O líder do PCP insistiu esta quarta-feira no cumprimento do OE deste ano, antes de começar a discutir com o Governo o de 2022, e recusou fazer do Serviço Nacional de Saúde “moeda de troca”. A coordenadora do BE considerou “um mau início de conversa” as medidas orçamentais anunciadas por António Costa.
“Ainda não resolvemos este [Orçamento de Estado] que está em vigor, quanto mais o que há de vir”, afirmou Jerónimo de Sousa aos jornalistas, durante uma visita ao Centro de Saúde de Peniche, no distrito de Leiria, no âmbito das eleições autárquicas de 26 de setembro.
O secretário-geral do PCP sublinhou que a “execução orçamental não está a ser cumprida” em medidas como a “gratuitidade das creches, as questões relativas ao Serviço Nacional de Saúde [SNS] ou o subsídio de risco para as forças de segurança” e insistiu que “a prioridade” é o atual orçamento.
“Neste momento, é o ministro das Finanças que tem a chave do cofre no bolso, por isso vamos continuar a batalhar. Senão, vamos aprovar um orçamento que vale dois ou três meses e o resto fica para o outro e não pode ser”, apontou.
Jerónimo de Sousa recusou fazer do SNS “moeda de troca” das negociações que vai ter com o Governo para o Orçamento de Estado para 2022.
Ao lado da candidata da CDU à Câmara de Peniche, Clara Abrantes, o líder comunista disse que espera que o reforço do SNS, prometido pelo primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, no congresso do fim de semana “não seja só uma frase de congresso” e seja para concretizar.
Jerónimo de Sousa defendeu que, no âmbito dos investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência, “o SNS é um dos setores prioritários para ser dinamizado para que responda à sua função constitucional de garantia da saúde dos portugueses”, depois de a pandemia de covid-19 ter demonstrado que “não há outra solução senão o SNS”.
Para o líder comunista, é necessário contratar mais profissionais de saúde, que estão em falta, como verificou em Peniche.
Já a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considerou esta terça-feira “um mau início de conversa” as medidas orçamentais anunciadas por António Costa para combater a precariedade, criticando a apresentação como definitivas de “matérias que sabe que a esquerda não pode aceitar”.
“Nós estaremos sempre a conversar e a ver soluções, mas, como eu repito sempre, as negociações fazem-se à mesa”, respondeu Catarina Martins aos jornalistas, à margem de uma visita à Feira do Livro de Lisboa, quando questionada sobre se já há reuniões marcadas com o Governo para esta semana para a negociação do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022).
Interrogada sobre as medidas anunciadas pelo líder do PS e primeiro-ministro, António Costa, no congresso socialista do passado fim-de-semana, a líder do BE referiu que “a recuperação do país e o investimento tem de ter alguma consequência nos salários, nas condições concretas de vida das pessoas”, motivo pelo qual “as condições do trabalho são tão importantes”.
“É por isso que dizer às pessoas, principalmente às gerações mais jovens e precárias, que elas estão condenadas ao outsourcing ou a vincular com uma empresa de trabalho temporário, é dizer que haverá sempre um intermediário que vai ficar com o salário delas e que estão completamente desprotegidas, portanto é um mau início de conversa”, criticou.
De acordo com Catarina Martins, “nas propostas do Governo não há um início de conversa sobre esta reivindicação tão simples que é que as pessoas tenham direito a um contrato com a entidade para a qual verdadeiramente trabalham”.
“Julgo que [António Costa] apresenta como definitivas matérias que sabe que a esquerda não pode aceitar porque significam a precarização contínua de várias gerações (…) e o que nós queremos é soluções para recuperação do país. Um bom início de conversa é nós reconhecermos que gerações qualificadas têm de ter direito a contratos qualificados”, defendeu.
Perante a insistência dos jornalistas para saber a data das reuniões sobre o OE 2022, a líder do BE afirmou que têm “vindo sempre a conversar”.
“Já me reuni muitas vezes com o primeiro-ministro, sim. A propósito de muitos assuntos, incluindo o orçamento”, respondeu.
A líder bloquista reiterou a “muita disponibilidade” para negociar, mas mantendo as preocupações sobre “a saúde, a transparência, o sistema financeiro”.
“E esta condição básica: pensões dignas e acesso à reforma para quem trabalhou toda uma vida, descongelamentos para quem tem salários congelados há décadas e que os trabalhadores precários, que não têm nenhum vínculo, possam ter direitos de trabalho como qualquer outro trabalhador”, apontou.
ZAP // Lusa