PJ pediu dados sobre Tancos à PJ Militar (cinco dias antes da ordem da PGR)

Paulo Cunha / Lusa

Guarita abandonada no complexo militar de Tancos

Os dados das investigações iniciais conduzidas em Tancos pela Polícia Judiciária Militar (PJM) foram enviados à Polícia Judiciária (PJ) antes de o inquérito ser formalmente entregue ao DCIAP por Joana Marques Vidal.

A ex-Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, decidiu que o assalto de Tancos seria investigado pela Polícia Judiciária (PJ) civil – e não pela Polícia Judiciária Militar (PJM). Contudo, antes de essa decisão ser formalmente tomada, já a PJM tinha enviado os dados das investigações iniciais a esta polícia, segundo o jornal Público.

O roubo em Tancos começou a ser investigado pela PJM quando a equipa de investigadores, liderada pelo capitão João Bengalinha, realizou as inquirições de dezenas de militares e a recolha de indícios do crime no local durante pelo menos três dias a partir do dia 28 de junho de 2017.

O capitão Bengalinha recebeu ordem para enviar o resultado das investigações para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) – e não para a 10ª secção do DIAP de Lisboa, como acontecia com inquéritos de crimes estritamente militares​.

A ordem foi dada pelo seu superior, o coronel Manuel Estalagem, diretor da investigação criminal da PJM, depois de o então diretor da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da PJ, Luís Neves, atual diretor-nacional da PJ, lhe transmitir que isso deveria ser feito.

Esta revelação foi feita por Manuel Estalagem esta terça-feira no Tribunal de Santarém, onde foi ouvido na qualidade de testemunha durante o julgamento de 23 arguidos do processo de Tancos.

“No dia 30 de junho, o dr. Luís Neves dá ordem para o processo lhes [à PJ] ser entregue porque vai passar para o DCIAP”, disse Manuel Estalagem, acrescentado que, segundo Luís Neves, o processo “tinha a ver com o terrorismo”.

Assim, a atribuição de responsabilidades à PJ foi materializada por contactos tidos entre Luís Neves e Manuel Estalagem, cinco dias antes de ser formalizada por Marques Vidal a 4 de julho.

O processo de Tancos tem 23 arguidos, dez arguidos respondem por associação criminosa, tráfico e mediação de armas e terrorismo, pelo alegado envolvimento no furto do armamento e os restantes 13, entre eles Azeredo Lopes, dois elementos da PJM e vários militares da GNR, sobre a manobra de encenação da recuperação do material ocorrida na região da Chamusca, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.

Maria Campos, ZAP //

 

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