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A rebeldia e a audácia da Islândia tornaram-na no laboratório perfeito para estudar a covid-19

gogeid / Flickr

Akureyri, na Islândia

A Islândia combinou audácia e rebeldia para combater a pandemia de covid-19. A nação insular é o país que mais testes está a fazer à população e os seus esforços já permitiram isolar centenas de mutação do novo coronavírus.

O neurologista Kari Stefansson fundou a DeCode Genetics em 1996 com o objetivo de extrair dados genéticos exclusivos dos islandeses. Na luta contra a pandemia que assola o mundo, a empresa lançou um dos programas de rastreamento e teste mais abrangentes, que, além de ajudar a conter a disseminação do vírus, dá informações sobre a evolução da doença.

As questões para as quais a Islândia encontra resposta, são perguntas que ainda não foram respondidas nos Estados Unidos. John Ioannidis, professor de medicina e epidemiologia de Stanford, referiu, citado pela Bloomberg, que o país insular é “o melhor laboratório vivo que temos“. “Eles produziram informações úteis e mostraram que, com a realização abrangente de testes, temos grandes resultados.”

No início de março, Stefansson conduzia quando ouviu na rádio que, na China, mais de 3% da população deveria morrer durante a pandemia de covid-19. “Não conseguia entender como é que podíamos calcular a taxa de mortalidade sem conhecer a propagação do vírus na comunidade.”

À procura de respostas, o fundador da DeCode ligou para Alma Moller, diretora de saúde da Islândia, e convenceu-a a permitir que a sua empresa iniciasse uma operação de testes em larga escala nos seus laboratórios. Em parceria com as autoridades locais, a DeCode examinou pessoas com sinais de infeção, voluntários assintomáticos e pessoas escolhidas aleatoriamente.

Os genomas do povo islandês são alvo de mais estudo do que os de cidadãos de qualquer outro país. Através desta análise minuciosa, a Islândia desenhou uma imagem detalhada de como o novo coronavírus entrou no país e depois se espalhou de uma pessoa para outra.

Stefansson apresentou o seu plano de triagem numa altura em que a Islândia diagnosticou apenas três casos. Em comparação, o número de mortos devido à covid-19 nos Estados Unidos tinha acabado de atingir os dois dígitos.

A nação insular descobriu que, enquanto os casos iniciais eram sobretudo pessoas que haviam regressado de férias na neve (na Áustria e em Itália), amostras posteriores mostraram estirpes do vírus provenientes de muitos países, incluindo locais como o Reino Unido, considerado na altura um país de baixo risco.

Os investigadores identificaram mais de 291 mutações que não foram encontradas em nenhum outro lugar e mostraram que o número de pessoas que estão infetadas com o vírus, mas que não apresentam sintomas, pode ser alto: cerca de 0,8% das pessoas que se voluntariaram testaram positivo, assim como 0,6% das pessoas selecionadas aleatoriamente para participar no estudo.

À Bloomberg, o fundador da DeCode declarou que cerca de metade das pessoas infetadas com covid-19 pode ser assintomática, apesar de muitas delas poderem desenvolver sintomas mais tarde.

Para explicar o motivo pelo qual algumas pessoas não apresentam sintomas, a DeCode planeia investigar o ADN dos hospedeitos virais. O empenho da Islândia no entendimento científico desta pandemia já contribuiu para determinar quem é mais infetado pela infeção, observando que crianças e mulheres são menos vulneráveis.

A combinação de testes generalizados e atempados e o rastreamento de contactos permitiu termos agora “a epidemia sob controlo”, disse Stefansson. O país não instituiu um pedido generalizado de confinamento em casa e as escolas primárias permanecem abertas, assim como algumas lojas e restaurantes.

A nossa grande sorte em tudo isto é sermos um país pequeno. É fácil mobilizar as pessoas que precisam de ser mobilizadas”, sustentou Kjartan Hreinn Njalsson, assistente do diretor de saúde da Islândia.

Quando faltaram zaragatoas ou ventiladores, a Islândia foi proativa: várias empresas ofereceram imediatamente para ajudar. “Somos uma nação rebelde que não consegue encontrar tranquilidade quando as coisas estão a correr bem. Mas quando há uma crise, somos melhores do que qualquer outra nação do mundo.”

ZAP //

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