Putin, Ucrânia, Prigozhin: o que ganham (ou perdem) com o que aconteceu ontem?

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Arkady Budnitsky/EPA

Marcha do Grupo Wagner surpreendeu o mundo quando começou… e quando acabou. E agora?

A tensão entre o Grupo Wagner e o Kremlin era visível há meses mas o que aconteceu entre sexta-feira e sábado surpreendeu praticamente todo o mundo.

Yevgeny Prigozhin convocou todos os russos a “marchar pela justiça” para “acabar com a confusão” na Rússia. Tanques nas ruas, Rostov controlada, Moscovo em alerta.

A ideia era chegar a Moscovo e controlar a capital mas, ao fim da tarde, novamente para surpresa de muita gente, a marcha foi interrompida.

A decisão foi tomada depois de uma conversa entre o líder do Grupo Wagner e Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia.

E agora, Putin?

Este foi o maior desafio interno militar de sempre na Rússia, desde que Vladimir Putin é presidente do país.

Putin terá sentido uma ameaça real neste sábado. Surgiram rumores sobre uma eventual fuga de Moscovo (reforçada pelo presidente da Ucrânia) e terá mesmo havido uma ordem para matar Prigozhin.

A marcha parou a 200 quilómetros de Moscovo mas, em Rostov, as pessoas ficaram a gritar “Wagner, Wagner!”.

Vladimir Putin ficou “mais fraco”, resume no jornal Público a especialista Ana Sá Lopes.

Esta tentativa de mudança de regime mostrou as fragilidades e as divisões dentro do Kremlin. E, a certa altura, parecia mesmo que o regime ia cair.

O próprio discurso do presidente da Rússia, ao início do dia, mostrou uma imagem de fraqueza de Vladimir Putin, que parecia furioso com o que estava a acontecer.

No El País, reforça-se que este movimento do Wagner, apesar de só ter durado menos de 24 horas, mostrou a debilidade do presidente da Rússia e do regime que lidera.

E agora, Prigozhin?

A partir do momento em que iniciou uma marcha até Moscovo, Yevgeny Prigozhin teria a vida em risco.

Aliás, no sábado, enquanto decorria o movimento militar, surgiu mesmo a indicação de que Putin tinha mandado “eliminar” o líder do Grupo Wagner.

No entanto, a marcha foi interrompida e Prigozhin não vai ser detido: vai viver na Bielorrússia. E nenhum membro do Grupo Wagner vai ser perseguido pela Justiça russa.

Não se sabe como foi a conversa entre Yevgeny Prigozhin e Alexander Lukashenko. A justificação oficial foi a intenção de não originar “um banho de sangue” dentro da Rússia.

Mas o líder do Grupo Wagner não teria o suporte necessário, dentro das Forças Armadas da Rússia, para passar a controlar a política no país, analisa Francisco Seixas da Costa.

Na CNN, o comentador sugere que o líder do Grupo Wagner tenha ficado com mais “autonomia, espaço de manobra e algum dinheiro”.

Além disso, esta marcha deu outra projecção a Prigozhin. O líder do Grupo Wagner mostra-se como um “poder alternativo” a Vladimir Putin.

Andrey Kozyrev, antigo ministro na Rússia, resumiu na CNN: Putin e Prigozhin “são do mesmo tipo. Ou melhor, do mesmo gangue: são gansgters a lutar pelo seu pedaço do bolo. E o bolo está a diminuir por causa da guerra, por causa das sanções”.

E a Ucrânia?

Chegou a haver esperança entre os ucranianos: o Kremlin iria estar focado na defesa perante o Wagner e não no ataque na Ucrânia.

Mas a mudança de regime não iria terminar já a guerra na Ucrânia. Aliás, prevê-se que, com Prigozhin no comando do Governo, o conflito pudesse ficar ainda mais intenso.

O exército ucraniano teria maior margem para a contra-ofensiva, caso a operação do Grupo Wagner se tivesse prolongado. Aliás, a Ucrânia estava a avançar mais em diversos pontos do Leste do país (incluindo Bakhmut), ao longo de sábado.

Mas, como aparentemente a situação interna na Rússia ficou resolvida rapidamente, em termos práticos e militares, a Ucrânia não deverá ganhar nada a partir de hoje, domingo.

Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, aproveitou a crise interna na Rússia para dizer que “o mundo viu que os patrões da Rússia não controlam nada, reina o completo caos” na liderança do país”.

Mikhail Podolyak, assessor do chefe do gabinete do presidente da Ucrânia, acha que Prigozhin “quase anulou e humilhou” Putin. Só não continuou a marca por causa da presença de “um intermediário com reputação duvidosa” – Lukashenko – e porque “a elite de Putin teve medo”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

3 Comments

  1. O grande derrotado é claramente Putin. Todos os analistas internacionais não deixam qualquer margem para dúvida. Por cá, os sargentos carecas, dizem que não. Mas são apenas sargentos carecas… E nas suas cabeças decididamente não falta apenas cabelo.

  2. Putin podia ter evitado este filme se já tivesse substituído os comandantes supremos como o cozinheiro exigia. Não o fez porque isso seria interpretado como sinal de fraqueza? Ou por receio da elite militar? Então e agora vai ficar tudo como dantes, só com a diferença de não haver Prigozhin no teatro? Vão rolar cabeças ou não?

  3. Putin sai, não apenas completamente derrotado, como muitíssimo fragilizado. Acho muito difícil que Putin sobreviva a uma guerra longa na Ucrânia. Acho mesmo impossível depois do que se passou. Alguns por cá, como a seita dos sargentos carecas comentadores de TV, fazem lembrar aquele indivíduo que espera o comboio a olhar para a esquerda quando ele chegará da direita. Também eles verão o comboio, não a chegar, como todos os outros, mas a partir. E ficarão apeados. É óbvio que este episódio foi o segundo passo do fim de Putin. O primeiro tinha sido dado no dia em que invadiu a Ucrânia. Acabará, no melhor cenário, deposto e, no mais normal, pendurado pelo pescoço.

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