Ucrânia quer reconquistar Kherson até setembro. Rússia prevê referendo sobre a região para o mesmo mês

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Sergei Ilnitsky / EPA

As Forças Armadas ucranianas anunciaram “um ponto de viragem” na frente de combate na região de Kherson, no sul da Ucrânia, acrescentando que vão utilizar as armas fornecidas pelo Ocidente para libertar a localidade do controlo russo até setembro.

“Ocorreu um ponto de viragem no campo de batalha. Estamos a passar de ações defensivas para ações contra-ofensivas”, disse o assistente do chefe administrativo regional, Sergii Khlan, citado pelo Guardian, sublinhando: “a região de Kherson será definitivamente libertada até setembro e todos os planos dos ocupantes falharão”.

Durante o seu discurso diário, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, reforçou as reivindicações de uma contra-ofensiva bem-sucedida na região e acrescentou que a defesa ucraniana estava a avançar “passo a passo” para a cidade.

Nas últimas semanas, as tropas ucranianas têm recuperado territórios em Kherson com a ajuda dos sistemas de artilharia de longo alcance enviados pelo Ocidente.

A região foi capturada pelas forças russas no dia 03 de março. A Ucrânia acredita que a perda do território aconteceu porque os agentes dos serviços de segurança ucranianos não conseguiram fazer explodir a ponte Antonivskii que atravessa o rio Dnipro, permitindo que as tropas de Moscovo entrassem na cidade.

Entretanto, Vladimir Rogov, um dos oficiais russos na região de Zaporíjia revelou que é “altamente provável” que o referendo sobre a adesão desta região e de Kherson à Federação Russa aconteça “na primeira quinzena de setembro”.

“Tudo se encaminha para o facto de que o referendo terá lugar na primeira quinzena de setembro. Ainda não vou indicar a data exata. As comissões eleitorais estão a ser formadas”, afirmou à agência RIA, citada pelo Guardian.

Combates inconclusivos

As forças separatistas da autoproclamada República Popular de Donetsk acusaram a Ucrânia de ter bombardeado a região durante as últimas 24 horas, causando pelo menos uma morte e deixando duas pessoas feridas.

As forças separatistas de Donetsk anunciaram ainda que, em conjunto com as tropas russas, “libertaram” 225 localidades na região vizinha de Luhansk, 14 dos quais atacados pelas tropas ucranianas.

De acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido, os combates inconclusivos continuam tanto nas regiões do Donbass como em Kherson, com os comandantes russos a enfrentar um dilema de recursos: como apostar na ofensiva no Leste e reforçar a defesa na região ocidental.

O Ministério acrescentou ainda que, no dia 18 de julho, os serviços de informação britânicos identificaram uma instalação de remodelação de veículos militares russos perto de Barvinok, na região de Belgorod, na Rússia, localizada a dez quilómetros da fronteira ucraniana.

“Estavam presentes pelo menos 300 veículos danificados, incluindo tanques de combate, veículos blindados e camiões de apoio geral”, acrescentou.

A Ucrânia tenta retomar as exportações de cereais dos portos do mar Negro, mas avisou que as entregas poderão não acontecer se o ataque de mísseis russos, que ocorreu em Odessa no sábado, for um aviso de mais bombardeamentos. Zelenskyy disse que não pode confiar em Moscovo quanto ao acordo alcançado apenas um dia antes do incidente.

Segundo o Exército ucraniano, os mísseis russos não atingiram a zona de armazenamento de cereais do porto nem causaram danos significativos.

Guerra é também “contra a unidade da Europa”

O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse no domingo, durante um discurso em Paderborn, no oeste do país, que a guerra que a Rússia está a travar contra a Ucrânia é “uma guerra contra a unidade da Europa”, noticiou a agência AFP.

“A guerra que Putin está a travar contra a Ucrânia é também uma guerra contra a unidade da Europa; não nos devemos deixar dividir, não devemos permitir que a grande obra de uma Europa unida que começámos tão promissoramente seja destruída”, afirmou.

“Esta guerra não é apenas sobre o território da Ucrânia, é sobre o fundamento duplamente comum dos nossos valores e da nossa ordem pacífica”, acrescentou o chefe de Estado alemão, alertando que defender estes valores significa também estar preparado para “aceitar desvantagens significativas”.

