O fundador da Tesla e SpaceX é cliente habitual do Twitter, onde os seus posts lançam invariavelmente controvérsia. Desta vez, apresentou um “Plano de Paz para a Ucrânia” em quatro pontos— e desafiou os seus seguidores a votar o plano numa sondagem.
Elon Musk, o visionário fundador (entre outras empresas icónicas) da Tesla e SpaceX, é presença habitual no Twitter, que chegou a anunciar querer comprar, e os seus posts geram habitualmente controvérsia.
Desta vez, as ondas do choque do seu mais recente tweet extravasaram o âmbito dos fãs nas redes sociais e chegaram a políticos e diplomatas russos e ucranianos — e até a um par de presidentes da república, conta o Washington Post.
Esta segunda-feira, no mesmo dia em que o parlamento russo votava a formalização da anexação das regiões ocupadas pela Rússia na Ucrânia, Musk lançou um “Plano de Paz em quatro pontos” para por fim à guerra no país.
O primeiro ponto do plano de Musk é razoavelmente pacífico (exceto para os russos): “Repetir os referendos nas regiões anexadas, sob supervisão da ONU, e a Rússia abandona os territórios — se for essa a vontade do povo”.
O segundo ponto do plano para por fim ao conflito é bastante mais controverso: “A Crimeia passa formalmente a fazer parte da Rússia, como era desde 1783 (até ao disparate de Khrushchev)”.
Neste ponto, Musk replica uma versão seletiva da História, alinhando o discurso com o de Putin e ignorando que no Memorando de Budapeste, em 1994, a Rússia aceitou respeitar integralmente o território da Ucrânia, incluindo a Crimeia” (anexada pela Rússia em 2014).
Nos dois últimos pontos, Musk sugere que “a Ucrânia se mantenha neutral” e que “o fornecimento de água à Crimeia seja garantido“.
“Este plano será provavelmente o resultado final desta guerra“, diz Musk. “Resta saber quantas mais pessoas vão morrer até lá“.
O tweet de Musk não tardou a captar a atenção de milhares de utilizadores — e chegou aos mais altos níveis dos canais diplomáticos dos países envolvidos.
Ao início da manhã desta segunda-feira, a sondagem já tinha mais de 1.6 milhões de votos. O “não” ao Plano de Paz ganhava, com 63% contra 37% do sim.
A publicação de Musk recebeu rapidamente inúmeras respostas — algumas das quais de personalidades de relevo.
A conta oficial do Parlamento da Ucrânia no Twitter deu uma resposta simples, com apenas uma palavra. “Não“.
O embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andrij Melnyk, deu uma resposta peculiar: “Vai-te f**** é a minha resposta muito diplomática, @elonmusk“.
E até o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensk, entrou na discussão, lançando no Twitter a sua própria sondagem: “Qual @elonmusk gostam mais? Duas respostas: o Musk que apoia a Ucrânia. o Musk que apoia a Rússia“.
Sem surpresa, a primeira opção ganhava com larga vantagem.
Mas perante a avalanche de reações adversas, Musk voltou ao Twitter e refinou a sua sondagem. “Vamos experimentar isto“, propôs. “A vontade das pessoas que vivem no Dombass e na Crimeia deve decidir se fazem parte da Ucrânia e da Rússia: sim / não.”
O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, não tardou a apresentar uma poderosa resposta: “Caro @elonmusk, quando alguém rouba os pneus de um dos seus Tesla, isso não torna o ladrão proprietário nem do Tesla nem dos pneus”.
O perfil oficial do jornal ucraniano Kyiv Post respondeu também à peculiar proposta de Musk: “Não se vota sobre o Apartheid e Nelson Mandela“.
Numa das poucas reações positivas ao tweet, o canal de notícias russo RT, próximo do Kremlin, comentou a sondagem: “Elon Musk propõe uma solução para o conflito na Ucrânia“.
“É um mau sinal, Elon“, comentou o Kyiv Post.
O próprio Dmitry Medvedev, antigo presidente, ex-primeiro ministro e atual vice-presidente da Rússia, comentou o post de Musk.
“Parabéns a @elonmusk. No entanto, o elusivo agente perdeu a máscara. O seu próximo tweet será algo como ‘a Ucrânia é um estado artificial’. Adivinhando…“, diz Medvedev.
A resposta mais direta a Musk veio de Ruslan Stefanchuk, presidente do Parlamento da Ucrânia, que propôs no Telegram o seu próprio e muito peculiar Plano de Paz, também em quatro pontos:
- A Rússia retira da Ucrânia e para de matar civis ucranianos.
- Moscovo é vendida à China e desaparece da face da Terra, como era desde 1147 (até ao disparate de Yuri Dolgorukiy)
- A Rússia paga compensações à Ucrânia por tudo o que fez
- A Ucrânia torna-se membro da NATO
Elon Musk tem tido um papel interessante ao longo de todo o conflito da Ucrânia.
Pouco após a invasão russa, a pedido do vice-primeiro-ministro ucraniano, Musk anunciou que iria enviar equipamento da sua Starlink para a Ucrânia, assegurando assim em todo o país “o melhor e mais resistente” serviço de internet.
A Starlink tem mesmo tido um papel importante na resistência à invasão russa, tendo os seus satélites ajudado os drones ucranianos a atingir e destruir tanques russos.
Em março, Musk desafiou Putin para uma luta pelo futuro da Ucrânia. “Desafio por este meio Vladimir Putin a um combate único. A aposta é a Ucrânia“, publicou então no Twitter. “Esou a falar absolutamente a sério“.
Se o impacto da Starlink no conflito teve um papel importante e inegável no desenrolar do conflito na Ucrânia, a verdade é que ninguém levou a sério o seu plano para lhe por fim com um combate com Putin.
Nem, aparentemente, o seu peculiar Plano de Paz em quatro pontos.
Musk, no meio de uma Guerra ou se está de um lado ou se está do outro. Se ficar no meio, em cima do muro a defender a PAZ, o mais certo é apanhar um balásio e ser cilindrado.
Perdoe-me a correção mas a esperança dos que ficam em cima do muro e acendem uma vela a Deus e outra ao diabo é, numa palavra: Enriquecer!
Foi o que Portugal fez na 2ª Guerra mundial em que (pese embora algumas nuances importantes) fazia comércio com ambos os lados .