Em outubro de 2020, Elisângela Neves, de 31 anos, foi infetada com covid-19 quase morreu. A mulher estava grávida de 27 semanas, mas precisou de ser ventilada e ligada a uma máquina que respirou por ela. Uma cesariana de risco salvou-a e ao bebé, transformando-os num caso muito raro, agora objeto de estudo científico.
Tudo começou quando um amigo com febre pediu que Adalberto Neves, que lhe levasse medicamentos a casa. O companheiro de Elisângela foi sem máscara e voltou infetado, sem saber. Já em casa, passou a doença à mulher grávida e à sogra, conta o Expresso.
Nos dias seguintes, como a febre de Elisângela não baixava, foram ao Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, mas a unidade estava lotada. Voltaram para casa, para regressarem no dia seguinte, pois a grávida não apresentava melhorias.
Transferida para o Hospital de Santa Maria, Elisângela foi recebida por uma equipa que se reuniu para a salvar. Cerca de 20 profissionais de saúde, entre os quais anestesistas, enfermeiros e perfusionistas dedicaram-se durante quase um mês ao caso.
“Foi um caso particularmente desafiante, não devido à pandemia, mas pela forma grave e refratária da doença nesta paciente e pela sua necessidade de um suporte adicional de ECMO, ainda por cima numa mulher grávida”, resume o médico Gustavo Jesus.
“Na altura em que Elisângela chegou, não havia na literatura internacional outros exemplos semelhantes”, refere José Trindade Nave. Hoje são conhecidos cerca de 50 casos.
Os problemas da abordagem terapêutica eram imensos devido à condição de Elisângela. “Foi extraordinariamente difícil”, assume o especialista Pedro Gaspar.
Quase duas semanas depois de dar entrada no hospital, o agravamento da situação de Elisângela, acelerou a decisão de realizar a cesariana, ainda com a doente ventilada e em coma.
O transporte da grávida em estado crítico para uma sala de partos, com um espaço de reanimação dos recém-nascidos ao lado, foi essencial para o desfecho positivo. Para a transferir foi necessária cerca de hora e meia de preparação.
“A doente estava instável e atravessava uma fase muito grave da doença, tinha sepsis e tendência a desenvolver hemorragias, o que nos exigia cuidados adicionais. Poderia ter acontecido o pior na mesa cirúrgica”, explica Mónica Centeno, a obstetra que realizou a cesariana.
Depois de nascer, o bebé, que pesava apenas 1040 gramas, precisou de ser reanimado. Foi entubado e ventilado, mas passadas 24 horas já respirava sozinho. Ao fim de um dia de vida foi-lhe feito um teste covid e o resultado foi negativo.
Após o episódio feliz, durante algumas semanas, a vida de Elisângela continuou em risco, até que começou a recuperar. Quanto ficou consciente tinha à sua volta fotografias do filho, mas faltava-lhe a barriga de grávida. “Fiquei desesperada.” Porém, com o tempo foi-lhe explicado o que se tinha passado.
Esta semana, Elisângela, Adalberto e o pequeno bebé, agora com cerca de dois quilos, foram finalmente para casa. Segundo os médicos, tudo indica que nem mãe nem filho terão sequelas.
A história do “milagre” será contada num artigo científico.
Parabéns à equipa médica que conseguiu tal milagre. Enquanto alguns se insultam e maltratam, nos vários meios de comunicação, a pretexto de querem o melhor para os portugueses há outros que, na sombra, longe dos holofotes da política, mas sob os holofotes da ciência tratam, com o coração nas mãos, verdadeiramente, da saúde dos portugueses. Bem ajam!!
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