A Rússia “não está apenas a desafiar fronteiras, não está apenas a ocupar os territórios de um Estado vizinho independente e soberano, está mesmo a desafiar o estatuto de Estado da Ucrânia”, apontou ainda.

Moldávia reconhece que invasão russa é “um risco”

“Estamos preocupados, claro que estamos”, indicou a primeira-ministra da Moldávia, Natalia Gavrilita, no programa Fareed Zakaria GPS, da CNN, reconhecendo, contudo, que uma possível invasão russa é, para já, um “cenário hipotético”. O governo moldavo diz ser o segundo país mais afetado pela invasão, depois da Ucrânia.

“Qualquer pequeno país, qualquer país que confia numa ordem internacional baseada em regras… Se um país pode decidir iniciar uma anexação, através da guerra, sem qualquer respeito pela ordem internacional, então ninguém está seguro e penso que muitos países estão preocupados”, referiu.

A Moldávia, um dos países mais pobres da Europa e que partilha fronteira com a Ucrânia, registou uma inflação de 32% em junho.

“Alemanha à beira da recessão”

Esta segunda-feira, o think tank IFO avançou que a “Alemanha está à beira da recessão”, antecipando “uma deterioração significativa (…) nos próximos meses”.

A atividade no setor industrial “caiu de forma acentuada”, enquanto no setor dos serviços “o clima empresarial [também] se deteriorou de forma significativa”.

As empresas reconhecem ser muito difícil prever o futuro próximo, o que é em si um fator que penaliza o investimento. “Os elevados preços da energia e a escassez de gás natural já estão a pesar na economia” que é a maior da Europa, disse o economista-chefe do IFO, Klaus Wohlrabe.

Rússia acusa 92 militares ucranianos

Moscovo acusou 92 membros das Forças Armadas ucranianas de crimes de guerra contra a humanidade e propôs a criação de um tribunal internacional apoiado por países que tenham “uma posição independente”, como a Síria, o Irão e a Bolívia, revelou o chefe do comité de investigação russa, Alexander Bastrikin.

De acordo com Bastrikin, a Rússia acusou “mais de 220 pessoas”, entre os quais representantes do Alto Comando das Forças Armadas e “comandantes de unidades militares que bombardearam a população civil”, revelou o Guardian, citando o site de notícias russo Rossiiskaya Gazeta.

Além dos 92 militares, mais 96 pessoas – incluindo 51 comandantes do Exército ucraniano – estão a ser procuradas por estarem envolvidas em crimes contra a paz e a segurança da humanidade, reforçou o chefe do comité.

No total, o Governo russo já iniciou 1300 investigações a membros das Forças Armadas ou políticos ucranianos. Destas, 400 pessoas foram responsabilizadas.

Estão também a decorrer investigações sobre funcionários do Ministério da Saúde da Ucrânia, que, segundo Moscovo, desenvolveram armas de destruição maciça, escreveu a BBC. Kiev está a investigar mais de 21 mil alegados crimes de guerra cometidos pelas forças russas desde o início da invasão.

“Início de nova era”

Durante o discurso na sede da Liga Árabe, no Cairo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, enalteceu a “postura responsável e o equilíbrio” dos membros da Liga Árabe em relação ao conflito armado com a Ucrânia e prometeu o “início de uma nova era” de cooperação entre os dois aliados.

“Estamos no início de uma nova era, que seria um movimento no sentido de um verdadeiro multilateralismo, e não aquele que o Ocidente tenta impor”, declarou perante os representantes de várias nações africanas que evitaram pronunciar-se sobre a guerra iniciada pela Federação Russa na Ucrânia.

Durante a visita de quatro dias a vários países africanos, nações que dependem maioritariamente das exportações de cereais ucranianos, Lavrov declarou que o bloqueio aos portos já havia sido levantado.

Taísa Pagno , ZAP //

3 Comments

  1. Os Ruzzos continuam a desbroncar-se: depois de já admitirem que querem conquistar todo o sul da Ucrânia, agora o cara-de-bulldog Lavrov já adianta que querem tirar o Zelensky do poder (o que não é propriamente novidade, mas ainda não tinha sido dito…). É difícil acreditar nestes cínicos, que só atingem “alvos militares”…

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