“Não tenho de ir a correr só porque houve um problema”, considera o primeiro-ministro, que garante não ter prevista qualquer visita aos bairros após os desacatos desencadeados pela morte de Odair Moniz.
O primeiro-ministro afirmou esta terça-feira não ter prevista qualquer visita aos bairros onde houve desacatos e recusou ser “daqueles políticos que, perante um problema, vai a correr engendrar um plano”.
Luís Montenegro foi questionado pelos jornalistas sobre as críticas do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, de ainda não ter visitado os locais da Grande Lisboa onde ocorreram distúrbios na sequência da morte de Odair Moniz, baleado mortalmente por um polícia na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura.
“Podem-me fazer muitas críticas e seguramente não faltarão motivos que suscitem, nomeadamente por parte da oposição, algum comentário. Agora, dificuldades em andar no terreno é que, sinceramente, eu não compreendo muito bem. Modéstia à parte, creio que não há político no ativo — e se calhar mesmo fora do ativo — que possa ter estado, como eu estive, nos 308 municípios do país“, começou por dizer o primeiro-ministro.
Questionado se o Governo esperará por ter um plano para apresentar aos moradores destes bairros antes de os visitar — como esta terça-feira sugeriu o Presidente da República, o primeiro-ministro respondeu: “Com franqueza, não sou daqueles políticos — peço desculpa se for um defeito — que, perante um problema, vão a correr apresentar um plano“.
“Não, o plano já está em execução e está em execução desde o primeiro dia do Governo”, garantiu, referindo-se a medidas na área da educação ou saúde públicas, na habitação e ao encontro que membros do executivo já tiveram com diversas associações de representantes desses bairros.
Sobre uma eventual visita ao terreno, esclareceu: “Eu neste momento não tenho essa visita prevista, nem sinto que haja nenhuma questão com isso. Eu vou repetir outra vez: eu não sou daqueles políticos que perante um problema vai a correr engendrar um plano”.
“Ainda há um ano estive lá a comer cachupa”
Montenegro disse ter sido informado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de que iria fazer uma visita a alguns desses bairros.
“Eu tive ocasião de lhe dizer que achava muito bem que ele o fizesse, não há mais questão”, afirmou, dizendo também não ver qualquer problema na deslocação de Pedro Nuno Santos.
E acrescentou: “Eu ainda há um ano estive na Cova da Moura a comer uma cachupa com um cidadão, não é diferente, o contexto é exatamente o mesmo, há um ano atrás já havia problemas sociais, há um ano atrás já havia conflitualidade entre forças de segurança e cidadãos dos bairros”, considerou.
Montenegro defendeu que o plano do Governo para Portugal já “integra as pessoas que vivem em situações mais precárias do ponto de vista da habitação e que tenham mais dificuldade no seu dia-a-dia para arranjar um emprego, para pôr os seus filhos na escola, para poder ter um atendimento num serviço de saúde”.
“Nós estamos a trabalhar nisso e vamos continuar a trabalhar, com certeza que também estamos a trabalhar com as pessoas que vivem nestes bairros e que expressaram a sua indignação recentemente. Por isso falámos com elas, por isso falámos com os representantes das respetivas associações e vamos continuar a falar, só que não acho com franqueza que ajude ao debate que tenhamos que ir à pressa fazer um plano só porque houve um problema”, reiterou.
O primeiro-ministro insistiu que o Governo irá apostar no reforço do “policiamento nas ruas” e de “equipas multidisciplinares que possam ter capacidade de prevenção e repressão de fenómenos criminais mais violentos”.
“Eu já o tinha dito antes de isto ter acontecido, e portanto vamos continuar esse caminho, vamos continuar o caminho de dar a todos os cidadãos serviços públicos eficientes, capacidade de mobilidade, melhores empregos, melhores salários, melhores habitações, para que todos tenham uma vida digna”, prometeu.
O primeiro-ministro reforçou ainda a ideia de que é preciso garantir que os fenómenos de violência que se seguiram à morte de Odair Moniz “não se repitam, porque retiraram tranquilidade às pessoas que vivem naqueles bairros, retiraram a ordem pública de uma forma geral aos cidadãos das zonas adjacentes”.
“Eu não estou com isto a diminuir aquilo que aconteceu, o que eu estou com isto a dizer aos portugueses é que nós não passámos a ser um país inseguro. Nós somos um país seguro“, vincou.
ZAP // Lusa