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Médicos de Saúde Pública defendem que processo de vacinação deve ser muito mais claro

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Christian Bruna / EPA

Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, defende que “as pessoas têm de ter noção, perceção, de quando é que é expectável que venham a ser vacinadas”.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública defendeu, esta quarta-feira, que o processo de distribuição e administração das vacinas contra a covid-19 deve ser muito mais transparente e claro. “As pessoas têm de ter noção, perceção, de quando é que é expectável que venham a ser vacinadas”, afirmou à Lusa Ricardo Mexia.

O médico exemplificou que “continua a haver um simulador que diz que grande parte dos portugueses vão ser vacinados em abril”. “Ora, isso não tem interação com a realidade, infelizmente. Gostávamos muito que fosse verdade, mas não é possível, porque não há vacinas para isso”, declarou.

Insistindo que “ser claro em relação ao momento e o modelo como as pessoas vão ser vacinadas é absolutamente fundamental”, o presidente da associação apontou, por outro lado, a necessidade de se evitar o ruído relativo às “situações de ultrapassagens, dos abusos que houve na administração das vacinas”, pois “prejudicam a confiança de toda a gente no processo”.

Ricardo Mexia referiu ainda a necessidade de se “ser claro em relação àquilo que são os grupos prioritários, ser claro em relação à forma como devem ser geridas, por exemplo, as eventuais sobras que surjam”, para que “toda a gente mantenha confiança no processo”.

Reconhecendo que a questão da vacinação tem um problema central, que é externo – “o ritmo de chegada das vacinas” -, o dirigente reconheceu que esta é uma situação que o país tem “alguma dificuldade em mudar”, mas se o puder fazer era, no seu entender, uma “boa aposta”.

“Contra isso podemos, eventualmente, encontrar outras soluções, contratar outras vacinas que estejam disponíveis no mercado, sabendo que é um mercado global, extremamente competitivo”, disse.

Ricardo Mexia adiantou que “Portugal goza, felizmente, de uma grande confiança nas vacinas, aliás é um país ímpar na Europa” nesta matéria.

“Eu acredito que há um bom ambiente para implementar a vacinação, agora se eles não confiam no processo de administração das vacinas porque veem todos os dias que a situação se complica por diversas razões”, como o ruído que “se quer introduzir no sistema, naturalmente, que isso também compromete alguma da sua confiança”, afirmou, dizendo esperar que “isto não leve a que haja pessoas a equacionar a possibilidade de, quando chegar a sua vez, não se vacinarem”.

“É fundamental que todas as pessoas se vacinem quanto tiverem essa oportunidade”, apelou.

Sobre o desconfinamento do país, Mexia defendeu que deve ser regrado e disciplinado, defendendo que não deve ser precipitado e comprometer o esforço feito no combate à pandemia de covid-19.

“Eu percebo a implicação económica e social tremenda que tudo isto tem, mas não podemos novamente ser precipitados na nossa abordagem e, dessa forma, comprometer aquilo que foi o esforço que fizemos, designadamente com muita dificuldade agora em janeiro”, disse à Lusa o presidente da associação.

A este propósito, o médico acrescentou: “Tenho muito receio que agora, com esta descida dos números, de repente passemos outra vez a ser os melhores do mundo e a querer reabrir tudo sem verdadeiramente ponderar essas implicações”.

Esperando que “haja ponderação” nesta matéria e que a comunicação “também seja clara” sobre os desafios que o país ainda enfrenta, Ricardo Mexia notou que “vacinar todos ainda está muto longe”, sendo que as diversas medidas de proteção vão manter-se “durante muito tempo”.

Questionado se um eventual desconfinamento tem de ser feito com conta peso e medida, Ricardo Mexia respondeu: “Precisamente, planear o desconfinamento e fazê-lo de forma regrada e disciplinada”.

ZAP // Lusa

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