das autoridades regionais e da imprensa ucraniana.

No Telegram, o porta-voz da administração militar de Odessa, Sergey Bratchuk, afirmou que “o inimigo lançou um ataque com mísseis contra Odessa”, indicando que “está em curso uma operação de resgate” dos feridos.

No sábado, a Rússia já tinha atacado o porto de Odessa, um dia após ter assinado um acordo com a Ucrânia – mediado pela Turquia e pelas Nações Unidas – para desbloquear 20 milhões de toneladas de cereais retidas nos portos ucranianos.

Além de Odessa, as forças russas também bombardearam na madrugada desta terça-feira a cidade de Kharkiv. O presidente da câmara, Igor Terekhov, confirmou o ataque contra edifícios residenciais. “Não há ainda informações sobre vítimas. Espero que não haja baixas ou mortes”, declarou.

A cidade de Mykolaiv, no sul da Ucrânia, foi igualmente bombardeada durante a madrugada, como avançou o presidente da câmara local, Olexander Senkevich. Os mísseis terão sido lançados a partir do Mar Negro. A infraestrutura portuária foi o alvo central do ataque, disse o autarca.

Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, referiu que o ataque ao porto de Odessa não quebrou os compromissos assumidos no acordo da exportações de cereais, durante uma conferência de imprensa no Congo, frisando que o alvo era uma infraestrutura militar.

“Não há nada nas obrigações que a Rússia assumiu, incluindo no quadro de acordo assinadas a 22 de julho em Istambul, que nos proíba de continuar a operação militar especial e destruir infraestruturas militares”, referiu.

Depois de a Rússia ter assumido o ataque, o porta-voz daquele país, Dmitry Peskov, adiantou que as exportações não serão afetadas. “Não estão de maneira nenhuma relacionados com infraestrutura usada para a exportação de cereais. Isto não deveria afetar – e não vai afetar – o início das exportações”, garantiu, citado pela Reuters.

Esta terça-feira, mísseis ucranianos causaram um incêndio num depósito de petróleo localizado na região de Donetsk sob controlo das forças separatistas pró-russas. As autoridades rebeldes publicaram imagens de um depósito envolvido pelas chamas, mas, segundo um responsável administrativo da cidade, o incêndio foi extinto.

Mais sanções para travar “guerra aberta” do gás

Também na segunda-feira, o Presidente da Ucrânia criticou a “guerra aberta” de gás que a Rússia está a travar contra a Europa, mostrando-se cético de que os fornecimentos sejam retomados. No seu discurso diário, disse que “a chantagem de gás” é necessária “para um Estado terrorista para dificultar a vida de cada europeu”.

“Isto pode ser visto como um incentivo para o oitavo pacote de sanções da [União Europeia] UE ser significativamente mais forte”, referiu Volodymyr Zelenskyy, que apelou ao corte das ligações comerciais ao gás e petróleo russos.

As declarações surgem após a empresa russa Gazprom ter anunciado que vai reduzir drasticamente o fornecimento de gás à Europa através do gasoduto Nord Stream, devido à manutenção de uma turbina.

“Não se importam com o que vai acontecer às pessoas, como elas vão sofrer: da fome devido ao bloqueio dos portos ou do frio do inverno e da pobreza … Ou da ocupação. Estas são apenas diferentes formas de terror”, denunciou Zelenskyy.

Posição semelhante foi defendida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, que acusou a Rússia de querer “arruinar a vida das famílias comuns europeias”. “A guerra do gás de Putin contra a Europa é a continuação direta da guerra que lançou contra a Ucrânia”, afirmou Kuleba no Twitter.

De acordo com a comissária europeia para a Energia, Kadri Simson, não há qualquer razão de ordem técnica para o corte anunciado pela Gazprom no fornecimento de gás para a UE nos próximos dias.

“Trata-se de um passo politicamente motivado e estamos prontos para isso. E é exatamente por isso que a redução preventiva das nossas necessidades de gás é uma estratégia sensata”, afirmou Simson, citada pela Reuters, ao chegar a Bruxelas para um encontro entre os ministros da Energia da UE.

Procuradores tentam acelerar julgamentos

Um tribunal de Kiev adiou na segunda-feira a audição do primeiro recurso do soldado russo Vadim Shishimarin, de 21 anos, condenado por crimes de guerra na Ucrânia, enquanto os procuradores tentam indiciar judicialmente a Rússia por atrocidades em território ucraniano.

Shishimarin, que admitiu ter matado um civil e foi condenado em maio a prisão perpétua por um tribunal ucraniano, compareceu na segunda-feira de novo no tribunal. A audição foi adiada para 29 de julho devido a doença do seu advogado.

Após a retirada das forças russas da região circundante da capital ucraniana e na sequência de relatos e investigações sobre crimes de guerra, iniciou-se agora uma fase mais complexa do processo, destinada a identificar os responsáveis.

“Quando efetuávamos buscas na região previamente ocupada, encontrámos com regularidade documentos, passaportes e listas com o nome dos membros das unidades [russas], com dados completos, incluindo o local e data de nascimento”, disse Andrii Nebytov, chefe da polícia regional de Kiev, à agência Associated Press.

O caso de Shishimarin é pouco comum, pelo facto de ter sido de imediato relacionado com a morte de um homem de 62 anos na região de Sumi (nordeste) em 28 de fevereiro, ao contrário da maioria dos alegados crimes sob investigação.

Os procuradores ucranianos já registaram cerca de 20.100 potenciais crimes de guerra, e a polícia de Kiev disse ter exumado mais de 1.300 corpos.

No entanto, em julho, os procuradores ucranianos apenas conseguiram identificar 127 suspeitos, com 15 atualmente na Ucrânia indiciados por crimes de guerra e os restantes sem serem detetados. Estes suspeitos incluem três acusados por violência sexual e 64 acusados de morte intencional ou agressões a civis.

Shishimarin é um dos dez detidos que enfrentou até ao momento um julgamento por crimes de guerra, em casos que envolvem bombardeamentos indiscriminados, mortes intencionais, violência sexual, roubo, sevícias a civis e ataques a alvos civis. Seis já foram condenados, de acordo com o gabinete do procurador-geral.

Taísa Pagno , ZAP //

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