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Mutação de coronavírus pode ter tido origem em Espanha (e isso pode explicar a segunda vaga)

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Maxim Shipenkov / EPA

Análises realizadas pela Universidade de Basileia, a Escola Politécnica Federal de Zurique e o consórcio espanhol SeqCovid-Spain, liderado pelo Conselho Superior de Investigação Científica, mostram que a nova variante se espalhou pela Europa e outras regiões nos últimos meses a partir de Espanha.

O SARS-CoV-2, causador da pandemia de covid-19, tem centenas de mutações, mas uma das mais presentes atualmente na segunda vaga, que se vive atualmente na Europa, ocorreu primeiro em Espanha. Esta é uma conclusão de cientistas espanhóis e suíços num estudo divulgado esta quinta-feira.

O abrandamento das restrições de viagens no verão e o facto de Espanha ser um importante destino turístico facilitaram a expansão desta variante do genoma do vírus, segundo um comunicado da Universidade de Basileia.

“Só na Europa, há centenas de variantes do novo coronavírus a circular, com mutações nos genomas, mas muito poucas se disseminaram com tanto êxito e se revelaram tão persistentes como esta”, de acordo com a informação divulgada pelo centro.

Os investigadores afirmaram que o surgimento em Espanha, durante os meses estivais, pode estar ligado a um “evento superpropagador ligado aos trabalhadores agrícolas no noroeste espanhol” e que se expandiu por toda a Espanha e uma dezena de países europeus.

Os peritos batizaram esta mutação de “20A.EU1” e os testes detetaram-na em cerca de 80% das amostras analisadas em Espanha, cerca de 90% no Reino Unido e entre 30% a 40% das estudadas na Suíça e Países Baixos.

Também foi encontrada em amostras de França, Bélgica, Alemanha, Itália, Letónia, Noruega e Suécia e mesmo fora da Europa, em análises de casos registados em Hong Kong e na Nova Zelândia.

A professora da Universidade de Basileia Emma Hodcroft, autora principal do estudo, defendeu que nada indica que esta variante do coronavírus seja mais contagiosa do que as outras, mas que a sua transmissão pode dever-se a um abrandamento das medidas preventivas no verão.

Iñaki Comas, coautor do estudo e diretor da SeqCovid-Spain, acrescentou que as linhas desta mutação são semelhantes a outras identificadas em anteriores estudos, durante a primavera. “Uma variante (do vírus), ajudada por um evento superpropagador, pode rapidamente prevalecer por todo um país“, sublinhou Comas, citado no comunicado da universidade suíça.

Os especialistas advertiram que não há indicações de a variante identificada ser mais perigosa do que as outras, ou que tenha um comportamento distinto, nem mesmo de ser a única a prevalecer na segunda vaga, em que outras mutações foram identificadas.

Também pediram cautela na hora de vincular diretamente a mutação ao forte aumento de casos na Europa e frisaram que em alguns países do continente que agora registam altas taxas de contágio, como França ou Bélgica, não é a variação predominante.

Insistiram, sim, que a descoberta poderá dar mais informação sobre a eficácia das políticas de transporte aplicadas pelos países europeus este verão, após a redução de casos da primeira vaga.

“O fecho de fronteiras de longa duração e as fortes restrições às viagens não são desejáveis, mas com a expansão da 20A.EU1 parece claro que as medidas tomadas foram insuficientes para deter os contágios de novas variantes”, concluiu Hodcroft.

A mutação foi detetada primeiro em análises de sequências realizadas na Suíça, usando a plataforma Nextstrain, desenvolvida pela Universidade de Basileia e pelo Centro de Investigação Oncológica Fred Hutchinson, de Seattle (EEUU).

Esta plataforma, criada em 2015, permite um rastreio em tempo real de patogénios mediante sequenciação genética, e já foi utilizada anteriormente para analisar a expansão de vírus como o zika, o ébola e os da gripe.

O estudo hispano suíço não foi ainda publicado em revista científicas, mas foi na rede especializada medRxiv, um arquivo de manuscritos médicos ainda não revistos por outros cientistas, que está ligada à norte-americana Univers.

ZAP // Lusa

 

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