Cientistas desmentem “cratera de impacto mais antiga da Terra”

Aaron Cavosie

A descoberta de uma antiga cratera de impacto de meteorito foi recentemente reportada na remota região de Pilbara, no oeste da Austrália. O estudo original, feito por um grupo diferente, fez manchetes com a afirmação de que a cratera se formou há 3,5 mil milhões de anos. Se fosse verdade, seria de longe a mais antiga da Terra.

Uma nova equipa de investigação, a explorar o mesmo local diz que, embora concorde que este é o local de um antigo impacto de meteorito, chegou a conclusões diferentes sobre a sua idade, tamanho e significado. Estes resultados foram publicados na Science Advances.

Uma cratera de impacto, duas versões dos acontecimentos

Segundo o Science Alert, os cientistas planetários procuram impactos antigos para aprender sobre a formação inicial da Terra.

Até agora, ninguém encontrou uma cratera de impacto mais antiga do que a estrutura de Yarrabubba, com 2,23 mil milhões de anos, também na Austrália. (Alguns dos autores de ambos os estudos de Pilbara de 2025 foram coautores do estudo de Yarrabubba de 2020.)

O novo candidato está localizado numa área chamada North Pole Dome. Trata-se de uma paisagem árida, quente, manchada de ocre.

O primeiro relatório sobre a nova cratera afirmou que se formou há 3,5 mil milhões de anos e tinha mais de 100 quilómetros de diâmetro. Foi proposto que um impacto tão grande poderia ter desempenhado um papel na formação da crosta continental na Pilbara. Os investigadores também sugeriram que poderia ter influenciado a vida primitiva.

A nova equipa também determinou que a cratera era muito menor — cerca de 16 km de diâmetro. Segundo estes investigadores, este impacto foi demasiado jovem e pequeno para ter influenciado a formação dos continentes ou a vida primitiva.

Como é que dois estudos podem chegar a conclusões tão diferentes?

A cratera originalmente circular está profundamente erodida, deixando apenas indícios subtis na paisagem. Contudo, entre os basaltos cor de ferrugem existem sinais únicos e reveladores de impacto de meteorito: cones de fratura.

Os cones de fratura são impressões fossilizadas distintas de ondas de choque que passaram pelas rochas. As suas formas cónicas únicas formam-se sob pressões breves mas imensas, onde um meteorito atinge a Terra.

Ambos os estudos encontraram cones de fratura e concordam que o local é um impacto antigo. O novo estudo conclui que o impacto aconteceu na verdade muito mais tarde, em algum momento depois de 2,7 mil milhões de anos. Isto é, pelo menos, 800 milhões de anos mais jovem do que a estimativa anterior.

Esta nova cratera também precisava de um nome. A nova equipa consultou os aborígenes locais, os Nyamal, que partilharam o nome tradicional para este lugar e seu povo: Miralga. O nome “estrutura de impacto de Miralga” reconhece esta herança.

A idade do impacto foi estimada por observações de campo, uma vez que nenhum dos estudos encontrou material que pudesse fornecer uma idade de impacto por datação radiométrica – um método que usa medições de isótopos radioativos.

Ambos os estudos aplicaram um princípio geológico chamado lei da superposição, que afirma que as camadas de rocha se depositam umas sobre as outras ao longo do tempo, pelo que as rochas no topo são mais jovens do que as abaixo.

O primeiro grupo encontrou cones de fratura dentro e abaixo de uma camada sedimentar que se sabe ter sido depositada há 3,47 mil milhões de anos, mas não encontrou cones em rochas mais jovens acima dessa camada, o que significava que o impacto ocorreu durante a deposição da camada sedimentar.

A sua observação parecia ser a “prova irrefutável” para um impacto há 3,47 mil milhões de anos. Como se viu, havia mais para a história.

A nova investigação encontrou cones de fratura nas mesmas rochas de 3,47 mil milhões de anos, mas também em rochas mais jovens que as cobriam, incluindo lavas que se sabe terem erupcionado há 2,77 mil milhões de anos.

O impacto teve de ocorrer depois da formação das rochas mais jovens que continham cones de fratura, ou seja, algum tempo depois das lavas de 2,77 mil milhões de anos.

De momento, não a recente equipa não sabe exatamente quão jovem é a cratera. Os investigadores dizem que só podem limitar o impacto a ter ocorrido entre 2,7 mil milhões e 400 milhões de anos atrás. “Estamos a trabalhar para datar o impacto por métodos isotópicos, mas estes resultados ainda não estão disponíveis”, afirmam.

“Fizemos o primeiro mapa mostrando onde se encontram os cones de fratura. Existem centenas numa área de 6 km de diâmetro. A partir deste mapa e das suas orientações, calculámos que a cratera original tinha cerca de 16 km de diâmetro. Uma cratera de 16 km é muito diferente da estimativa original de mais de 100 km. É demasiado pequena para ter influenciado a formação dos continentes ou da vida. Na altura do impacto, a Pilbara já era bastante antiga”.

Uma nova ligação a Marte

A ciência é um desporto auto-regulado. As reivindicações de descobertas baseiam-se nos dados disponíveis na altura, mas muitas vezes requerem modificações baseadas em novos dados ou observações.

Embora não seja a mais antiga do mundo, o impacto de Miralga é cientificamente único, uma vez que crateras formadas em basalto são raras. A maioria dos basaltos ali formados tem 3,47 mil milhões de anos, o que faz delas as rochas alvo mais antigas conhecidas que sofreram choque.

Antes do impacto, estes basaltos antigos tinham sido quimicamente alterados pela água do mar. As rochas sedimentares próximas também contêm os fósseis mais antigos bem estabelecidos da Terra. Rochas assim provavelmente cobriam grande parte da Terra primitiva e de Marte.

Isto torna a estrutura de impacto de Miralga um terreno de treino para cientistas planetários que estudam a superfície caraterizada (e talvez a vida primitiva) de Marte. É um local facilmente acessível para testar instrumentos e imagens de exploração de Marte, mesmo aqui na Terra.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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