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Pico na primeira semana de fevereiro. Mesmo confinando, modelo prevê 1.154 doentes em UCI

Giuseppe Lami / EPA

Portugal deverá ter 1.154 doentes internados em cuidados intensivos na primeira semana de fevereiro, mesmo com um confinamento igual ao de março, avança um modelo da NOVA Information Management School (IMS).

De acordo com o modelo da IMS, o número de doentes internados em cuidados intensivos deverá duplicar até à primeira semana de fevereiro.

Segundo o jornal Público, ainda que o país feche tudo como na “primeira vaga”, e que os cidadãos adotem os mesmos comportamentos, o modelo antecipa um pico de 1.154 doentes em cuidados intensivos na primeira semana de fevereiro.

Este é um cenário preocupante dada a pressão sobre o SNS, uma vez que a taxa de mortalidade entre os doentes que vão para cuidados intensivos tem vindo a subir.

Num dos cenários indicados pelo modelo, a quebra da taxa de transmissibilidade obtida com o confinamento equivaleria a 90% do que foi conseguido em março – contudo, isto requer o uso generalizado de máscaras e medidas de distanciamento social e desinfeção das mãos.

Neste cenário, o pico de novos casos diários rondaria os 10.500 (alcançado por estes dias) e a 7 de fevereiro a incidência poderia cair para os 4.407 novos casos a cada dia.

No entanto, mesmo assim, o impacto sobre o número de internamentos teria o habitual atraso – a estimativa é de que se atingiriam os 6.710 internados, dos quais 1.154 em UCI. Portugal tinha, à meia-noite desta segunda-feira, 5.291 internados e 670 pessoas em cuidados intensivos.

No caso de uma quebra de transmissibilidade menos eficaz, de 60% (em relação ao que foi obtido em março), então o pico de novos casos seria alcançado entre 21 e 23 de janeiro, com cerca de 11 mil novos casos por dia. Aí, a incidência seria de 6.505 novos casos a 7 de fevereiro, com 7.446 doentes covid internados, dos quais 1.193 em cuidados intensivos.

Já num cenário em que o confinamento é ainda menos eficaz, 30%, o valor mais elevado de novas infeções seria de cerca de 12.500 novos casos (entre dia 28 e 30), com uma incidência de 11.730 novos casos e 8.705 doentes internados e 1.247 em estado crítico – um pico que seria atingido a 7 de fevereiro.

“É um tsunami”

O serviço de urgência do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, está em rutura. A confirmação é dada ao Expresso por dois profissionais de saúde daquele espaço. Os que têm chegado àquela unidade são maioritariamente doentes covid-19.

Os turnos estão maiores, os médicos e enfermeiros estão exaustos e há baixas entre eles, infetados ou com a necessidade de isolamento. Há falta de macas e há ambulâncias a ficarem bloqueadas por isso.

Atualmente, o hospital tem ocupadas, nas unidades de cuidados intensivos, 20 camas para doentes covid e outras seis para doentes não covid. Só entra quem tem possibilidade de sobreviver, mas o cuidado de saúde está a atuar cada vez mais tarde, por isso os doentes vão chegando em pior estado. Nesta altura já se começam a fazer escolhas.

A idade média dos doentes críticos que por lá passaram, ou que ainda lá permanecem, está entre os 58 e os 62 anos. O doente crítico mais novo tinha 22 anos, o mais idoso pouco mais de 85.

Para além da falta de espaço e de pessoal, há carência de macas. E isto promove um problema: as ambulâncias que levam os doentes, que não podem abandonar sem a sua maca, têm de esperar pelo escoamento do serviço, pelo que ficam ali imobilizadas, indisponíveis para irem buscar outros doentes com outras patologias.

“Muitas vezes não temos sítio onde deitar os doentes. Não somos só nós, atenção, está a acontecer noutros sítios também. O doente está na ambulância porque não há uma maca onde o deitar. É um problema com que nos estamos a debater”, explica Meneses Oliveira, médico intensivista, ao Expresso.

Enfermeiros isentos de responsabilidade no tratamento de doentes

A Ordem dos Enfermeiros disponibilizou uma “declaração de exclusão de responsabilidade” a todos os enfermeiros para acautelar eventuais ações disciplinares, civis ou mesmo criminais dos doentes a seu cargo, nas circunstâncias que se vivem com a pandemia.

“No âmbito da atual crise pandémica, com os hospitais em situação de catástrofe, as equipas de enfermeiros abaixo das dotações recomendadas (no regulamento 743/2019 de 25 de setembro) não se encontram em condições de garantir a prestação de cuidados em segurança e com qualidade, nem a vida das pessoas”.

“Não obstante estarem a desenvolver todos os esforços, os profissionais não conseguem chegar a todos”, alerta a Ordem dos Enfermeiros.

Face a esta situação, a Ordem disponibilizou uma declaração a todos os profissionais para acautelar a eventual responsabilidade disciplinar, civil ou mesmo criminal dos doentes a seu cargo.

Nesta declaração, que deverá ser enviada pelos enfermeiros que o pretendam aos conselhos de administração, “os profissionais reiteram que a dotação adequada é fundamental para salvaguardar o exercício profissional em segurança, o que manifestamente não se verifica atualmente, facto que apenas pode ser imputável à gestão da instituição e que, por si só, coloca em risco a prática adequada da profissão”, salienta.

Ana Moura, ZAP // Lusa

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