/

Jornalista bielorrusso detido após desvio de avião da Ryanair. Europa discute “possíveis sanções”

12

STRINGER / EPA

O regime de Alexander Lukashenko está a ser acusado de ter desviado um avião para prender um jornalista que enfrenta pena de morte na Bielorrússia.

Este domingo, a oposição bielorrussa acusou o regime de Alexander Lukashenko de sequestro ao desviar para Minsk um avião que viajava para Vílnius (Lituânia), sob o pretexto de uma ameaça de bomba. O plano tinha como objetivo a detenção de um jornalista que tinha fugido para o estrangeiro.

A aeronave da Ryanair descolou de Minsk para a Lituânia e chegou a Vilnius, mas sem o jornalista bielorrusso Roman Protasevich.

O desvio do avião, que culminou com a detenção do jornalista e ativista, foi uma operação dos serviços de segurança bielorrussos. Segundo testemunhas, Protasevich expressou medo de ser executado na Bielorrússia.

Segundo o Público, o jornalista é um dos fundadores do canal Telegram Nexta, que desempenhou um papel fundamental na coordenação dos protestos após a reeleição do presidente Lukashenko.

“Roman Protasevich foi preso quando se encontrava a bordo de um voo da Ryanair de Atenas para Vílnius. O avião fez uma aterragem de emergência no aeroporto de Minsk”, escreveu o centro de direitos humanos Viasna no Telegram.

A líder da oposição Svetlana Tikhanovskaya, que perdeu as últimas eleições para Lukashenko, exigiu a rápida libertação do jornalista, que enfrenta uma pena de morte por ter sido considerado “terrorista” pelo regime bielorrusso, depois de ter reportado as eleições presidenciais de 2020.

Roman Protasevich, cujo canal se tornou a principal fonte de informação durante as primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020, viajava de Atenas para a capital lituana e acabou detido pelas autoridades bielorrussas, quando os cerca de 120 passageiros do avião foram forçados a submeter-se a novo controlo no aeroporto de Minsk devido a um suposto aviso de bomba.

Anteriormente, o jornalista bielorrusso já tinha notado que estaria a ser seguido em Atenas, alegadamente por agentes ligados aos serviços secretos da Bielorrússia.

As versões sobre a aterragem de emergência são também contraditórias, com Minsk a relatar que foram os próprios pilotos a solicitar autorização, enquanto no aeroporto de Vílnius foi reportado um suposto conflito entre os pilotos e alguns dos passageiros.

O canal Nexta defendeu que foram os agentes dos serviços secretos bielorrussos que alertaram para a existência de um alegado engenho explosivo no interior do avião.

Fontes próximas da presidência relataram que foi Lukashenko quem ordenou pessoalmente a interceção do avião, que foi escoltado por um caça MiG-19, a fim de supostamente defender a Europa de uma ameaça à sua segurança.

“O regime pôs os passageiros a bordo e toda a aviação civil sob ameaça para reprimir uma pessoa (…). Exigimos a libertação imediata de Roman, uma investigação e sanções contra a Bielorrússia”, disse Tikhanovskaya.

Tripulação da Ryanair recebeu aviso de ameaça a bordo

A Ryanair disse, já esta segunda-feira, que a tripulação do avião em que viajava o jornalista crítico ao regime bielorrusso recebeu um aviso de ameaça à segurança a bordo antes de o aparelho ser desviado para Minsk.

Em comunicado, a Ryanair disse que o controlo de tráfego aéreo bielorrusso comunicou uma suposta ameaça à tripulação, dando também “instruções para desviar para o aeroporto mais próximo, Minsk”.

A empresa de voos low-cost acrescentou que nada foi encontrado após o avião aterrar em Minsk.

Segundo a Agência France Presse, vários passageiros do avião onde seguia Protasevich disseram que o jornalista viveu longos minutos de angústia quando percebeu que o voo da Ryanair seria desviado para Minsk.

Ele começou a entrar em pânico e disse que era por causa dele”, disse a lituana Monika Simkiene, de 40 anos, à AFP no domingo, quando o voo finalmente aterrou em Vílnius.

“Ele virou-se para as pessoas e disse que arriscava a pena de morte”, continuou Monika Simkiene, observando que o jornalista parecia “muito calmo” depois de ter chegado a Minsk, certo da sua prisão.

“Totalmente inaceitável”

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, considerou o desvio do avião “totalmente inaceitável”.

“Todos os passageiros devem conseguir continuar a sua viagem para Vilnius imediatamente e a sua segurança deve estar assegurada”, escreveu no Twitter.

Von Der Leyen disse ainda que “qualquer violação da regras do transporte internacional aéreos leva a que haja consequências“.

A comissária Europeia dos Transportes, Adina Valean, confirmou, ao final da tarde de domingo, que o voo da Ryanair retomou a viagem para Vílnius, tendo aterrado na capital da Lituânia ao início da noite.

Charles Michel escreveu na mesma rede social que estava “muito preocupado”, pedindo às autoridades bielorrussas que libertassem “imediatamente o voo e todos os passageiros”. O presidente do Conselho Europeu instou ainda a que haja uma investigação: “É essencial”.

