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O recorde de partidos, o regresso de Rio e a resistência de Jerónimo. Eis a nova Assembleia da República

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Número recorde de partidos em democracia, o regresso de Rui Rio como deputado e a resistência de Jerónimo de Sousa. Estas são algumas das particularidades e novidades do novo parlamento, saído das eleições legislativas de outubro e que toma posse esta sexta-feira para a XIV legislatura.

Nunca como agora o hemiciclo de São Bento, que conta com maioria de esquerda, teve deputados de tantos partidos – serão dez partidos no total e há três estreias: Iniciativa Liberal (IL), o Livre (L) e o Chega (Ch), representados por um único deputado.

Os novos lugares já foram atribuídos – e foi aqui que houve alguma discórdia.

A conferência de líderes decidiu quais serão as cadeiras das três forças estreantes no parlamento na primeira sessão plenária, que poderão depois manter-se ou não nas restantes sessões. A deputada do Livre vai sentar-se entre PCP e PS, o deputado da IL entre PSD e CDS-PP e o deputado do Chega o mais à direita, todos na segunda fila.

IL, que será representada por João Cotrim Figueiredo, e o Chega, representado por André Ventura no Parlamento, contestaram os lugares atribuídos.

Numa nota enviada ao Expresso, a IL, que defende que os conceitos de direita e esquerda estão já ultrapassados, queria ficar “o mais distante dos extremos“, uma vontade que promete voltar a frisar “assim que os trabalhos começarem”. Também o Chega criticou a distribuição, não pela localização no espectro, mas sim pelo recuo do lugar. Em declarações ao semanário, André Ventura considerou a decisão “vergonhosa”. E acrescentou ainda: “Se pudessem, colocavam o Chega cá fora na escadaria”.

O PAN, por sua vez, deixou de ter um deputado único, passando na nova legislatura a contar com um grupo parlamentar composto por quatro deputados.

Apenas a partir dos dois deputados pode ser criado um grupo parlamentar, estando nessas condições o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), com dois deputados, e os restantes partidos – PS (108), PSD (79), BE (19), PCP (10) e CDS (5).

As bancadas do PS, Bloco, PCP e PEV aumentaram, no seu conjunto, o seu peso na Assembleia da República, para cerca de 60%.

Apurados os resultados, incluindo os círculos de emigração, as forças políticas que estiveram com a “geringonça” têm, no seu conjunto, 2.740.526 votos. A direita teve um dos priores resultados eleitorais. PSD e CDS somados tiveram 1.679.478 votos.

O regresso de Rio e a resistência de Jerónimo

A XIV legislatura será também marcada pelo o regresso de Rui Rio ao Parlamento como deputado. O líder do PSD já anunciou que vai liderar a bancada social democrata. Rui Rio, recorde-se, deixou o parlamento no final de 2001 para assumir a presidência da Câmara do Porto. 18 anos depois, volta como deputado e líder.

Nos últimos dois anos, a relação de Rio com a bancada — escolhida pelo anterior presidente, Pedro Passos Coelho — foi tensa. Já na pré-campanha, em entrevista à Lusa, Rui Rio tinha confessado não ter “um particular entusiasmo” em ser deputado, admitindo que a permanência no cargo dependia do seu futuro à frente do partido.

Apesar de o regresso à Assembleia da República como deputado ser já na sexta-feira, a ‘estreia’ como orador na qualidade de líder do PSD deverá acontecer apenas durante o debate do programa do Governo, ainda sem data marcada.

Rui Rio foi eleito deputado pela primeira vez em outubro de 1991 pelo círculo do Porto, numa lista encabeçada por Fernando Nogueira e que incluía nomes como Falcão e Cunha, João de Deus Pinheiro, Arlindo Cunha, Luís Filipe Menezes ou José Pacheco Pereira.

Destaque ainda para Jerónimo de Sousa. O líder comunista vai vai assumir o lugar de deputado pela 13.ª vez em 44 anos, ficando como o último “resistente” da Constituinte.

