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Roman Protasevich, de ativista adolescente a inimigo do governo da Bielorrússia

Toms Kalnins / EPA

Retratos de Roman Protasevich e Sofia Sapega durante um protesto em Minsk, Bielorrússia

O jornalista bielorusso Roman Protasevich, foi detido no passado domingo, depois de o avião da Ryanair onde viajava ter sido obrigado a aterrar em Minsk. Roman Protasevich é um ativista, que começou a partilhar as suas ideologias na internet quando ainda era adolescente.

Em 2012, aos 17 anos e ainda a frequentar o Ensino Secundário, foi detido por coordenar dois grupos na rede social russa Vkontakte contra o presidente Alexander Lukashenko. Um dos grupos tinha o nome “Estamos cansados deste Lukashenko”, que governa a Bielorrússia desde 1994, um ano antes do nascimento de Roman Protasevich.

Protasevich contou que foi agredido nos rins e no fígado. “Urinei sangue durante três dias. Fui ameaçado de que iria ser acusado de assassinatos não solucionados”, afirmou.

Durante o interrogatório, os agentes da Agência de Segurança da Bielorrússia, que ainda usam a sigla KGB, da época soviética, exigiram as palavras passes dos grupos de que fazia parte nas redes sociais.

Roman Protasevich trabalhou como fotógrafo para meios de comunicação social da Bielorrússia, e em entre 2017 e 2018 recebeu uma bolsa Vaclav Havel, para aspirantes a jornalismo independente.

O jornalista decidiu sair da Bielorrússia em 2019, depois de começar a trabalhar como para o canal opositor da aplicação Nexta (“Alguém”, em bielorrusso) do Telegram. Mais tarde, acabou por se tornar chefe dae redação do canal, que atualmente conta com mais de 1,2 milhões de assinantes.

O canal teve um papel muito importante na organização dos protestos contra o presidente Alexander Lukashenko, partilhando habitualmente detalhes como horários e datas das manifestações.

“Atividades terroristas”

Roman Protasevich vive entre a Polónia e a Lituânia, dois países que acabaram por se tornar centros de exilados bielorrussos, e é atualmente o editor do canal BGM, que conta cerca de 260.000 assinantes.

A sua companheira, Sofia Sapega, também foi detida no passado domingo, é estudante de Direito na Universidade Europeia de Humanidades (EHU) de Vilnius, capital da Lituânia.
O ativista fez a cobertura das eleições presidências de 2020, nas quais a representante da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, enfrentou Lukashenko.

Após a vitória de Alexander Lukashenko, protestos sem precedentes explodiram no país, e as autoridades responderam com violência.

A Bielorrússia emitiu em novembro uma ordem de detenção contra Roman Protasevich, devido ao seu trabalho no Nexta, alegando que ele estava “envolvifo em atividades terroristas”.

No seu perfil no Twitter, Protasevich falou da situação num tom irónico, definindo-se como o “primeiro jornalista terrorista da história”.

Na Bielorrússia, em caso de condenação, a acusação por “atividades terroristas” pode resultar em pena de morte.

Quando o avião da Ryanair foi obrigado a aterrar em Minsk, os passageiros afirmam que ouviram Roman Protasevich a afirmar que “enfrentava o risco de pena de morte”.

O último tweet de Roman Protasevich foi no dia 16 de maio, tendo sido uma referência à cobertura fotográfica da visita de Tikhanovskaya a Atenas, cidade de onde partiu o voo da Ryanair, com destino a Vilnius.

// AFP

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