Dominic Raab, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, avisou, este domingo, que o Presidente bielorrusso enfrenta “graves consequências” por ter alegadamente desviado para Minsk o avião onde seguia o jornalista.

“O Reino Unido está alarmado com relatos da prisão do jornalista da @nexta_tv Roman Protassevich e as circunstâncias que levaram o avião onde seguia a pousar em Minsk”, escreveu no Twitter, indicando que estão a ser coordenados esforços entre os aliados.

“Esta ação extravagante de Lukashenko terá graves consequências”, alertou.

De acordo com o Observador, vários países europeus exigiram uma “explicação imediata” da Bielorrússia.

Miguel Berger, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros alemão, disse no Twitter que “precisamos de uma explicação imediata do Governo bielorrusso sobre o desvio dentro da União Europeia de um voo da Ryanair para Minsk e a alegada prisão de um jornalista”.

Também Jean-Yves Le Drian, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, denunciou a gravidade da situação e apelou a uma “resposta firme” dos 27 estados-membros da União Europeia.

Na mesma rede social, Gabrielius Landsbergis, ministro lituano dos Negócios Estrangeiros, apelidou o desvio do avião de “notícia perturbadora”, enquanto o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, exigiu a libertação imediata do jornalista.

O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, disse que era “absolutamente inaceitável” o desvio alegadamente forçado pela Bielorrússia e o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, considerou a detenção do jornalista um “ato de terrorismo de Estado”.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou que o desvio é “um incidente sério e perigoso que requer investigação internacional”. “A Bielorrússia deve garantir o retorno seguro da tripulação e de todos os passageiros”, escreveu no Twitter.

Esta segunda-feira, na reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia vão discutir “possíveis sanções” contra a Bielorrússia. O anúncio foi feito pelo porta-voz do Conselho Europeu Baren Leyts, no Twitter.

Portugal pede “libertação imediata” de jornalista

O Ministério português dos Negócios Estrangeiros considerou, este domingo, “inaceitável” e merecedora de uma “firme condenação” a aterragem forçada na Bielorrússia de um avião em que seguia o jornalista Roman Protasevich, pedindo a “libertação imediata” deste.

“A aterragem forçada hoje [domingo] na Bielorrússia de um avião europeu, em rota entre duas capitais da União Europeia, é inaceitável e merece a nossa firme condenação. Exigimos a libertação imediata de Roman Protasevich”, publicou o ministério português no Twitter.

O ministério tutelado por Augusto Santos Silva lembrou que “o Conselho Europeu discutirá este assunto amanhã [segunda-feira]”.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

12 Comments

  1. Putin e Lukachenco já abaterem dois aviões civís e agora desviar um não é nada
    Sanções só para o europeu ver, mas na verdade, nada
    Só um isolamento igual ao da guerra fria pode meter respeitinho neste gente

  2. Grande parte do mundo está sendo governado por Energúmenos sem qualquer tipo de escrúpulos. Vivemos mais um período negro na história da humanidade

  3. É curioso como ninguém na Europa se preocupou quando, em 2013, e a pedido dos EUA, o avião do Presidente Evo Morales da Bolívia foi obrigado a aterrar em Viena porque se suspeitava que no avião viajava Edward Snowden. Então ninguém se lembrou de acusar a Áustria de desvio de avião e de violação do direito internacional. Bando de hipócritas! Mas o mais irritante é ver a Europa a permanentemente baixar as calças diante dos EUA, numa total falta de decoro e de dignidade.

  4. Portugal está cheio de Biolorrussos 100% pró Lukashenko e Putin. Sentem-se donos de tudo nem que seja à força. Comportam-se como invasores no país de acolhimento. Esterco humano que alguns portugueses defendem a troco de favores….. Ou medo…..

  5. Tem as mesmas manhas que o csar.
    A UE só tem uma coisa a fazer: os aviões da Bielorrússia ficam proibidos de cruzar o espaço aéreo europeu enquanto o jornalista não for libertado e deixado partir para o Ocidente.
    E também nenhum cidadão bielorrusso pode atravessar o espaço europeu ( aéreo ou terrestre) a começar pelo fascista do presidente.
    Por último, sanções económicas duras

  6. Este juntamente com o Putin é mais uma ramificação do que resta ainda do comunismo soviético, os métodos e objetivos mantêm-se, uma vergonha mundial! Agora resta saber como os pacatos políticos europeus vão reagir, a primeira coisa a fazer deveria ser bloquear o espaço europeu a quer aeronave vinda da Bielorrússia para além de outras pesadas sanções a este regime criminoso.

    • Ainda ninguém reparou que o regime mais criminoso dos nossos dias é o americano? São eles que desencadeiam guerras, são eles que provocam confrontos, são eles que vendem armas a toda a espécie de terroristas, são eles que promovem boicotes e sanções para proteger os grupos económicos americanos, são eles que bombardeiam civis…

      • Vai para a Bielorussia ou Russia ou China ou Coreia do Norte mais o Jerónimo de Sousa, e fala assim que já estavas preso ou morto.

  7. Armas vendidas a toda a espécie de comprador é negócio dos USA e de todos os outros como, Rússia, China entre muitos outros, quanto a regimes criminosos e ditatoriais a lista está bem visível, só vesgos como o NCS é que teimam em não ver!

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.