Na legislatura que agora termina, além de Jerónimo mantinham-se Helena Roseta, 71 anos, e Júlio Miranda Calha, 72. A primeira foi deputada à Constituinte, em 1975, pelo então PPD/PSD e nas legislativas de 2015 foi eleita, como independente, nas listas do PS. Júlio Miranda Calha, eleito pelo PS pelo círculo de Portalegre em 1975, foi eleito em 2015 por Lisboa e, tal como Roseta, não se recandidatou às legislativas de outubro passado.

Desde 2 de junho de 1975, Jerónimo de Sousa contabiliza 36 anos de Assembleia da República, uma vez que teve um interregno dos trabalhos parlamentares nas VII e VIII legislaturas, precisamente dois anos antes de ascender à liderança do seu partido, quando sucedeu a Carlos Carvalhas,, em 27 de novembro de 2004.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do PCP recordou a sua “modesta contribuição” entre 1975 e 1976, dando conta que não sabia fazer uma lei.

“Centrou-se no trabalho da Comissão de Assuntos Sociais, não dominava conceitos jurídicos, não sabia fazer uma lei, mas sabia o que era fazer uma greve, ser despedido sem justa causa por motivos político-ideológicos, vir do Sindicato dos Metalúrgicos e da Comissão de Trabalhadores da empresa e falar de liberdade sindical e dos direitos, do valor da Contratação Coletiva e do combate à discriminação salarial das mulheres, tudo isto reconhecido e consagrado na Constituição no seu capítulo mais nobre, dos Direitos, Liberdades e Garantias”.

Aos 72 anos e meio de idade, o líder comunista vai fazer parte de um grupo parlamentar de 10 elementos do PCP (só na IX legislatura, entre 2005 e 2009 o PCP teve um número tão reduzido de deputados) – e deparar-se com o parlamento com um número recorde de partidos representados e três novas estreias.

ZAP // Lusa

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7 Comments

  1. “a IL, que defende que os conceitos de direita e esquerda estão já ultrapassados”.

    estes liberais não passam de uma esquerda caviar tipo BE e amigos, são aliás do pior que se pode ter na política pq vivem da ambiguidade.

    são os mesmos que vendem as teologias da libertação a par dos meninos e meninas da extrema esquerda e que com isso vão minando a sociedade, cujo objectivo último é a completa destruição da FAMÍLIA e do Cristianismo.

    • Para pessoas psicologicamante dependentes de clubismos ideológicos a preto e branco, é natural que o desaprecimento de uma visão linear da política baseada no antiquado eixo esquerda-direita, seja apavorante.

      Esta gente do futebolismo político, com as suas mentes simples, não conseguem computar a realidade se ela não se resumir à fórmula redutora de “A vs B”. Há que saber sempre em qual de dois sacos colocar as coisas, porque ter de pensar em mais do que dois rótulos, dá muita chatice.

      É a eterna luta de pessoas que vêem a duas dimensões, mas vivem numa realidade a três dimensões.

        • Não me serve a carapuça. Em Portugal costumo votar PSD (e agora com Rio ainda mais) ou MPT. No UK onde por acaso até vivo, voto Lib Dems ou quando muito SNP sou uma pessoa com tendências ao centro… Mas não consumo ideias políticas em pacotes fechados. Há coisas positivas tanto ao centro esquerda como ao centro direita e podem e devem ser livremente combinadas. Já com ideias extremistas e de periferia, não simpatizo muito.

          O que importa é o caracter das pessoas que estão em posição de poder e que conduzem os destinos alheios. E maus caracteres existem à direita, esquerda, cima, baixo e em viés.

          • Até aqui votava PSD. Agora voto IL. Estou farto de um estado ladrão que nos leva tudo e nada nos dá. Pago imenso em impostos e no final ainda tenho de pagar tudo outra vez. P$%& que pariu o governo gordo e ladrão. Não quero sustentar estas quadrilhas. Menos Estado, Melhor Estado e sobretudo menos dinheiro para eles poderem roubar.

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