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Precários da ciência viraram as costas a Costa. E Marcelo conhece bem o filme

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Miguel A. Lopes / Lusa

Envergando t-shirts pretas sinalizadas nas costas com um ponto de interrogação, cerca de uma centena de bolseiros de investigação científica pediram esta quarta-feira, em Lisboa, respostas para a precariedade laboral em que se encontram a fazer ciência.

O protesto, promovido por sindicatos e associações, decorreu às portas do Centro de Congressos de Lisboa, onde se realizou o encontro Ciência 2018, um evento que junta investigadores, empresas e políticos em torno da discussão de temas e desafios científicos.

“Heitor e Ferrão: não queremos mais exploração!” e “Heitor e Ferrão: queremos carreiras de investigação” eram duas das frases que titulavam alguns dos cartazes exibidos na concentração, numa referência ao ministro da Ciência, Manuel Heitor, e ao presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Paulo Ferrão.

À Lusa, João Pedro Ferreira, bolseiro de pós-doutoramento e vice-presidente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, justificou o protesto com “o desagrado pelas expectativas criadas” com a legislação de estímulo ao emprego científico e o programa de regularização de vínculos laborais precários do Estado.

Segundo o dirigente e investigador, apenas “uma parte residual” de cientistas com bolsa foi contratada, com as instituições “a boicotarem” o processo e o Governo “a pactuar” com a situação.

João Pedro Ferreira lembrou que num encontro como o Ciência 2018, onde se faz “o balanço” da ciência produzida em Portugal, esse trabalho “tem sido feito pela precariedade” dos investigadores.

Bolseiros viraram as costas a Costa e ao ministro

Durante a sua intervenção na sessão de encerramento do encontro, o ministro da Ciência foi apupado e assobiado pelos bolseiros de investigação científica, quando disse que o Governo está “sempre a favor de mais emprego científico e mais diálogo”.

Alguns dos manifestantes viraram costas ou pontuaram o discurso do ministro gritando “cumpram a lei!”, numa referência à legislação que prevê a contratação de investigadores-doutorados em substituição de bolsas de formação de pós-doutoramento.

Irredutível, Manuel Heitor fez o balanço do Ciência 2018 e passou em revista as reformas feitas pelo Governo no setor e as metas alcançadas, como o de a despesa privada em investigação superar “pela primeira vez” a despesa pública.

Dirigindo-se indiretamente aos manifestantes, que volta e meia se riram quando falava, o ministro afirmou, irónico: “Todos queremos que todos vocês se riam”.

No final do discurso, os bolseiros voltaram a assobiar o governante e gritaram “Carreiras é preciso” e “Contratos sim, bolsas não”.

A mesma sorte estava destinada ao primeiro-ministro, António Costa, que, antes de começar a homenagear figuras de várias áreas da ciência, viu os manifestastes virarem-se de costas durante o discurso, sendo também vaiado, pode ver-se na reportagem da SIC.

O chefe do Executivo socialista garantiu que o Governo não vai deixar a ciência e a investigação para trás. “É uma meta que temos fixada, podermos consagrar até ao final desta legislatura cinco mil lugares de emprego científico, três mil ainda em 2018 e dois mil em 2019″, explicou o primeiro-ministro, citado pelo Observador.

“É um filme que conheço bem”, diz Marcelo

No mesmo encontro também esteve presente Marcelo Rebelo de Sousa que, à chegada ao Centro de Congressos, também foi recebido pelos manifestantes, entregando-lhe documentação sobre a situação dos bolseiros de investigação científica em Portugal, enquanto, ao fundo, os outros gritavam “contratos, sim, bolsas não”.

“Boa tarde, senhor Presidente, nós somos bolseiros de investigação científica. Estamos há muitos anos a trabalhar como bolseiros de investigação e merecemos um contrato“, queixaram-se.

“Então não sei. Eu sei, eu conheço o problema, como imaginam”, foi a resposta do chefe de Estado. Numa curta conversa, sempre em andamento, os bolseiros alegaram que “as instituições e a tutela estão a boicotar” a regularização da sua situação e pediram ao Presidente da República que, “dentro da sua magistratura,” tente intervir.

Já no interior do edifício, enquanto subia as escadas, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: “É um filme que eu conheço bem”.

No discurso já no interior do Centro de Congressos, o Presidente sugeriu que se clarifique a lei para impor às universidades a regularização contratual dos investigadores científicos em situação precária, considerando que isso pode ser feito na próxima sessão legislativa.

“Quer clarificar-se isso? É um caminho a seguir, e uma sessão legislativa é suficiente para essa clarificação”, afirmou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou um “segundo caminho, o da persuasão” das instituições universitárias, através do diálogo, mas advertiu que “o caminho da persuasão tem limites”, salientando que “o Governo não tem instrumentos de tutela sobre as universidades, que são autónomas”.

No seu discurso, o Presidente da República recordou que, apesar da contestação de vários responsáveis universitários, promulgou a lei em causa, aprovada pelo Parlamento, e foi aplaudido quando defendeu que “não há país que tenha futuro sem ciência e não há ciência sem cientistas”.

Dirigindo-se aos bolseiros em protesto, agradeceu a sua contestação pública, para a sociedade portuguesa “perceber que tem de apostar nos cientistas e tem de gastar dinheiro nos cientistas”, e declarou: “Não posso ser mais sensível às vossas preocupações”.

“É mais fácil apostar às vezes em obras públicas do que apostar em obras aparentemente não públicas mas que são mais duradouras nos seus efeitos. Apostar na educação e na ciência é apostar no médio longo prazo”, acrescentou.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. O PS e a sua geringonça para governar prometeram tudo e agora na hora de cumprir não cumprem pois sabem perfeitamente que se forem a cumprir com as promessas eleitorais depressa o pais cai novamente na bancarrota…

    Depois uns tem direito a tudo, outros a nada e alguns a alguma coisa…

    Situações caricatas:
    Professores nas ilhas recebem tudo, no continente ainda se vai ver…
    Horário de 35 horas para todos mas só agora chegou a alguns e veja-se o caso dos enfermeiros… dá-se as 35 horas e não se precave a sua substituição… agora o zé povinho fica sem camas nos hospitais, sem operações e ainda vai pagar uns bons milhões para contratar mais cerca de 2000 enfermeiros…

    E no privado… nem 35 horas, sem retroativos destes anos todos, nada de nada e são quem mais paga o despesismo do público…

    • 35 HORAS NO PRIVADO?
      Os PATRÕES não estão interessados. Querem escravos a trabalhar mais horas e por menos dinheiro. O lema é: “TRABALHEM MAIS HORAS E TEREIS A RECOMPENSA”… mais trabalho, menos dinheiro, sem direitos, têm DIREITOS… de ficar calados.
      Que CONCERTAÇÃO SOCIAL, eles CONCERTAM… ESFORÇOS PARA TIRAR DIREITOS AOS TRABALHADORES. Só os c… da UGT é que ainda não perceberam isso.
      A UGT É UM OÁSIS DO PSD, CDS E… PS E PATRÕES.
      OLHEM O CASO DO BELMIRO, QUANDO ERA EMPREGADO DA SONAE, ERA DA UDP. ATÉ FOI PARA A COMISSÃO DE TRABALHADORES para defender os direitos do PROLETARIADO.
      DEPOIS DO 25 DE ABRIL, PASSOU A PATRÃO E ESQUECEU a defesa dos direitos dos TRABALHADORES.

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